DINHEIRO – O mercado de luxo se recuperou da crise?
BRANCHINI –
Ainda não, mas acredito que vai se recuperar logo. Minha previsão é de que, neste ano, as vendas de Natal já serão positivas na Ásia – puxadas pela China, claro – e no Japão. Também acho que o resultado será positivo na Europa. Na América do Norte, vai crescer no México e no Canadá, mas ainda não nos EUA.

DINHEIRO – E no Brasil?
BRANCHINI –
No Brasil, a perspectiva é positiva. Não houve queda. É um mercado que vem crescendo de 20% a 25% ao ano nos últimos anos. Mas, infelizmente, é um mercado ainda pequeno. É o menor do grupo BRIC.

DINHEIRO – Por que isso acontece?
BRANCHINI –
Brasil e Índia são os países onde os impostos de importação são os mais elevados. Não faz sentido os brasileiros terem que pagar 35% de imposto sobre produtos importados.

DINHEIRO – Qual é a participação do Brasil no mercado?
BRANCHINI
– Apesar do crescimento nos últimos anos, ainda é de apenas 0,8%. A China já responde por 3,5%. Por outro lado, mercados importantes estão perdendo participação. O peso dos EUA no segmento de luxo caiu de 36% para 28% ou 30% em dez anos.

DINHEIRO – As grandes marcas já estão no Brasil?
BRANCHINI –
Definitivamente. Particularmente em São Paulo, estão quase todas as marcas europeias e americanas. O problema é que o imposto de importação é tão grande que impede o desenvolvimento do mercado.

DINHEIRO – O imposto sobre importação de produtos de luxo é alto em todo o mundo ou só no Brasil?
BRANCHINI –
No mundo todo, varia entre 7% e 10%. No Brasil, é de 35%. Não sei bem por quê. Para proteger o quê? Uma coisa é tentar proteger uma indústria que existe no Brasil, outra é impedir a entrada de produtos que não são produzidos no País.

DINHEIRO – O sr. enxerga marcas brasileiras de luxo?
BRANCHINI –
A única empresa brasileira com presença internacional é a H.Stern. Não quer dizer que seja a única marca de qualidade, mas é a única com capacidade de distribuição em vários países.

DINHEIRO – A Fundação Altagamma está fazendo algo para tentar reduzir as tarifas de importação?
BRANCHINI
– Temos uma série de ações, de lobby a proteção da propriedade industrial. Lutamos contra produtos falsificados e pelo aumento do acesso ao mercado com a redução dos impostos. Acreditamos que, com a redução das barreiras tarifárias e não tarifárias e o estabelecimento da competição justa em todo o mundo, o consumo de produtos de luxo aumentaria pelo menos 50%.

DINHEIRO – O sr. acha que é possível mudar isso?
BRANCHINI –
Com certeza. Há menos de dez anos, conseguimos reduzir o imposto na China, que era de 90%. Agora, a taxa é de menos de 20%.

DINHEIRO – Quando o setor vai se recuperar da crise?
BRANCHINI
– Acredito que vamos ver uma mudança de humor em março ou abril de 2010. Mas provavelmente o resultado do ano ainda será inferior ao de 2008, quando o mercado vinha muito bem até o início da crise. O período de 2004 a 2008 será lembrado no futuro como a melhor época para o mercado de luxo.