01/08/2017 - 8:00
Apesar de ser pioneiro em seu mercado, o eBay nunca alcançou o status de principal plataforma de varejo de importados no Brasil. Além disso, viu, nos últimos anos, o AliExpress, da chinesa Alibaba, ocupar o espaço que o eBay almejava quando iniciou suas operações no País, em 2014. Agora, após a decisão da matriz de colocar à venda a participação na argentina Mercado Livre, a gigante americana depende de suas próprias forças para ganhar terreno.
Segundo Jason Harvey, líder de marketing do eBay para a América Latina, a empresa demorou a investir no Brasil e isso limitou, ao menos até aqui, a penetração da marca no cotidiano dos consumidores brasileiros. Seus principais concorrentes, em sua visão, percorreram essa trilha mais cedo e conseguiram a visibilidade que o eBay está perseguindo. O caminho, no entanto, será tortuoso e cheio de solavancos. Altas taxas de importação e custos de envio são os principais empecilhos. Por outro lado, Harvey acredita que o mercado eletrônico brasileiro está em crescimento e representa uma grande oportunidade para a empresa. Confira a entrevista:
DINHEIRO – O eBay iniciou suas operações no Brasil em 2014. Desde então, o que o eBay aprendeu sobre o mercado eletrônico brasileiro?
JASON HARVEY – O Brasil é um país grande e complexo, o que torna difícil identificar os aprendizados fundamentais, tendo em vista o período econômico e político tumultuoso nos últimos anos. Como um negócio transfronteiriço, o eBay é afetado significativamente por flutuações cambiais, instabilidade econômica e regulamentos de importação. A empresa conseguiu mitigar muitas dessas forças externas, oferecendo uma variedade de itens de múltiplos países em todo o mundo. Isso garante que sempre haverá demanda por diferentes necessidades e compradores. Por exemplo, durante a recessão, vimos uma mudança na demanda de itens com preços mais altos dos Estados Unidos para itens com preços mais baixos da Ásia. Isso destaca a diversidade de produtos que o eBay pode oferecer aos consumidores brasileiros.
DINHEIRO – Que obstáculos o eBay precisa ganhar para explodir no Brasil? A burocracia brasileira entra no caminho? E quanto aos custos de envio?
HARVEY – Os principais obstáculos para o eBay são restrições de importação e custos de envio em todo o mundo. A taxa de importação para o Brasil é de 60%, o que às vezes pode ser muito significativo para conseguir conquistar alguns compradores. Além disso, o custo de envio de itens específicos de todo o mundo pode impedir que alguns compradores comprem. Finalmente, os prazos de entrega podem ser mais longos, dada a distância que muitos itens têm que viajar para chegar ao consumidor. Para aqueles que estão acostumados em comprar na AliExpress, eles estão familiarizados com o processo e, portanto, entendem essas questões. Para outros que só têm experiência com o segmento local, como Mercado Livre ou Americanas, eles terão expectativas diferentes e, portanto, podem não ter uma ótima experiência de compra. Uma vez que os compradores brasileiros percebem isso com o eBay, eles têm a oportunidade de comprar praticamente qualquer coisa de qualquer lugar do mundo a um ótimo preço, e sua satisfação aumenta significativamente.
DINHEIRO – Quais são os principais concorrentes do eBay no Brasil? Como o Sr. vê o crescimento do AliExpress?
HARVEY – O eBay tem uma série de concorrentes no Brasil. Competidores locais como Mercado Livre e Americanas são concorrentes chave em e-commerce, enquanto a AliExpress é um importante concorrente transfronteiriço. A AliExpress é um dos maiores concorrentes do eBay no Brasil para categorias-chave como moda e eletrônicos, porém, o eBay tem muitas mais categorias oferecidas ao mercado brasileiro. O eBay possui a maior variedade de peças e acessórios originários de vários países, não apenas da região asiática. O eBay está bem posicionado para oferecer novos produtos e produtos de segunda mão de todo o mundo.
DINHEIRO – Por que os e-commerces, como a AliExpress, ganharam mais visibilidade do que o eBay no Brasil?
HARVEY – A AliExpress e outras empresas de e-commerce ganharam visibilidade considerável no Brasil porque começaram a investir muito mais cedo no país. A AliExpress é um grande mercado para a moda, que também é a maior categoria para o consumidor brasileiro. Os brasileiros são sensíveis a preços mais baixos e no AliExpress o valor tem um forte apelo para os compradores que muitas vezes não se importam em esperar bastante em troca de preços mais baratos; o comprador tem uma clara expectativa sobre o que vai comprar. Outros, como Mercado Livre, ganharam visibilidade no Brasil por causa de sua longa história no segmento e sua capacidade de oferecer entrega mais rápida porque eles têm seu próprio armazém no País. Uma entrega mais rápida é valiosa para o consumidor brasileiro e os players locais melhoraram sua logística para oferecer melhores experiências de entrega.
DINHEIRO – Alguma nova estratégia de marketing está prestes a surgir para conquistar os consumidores brasileiros?
