Imagine a possibilidade de gravar seus programas de televisão favoritos e assisti-los onde quiser. Pensou num videocassete? Errado. Imagine agora que, com um guia de programação eletrônico, atualizado via internet, você pode programar a gravação dando apenas um clique na opção desejada, sem necessidade de indicar datas e horários. Gostou? Pois você pode, ainda, localizar um filme através do nome de seu protagonista ou informar uma palavra-chave para que o aparelho encontre todos os programas relacionados ao assunto. Parece bom? Lembre-se, então, que uma vez que a tecnologia é digital, você pode pausar transmissões ao vivo e ter acesso a replays instantâneos. Maravilhoso, não? Pois isso tudo já existe sob o nome de TiVo, o serviço que está revolucionando a maneira como as pessoas assistem TV nos Estados Unidos. A empresa tem 1,4 milhão de usuários, meia dúzia de imitadores e o criador da idéia, Michael Rumsay, já está se preparando para uma folgada aposentadoria. ?É uma tecnologia muito amigável. O serviço é muito bom. Os similares nem se comparam?, afirma Giancarlo Colombo, diretor de marketing da Isat, empresa paulista de tecnologia de vídeo.

As facilidades do sistema são responsáveis por grande parte do êxito da empresa. Seu aparelho é muito simples de usar e relativamente barato ? US$ 299 ? enquanto a assinatura mensal custa US$ 13. A programação abrange os canais de TV aberta dos Estados Unidos e algumas das principais operadoras de TVs fechadas como a
Directv, que distribuiu sintonizadores com os recursos da TiVo embutidos. No Brasil o serviço ainda não existe e a TiVo não tem planos de trazê-lo. O que pode ser encontrado de mais parecido é o Sky+, um serviço da TV por satélite que oferece 50 horas de gravação e possibilidade de manipulação digital da imagem. O aparelho custa R$ 1.299 e mais uma assinatura mensal.

Fundada em 1997, a TiVo já revolucionou o mercado de entretenimento digital. As pessoas estão produzindo para elas mesmas uma programação à la carte, que rompe com a lógica passiva da TV. Diante disso, as agências de publicidade têm de lidar, por exemplo, com o fato de as pessoas eliminarem comerciais na hora de assistir os programas que gravaram ? e elas, cada vez mais, só vêm programas gravados. A mais recente novidade da TiVo é o TiVo To Go. O novo serviço permite aos proprietários da versão mais atual do seu aparelho a reprodução de todo o conteúdo gravado em laptops ou computadores de mesa. ?Agora as pessoas vão poder levar com elas os seus programas favoritos e vê-los quando e onde tenham vontade?, diz Rumsay. ?Saltamos à frente novamente.? A inovação é necessária e chega em boa hora. Na batalha pelo público, as empresas de TV a cabo e satélite começaram a fabricar seus próprios DVR (digital vídeo recorder), a sigla genérica pela qual são conhecidos os aparelhos criados pela TiVo. A própria Directv, sócia da TiVo até 2007, anunciou que, com o fim do contrato, introduzirá no mercado um produto similar e de preço inferior. As ações da TiVo sofreram com a percepção de que seu diferencial pode deixar de existir. Nesse jogo bruto em que inovação e qualidade perdem espaço para o preço, a empresa encontrou uma grande aliada. No último Consumer Electronics Show, um dos mais importantes eventos de tecnologia do mundo, Bill Gates, o magnata da Microsoft, anunciou a criação de um consórcio com a TiVo. Juntas, as duas empresas vão explorar novos canais e as infinitas possibilidades de conexão entre a TV e o computador. Com esse acordo, a TiVo quer manter-se à frente dos rivais da TV, enquanto a Microsoft quer sair do escritório onde fica o PC e colocar um pé na sala de estar. No fundo, almeja transformar o Windows no software dos televisores. ?Tudo o que a Microsoft faz é com base em muito estudo. Acredito que a parceria resultará num boom desse mercado?, diz Colombo, da Insai. Pode ser que daí resulte a tão prometida convergência entre TVs e PCs.