16/11/2020 - 16:50
O marroquino Ayoub El Khazzani embarcou em um trem Thalys, que viajava de Amsterdã a Paris, armado com uma kalachnikov e cerca de 300 munições. No primeiro dia de seu julgamento na capital francesa reconheceu que queria cometer um ataque em massa, mas depois se retratou.
“Você admite todos os fatos pelos quais é acusado?”, perguntou o presidente do tribunal especial no início do julgamento. “Sim, todos”, respondeu Ayoub El Khazzani, 31 anos.
Duas horas mais tarde, o réu mudou de versão. “Não foi para cometer um massacre, foi para os soldados americanos”, disse ele, provocando a irritação do presidente do tribunal.
No primeiro dia do julgamento do caso, que inspirou um filme dirigido por Clint Eastwood em 2018, o presidente descreveu em detalhes o que aconteceu em 21 de agosto de 2015.
Também relatou a preparação do ataque, a mando do coordenador dos atentados de Paris em 13 de novembro do mesmo ano (130 mortos), Abdelhamid Abaaoud, com quem Khazzani chegou à Europa, depois de passar pela Turquia.
Khazzani, que embarcou no trem em Bruxelas, saiu do banheiro, sem camisa e com uma kalachnikov. Antes, verificou se a câmera de seu telefone funcionava para transmitir o ataque em vídeo, um pedido de Abaaoud.
Ele atirou em um passageiro, que conseguiu tomar sua kalachnikov, ferindo-se gravemente. O agressor foi detido pelos demais passageiros, entre eles, dois militares americanos que estavam de férias na Europa.
Khazzani afirmou aos investigadores que seu alvo eram os soldados americanos e disse que sabia que eles eram militares, embora estivessem vestidos com roupas civis.
– “Estava em outro mundo” –
A pedido do juiz, Khazzani também falou sobre sua infância. Ele cresceu em uma família de seis irmãos no Marrocos, antes de emigrar para a Espanha.
Aos 18 anos vendia drogas em Madrid e foi preso várias vezes. Pouco depois, descobriu a religião, por meio de um de seus irmãos, que foi expulso da Espanha por “declarações virulentas contra o Ocidente”, disse o presidente.
O jovem chegou à França em 2014 e um ano depois decidiu ir à Síria para ingressar no grupo jihadista Estado Islâmico (EI). Durante o interrogatório, mudou sua versão diversas vezes. “Por que mentiu?”, perguntou o presidente. “Eu estava em outro mundo, menti sobre tudo”, respondeu.
Segundo os investigadores, a ação frustrada no trem da empresa Thalys faz parte de uma série de atentados jihadistas planejados a partir da Síria e coordenados por Abaouud.
Entre eles, figura o ataque fracassado a uma igreja em Villejuif, um subúrbio ao sul de Paris, em abril de 2015 por Sid-Ahmed Ghlam, recentemente condenado à prisão perpétua. Também fazem parte desta lita os atentados de novembro do mesmo ano em Paris e os de 22 de março de 2016 em Bruxelas.
Os soldados americanos, agora com 28 anos, vão ser ouvidos a partir de quinta-feira. Os ex-militares foram homenageados como heróis e desempenharam seu próprios papeis no filme de Eastwood.
O julgamento, que deve durar até 17 de dezembro, começou sob forte ameaça terrorista na França, após três ataques consecutivos em um mês.