HARVEY – Recentemente o eBay realizou um estudo sobre clientes brasileiros e descobriu que eles valorizam grande seleção, experiência de compra perfeita e negócios significativos. A plataforma eBay oferece uma combinação perfeita desses atributos. Possui uma das maiores seleções de itens (mais de meio bilhão), em uma das plataformas mais intuitivas e hospeda consistentemente os melhores preços em comparação com a concorrência. Novas estratégias de marketing que nos ajudem a atender às expectativas dos consumidores brasileiros são aumentar o investimento na conscientização sobre a proposta de valor do eBay em termos de seleção, facilidade de experiência de compra e valor geral do produto. O eBay aproveita as mídias sociais, a pesquisa paga, a exibição e a publicidade móvel para gerar consciência e visibilidade.
DINHEIRO – Como o eBay vê o movimento das empresas brasileiras de e-commerce se transformar em mercados eletrônicos?
HARVEY – O mercado brasileiro ainda tem muito espaço para o crescimento. Atualmente, a penetração da internet é de 66%, o que significa que ainda existem 71 milhões de pessoas que não estão usando a internet, de acordo com números do eMarketer. O Brasil é um mercado em crescimento onde as empresas de e-commerce têm uma grande oportunidade. Vinte das cinquenta principais empresas de e-commerce surgiram entre 2006 e 2011, o que reflete a expansão contínua da economia brasileira. Como o eBay é um dos maiores mercados de e-commerce do mundo, é importante para a empresa participar do mercado de varejo digital do Brasil. A expansão do setor no País, oferecendo mais de 500 milhões de itens para compradores brasileiros, é um objetivo fundamental para o eBay em toda a América Latina.
DINHEIRO – Como deve ser a postura do eBay contra o Mercado Livre após a venda da participação na empresa latino-americana?
HARVEY – O eBay é uma plataforma transfronteiriça e sempre foi desta forma desde que foi lançado no Brasil em 2014. Isso significa que o eBay facilita o comércio entre países em dois pontos. Este é um diferencial significativo da concorrência local que tem estoque limitado e não pode oferecer o espectro de valor que o eBay pode fornecer.
DINHEIRO – O eBay planeja usar a inteligência artificial em seus negócios?
HARVEY – O eBay aplica ciência profunda ao comércio diário, e continua a se desenvolver em torno da Inteligência Artificial. Um dos principais desenvolvimentos do eBay em AI é a personalização. Desbloqueando a intenção de compra de cada indivíduo para fornecer ao cliente uma experiência de “compradores pessoais”. Além disso, lançamos o assistente de compras pessoal habilitado para AI, chamado “shopbot”, que usa a aprendizagem automatizada para fazer melhores sugestões para experiências de compra. Outro é a implementação de dados. Alavancando décadas de informações e dados sobre o comportamento do cliente para conduzir a AI. O eBay já usa algoritmos de aprendizado para reconhecer objetos em listagens, encontrar produtos similares e recomendações. E implantamos AI em várias áreas, desde dados estruturados até a tradução automática para gerenciamento de risco e fraude. Por fim, existe a otimização. O eBay adquiriu recentemente a Expertmaker – uma empresa que criou uma plataforma avançada de AI que permite otimização e automação. Esperamos aplicar sua tecnologia em nossa plataforma, para ajudar a melhorar os prazos e entregar, confiança, preços e muito mais.
DINHEIRO – Recentemente, as empresas brasileiras de comércio eletrônico foram atacadas e vazaram os dados de usuários. Quais as soluções encontradas pelo eBay para proteger seus clientes desses ataques?
HARVEY – O eBay alista uma série de medidas preventivas e ações para proteger dados de nossos compradores e vendedores. Como UBA (análise do comportamento do usuário), DLP (prevenção de perda de dados), monitores, pesquisadores de rede, além de endpoint para qualquer indicação de exfiltração de dados. Há o Centro de Comando de Segurança, o nosso 247 SCC (sigla para centro de comando de segurança em inglês) revisa todos os alertas desencadeados dessas ferramentas no local e agem de acordo com a análise. O eBay também utiliza equipes que constantemente procuram vulnerabilidades em todo o meio ambiente, ciclos de patch para corrigir e atualizar. Uma equipe especializada lança ataques preventivos para testar a nossa infraestrutura e refinar as defesas da nossa organização.
DINHEIRO – Aproveitando o contexto do evento que você participa, quais comentários os fornecedores brasileiros deram ao eBay sobre suas operações no País?
HARVEY – O eBay está realizando agora um dos eventos mais importantes do ano, o eBay Open, em Las Vegas. É um evento dedicado exclusivamente aos vendedores do eBay, onde eles têm acesso a briefings e workshops, bem como a oportunidade de se conectar com uma ampla rede de vendedores no eBay para aumentar seus negócios. Nesta edição, temos participantes da América Latina, mas ainda não do Brasil, mas estamos ansiosos para ter em breve novas oportunidades para conhecê-los também. Nossos vendedores brasileiros forneceram feedback positivo sobre a plataforma do vendedor do eBay. Eles veem a plataforma como uma oportunidade para aumentar a demanda, oferecendo seus produtos para uma maior quantidade de mercados ao redor do mundo. Existem alguns desafios para os brasileiros, principalmente a fluência da língua (principalmente o inglês) e a entrega mais lenta pelo serviço postal local.