25/06/2020 - 16:42
As perdas de estoque são altamente impactantes no setor varejista. Pesquisas nacionais traçam valores de perda na casa das dezenas de bilhões de reais no varejo brasileiro. Em muitos casos, as perdas podem ser equivalentes ao lucro do negócio e pode determinar se a empresa ficará no vermelho ou no azul.
Apesar disso, esse tema acaba sendo pouco atrativo, porém altamente espinhoso, pois apesar de afetar diretamente a rentabilidade das organizações, ele é considerado um efeito colateral da atividade e, em muitos casos, sem uma causa definida e um responsável para atribuir o problema, que é colocado em segundo plano em face do foco no crescimento da receita. Ou seja, vender a qualquer custo.
Porém, em momentos de pandemia em que o cenário impõe uma contração forçada da demanda e da operação, preservar caixa e rentabilidade passa a ser questão de sobrevivência. E neste cenário, a prevenção de perdas é uma ferramenta poderosa, tanto pela velocidade quanto pelo volume de resultado que pode ser atingido.
No varejo alimentar e farmacêutico, por exemplo, aproximadamente 65% a 70% das perdas são decorrentes de vencimento, avaria e perda das características de consumo dos produtos. Ou seja, são itens comprados e jogados fora antes de passar pela frente de caixa. Em outras palavras: desperdício. As perdas podem ocorrer por excesso de abastecimento, sortimento inadequado, precificação incorreta, compra mal realizada, armazenagem e exposição inapropriada e outras causas dispersas em várias áreas de negócio. Logo, para tratar esta linha de perdas de forma rápida e assertiva, é fundamental haver o trabalho conjunto das áreas com o foco na redução das perdas. E para isto, três desafios precisam ser superados.
Patrocínio genuíno da alta direção
As perdas devem ser pauta da presidência e da diretoria executiva e o tema precisa ser tratado com energia e foco. Os executivos devem ser os removedores de barreira, fomentando o trabalho em grupo, além de terem o dever de quebrar os silos e os interesses individuais, buscando com que todos colaborem entre si.
Foco em reduzir as perdas e não explicar o passado
É fundamental ter recursos com alto domínio do assunto e conhecimento do negócio. Isso porque as discussões geralmente tomam um caráter de justificativa dos problemas, que são jogados de colo em colo, enquanto as áreas seguem pedindo dados complementares e análises adicionais em uma espiral sem fim. Este modelo mental engessa a organização e não gera resultado nenhum. Hipóteses têm que ser traçadas e ações executadas rapidamente. Logo, a média gerência deve ter a capacidade de estruturar ações táticas sob comando de uma área de prevenção de perdas capaz de direcionar os caminhos a serem tomados.
Executar e agir
Por último e tão importante quanto os pontos acima, está a capacidade de executar as ações planejadas. Esta é a parte difícil, pois não basta apenas dizer que foi feito, mas fazer bem feito. Prevenir perdas exige capacidade de execução e, em muitos casos, agir contra interesses de curto prazo. Reduzir compras, reavaliar sortimento, redimensionar a exposição e o planograma, negociar caixas menores com os fornecedores são temas colocados em pauta e que vão de encontro à mentalidade de muitas áreas, que confrontam essas indicações. Mas são ações que devem ser tomadas para preservar a rentabilidade do negócio em um cenário como estamos passando.
Hoje há casos emblemáticos de varejistas de grande porte e, portanto, com processos mais complexos, que conseguiram estruturar rapidamente um grupo multidisciplinar, com forte patrocínio da presidência e conselho, buscando uma redução agressiva das perdas objetivando aumentar a rentabilidade da organização no cenário de pandemia.
Em apenas três meses de projeto foi possível reduzir milhões de reais em perdas, com incremento direto na margem líquida. Isso possibilitou dar fôlego para esta organização se manter, preservando empregos e o valor do negócio. Logo, reduzir perdas é um mecanismo eficaz e comprovado para as organizações varejistas, que podem obter ótimos resultados.
*Rodrigo Castro é diretor de riscos e performance na ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.