A trajetória da The Dow Chemical Company é marcada por acontecimentos de grande impacto. Foi ela quem inventou o filme plástico, película usada para embalar alimentos. No currículo da empresa constam ainda produtos, podese dizer, menos nobres como o agente laranja e o napalm ? utilizados na Guerra do Vietnã. Ela também puxou a nova fase do processo de consolidação do setor petroquímico com a aquisição da Union Carbide, em 1999, por US$ 11,6 bilhões. No início do mês, Andrew Liveris presidente mundial da Dow, anunciou um ousado plano de reestruturação cujo mote é encolher para crescer. Até agora, os desdobramentos práticos dessa política foram a venda de metade de cinco fábricas de resinas (polietileno, polipropileno e policarbonatos) para a estatal kuaitiana Petrochemical Industries Co., por US$ 9,5 bilhões, além do fechamento de várias unidades pelo mundo afora. O processo de encolhimento é ainda maior no Brasil e começou há mais tempo. A Dow acaba de suspender as atividades em Aratu e Camaçari (ambas na Bahia). Em junho, ela havia vendido a fábrica de polietileno de Cubatão (SP) e a fatia de 13% do capital da PQU para o Grupo Unipar. Destino semelhante deverá ter a planta de poliestireno situada no Guarujá (SP). Essa resina ? usada na produção de eletrodomésticos, copinhos descartáveis e caixinhas de DVD ? é considerada antiquada e vem perdendo espaço para insumos mais nobres como o polipropileno.

Apesar de gerar receitas de US$ 2,2 bilhões, a Dow Brasil é apenas uma sombra do que foi nas décadas de 60 e 70, quando era temida pela concorrência graças ao seu gigantismo e às suas ?ligações íntimas? com o governo militar. Nessa época, a cadeira de presidente foi ocupada pelo general Golbery do Couto e Silva. Por conta disso, a companhia parecia destinada a se tornar a maior potência do continente. Não lhe faltaram oportunidades, como o leilão da Companhia Petroquímica do Nordeste (Copene). Só que, em vez de entrar na disputa, a Dow concentrou sua força no pólo de Baía Blanca (Argentina). E, segundo executivos do setor, se deu mal. ?A planta deles ficou parada diversas vezes nesse ano por conta da crise de abastecimento de gás que afetou o país vizinho?, conta uma fonte. A política do mais com menos também está despertando a ira dos trabalhadores. O Sindicato dos Químicos e Petroleiros da Bahia lidera uma rodada de conversas com outras entidades que poderá desembocar em uma greve geral do setor. ?Nossa intenção é parar os pólos da Bahia, de São Paulo e do Rio Grande do Sul?, conta Carlos Alberto Itaparica, diretor da entidade. Ele critica a Dow por não ter optado pela venda dos ativos, o que preservaria o emprego dos cerca de 40 demitidos na Bahia.

A companhia se defende. De acordo com Diego Donoso, diretor comercial de plásticos para a América Latina da Dow, o País continua tendo um papel importante no desenho estratégico da corporação. Prova disso, diz ele, foi a aquisição da Agromen, fabricante de sementes baseada em Orlândia. De acordo com o executivo, a Dow está voltando seu foco para insumos de maior rentabilidade. ?Vamos apostar em produtos nobres e também em parcerias com outras empresas?, conta. Para ele, o futuro da Dow passa pelo pólo álcoolquímico no Brasil, que será erguido até 2011. A idéia é usar o etanol como matéria-prima para produção de resinas, que hoje são feitas de derivados de petróleo (nafta e gás). O projeto, orçado em US$ 1 bilhão e que tem como parceira a brasileira Crystalserv (trading de açúcar e álcool), é visto com desconfiança pelo setor. Isso porque sua viabilidade depende da cotação do barril de petróleo acima de US$ 50. A descoberta de novas jazidas (principalmente no Brasil) e o uso mais intenso do etanol em lugar do diesel e da gasolina podem, no entanto, inverter o movimento de alta do petróleo. Seria essa mais uma aposta equivocada da Dow? O tempo dirá.