Estudioso de crises financeiras, Eichengreen avalia que a situação atual ainda oferece perigo aos investidores, especialmente devido a problemas na Europa. Antes de sua visita ao Brasil, onde participou do 6º Congresso Anbima de Fundos de Investimento, ele falou com exclusividade à DINHEIRO:

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Como o aprofundamento da crise na Europa pode afetar o mercado financeiro?

Depende de como o problema da Grécia será tratado. A partir das premissas atuais, a dívida grega não tem solução. Assim, ela terá de ser reestruturada. 

 

Por que esse problema é insolúvel?

A Grécia está endividada demais e não tem como gerar dinheiro suficiente para honrar seus compromissos. Então, para que tudo fosse pago sem nenhuma reestruturação, renegociação ou redução do passivo, seria preciso injetar recursos de fora, mais especificamente fundos da Comunidade Europeia ou do Banco Central Europeu (BCE). Isso é dinheiro de imposto. Acho pouco provável que os contribuintes alemães e franceses estejam dispostos a tirar mais dinheiro do bolso para ajudar os vizinhos.

 

Qual o efeito disso sobre o mercado?

Depende de como essa reestruturação vai ocorrer. O cenário mais provável é que seja um processo negociado e previsível. Se for assim, o impacto sobre o mercado financeiro será pequeno.

 

Qual o pior cenário? 

O pior que pode ocorrer é o não pagamento das dívidas da Grécia de forma caótica e sem negociação, que provocaria uma abrupta mudança nos fluxos internacionais de recursos. Os investidores realizariam o que chamamos de fuga para a qualidade, transferindo grandes quantias de países problemáticos, como Portugal, Espanha e Irlanda, para economias mais sólidas, como Alemanha e França. No entanto, a probabilidade de que isso ocorra é pequena.

 

Nesse caso, o que pode ocorrer com a América Latina e com o Brasil, em especial?

Haverá uma redução das exportações e as captações de recursos no mercado internacional podem ficar um pouco mais caras por algum tempo, mas esses serão efeitos pontuais. No geral, as economias da região, o Brasil em especial, estão numa boa situação. 

 

Como o sr. avalia a situação dos Estados Unidos?

A economia americana vem ganhando velocidade nos últimos meses  e esse processo deve continuar, mas há quatro itens que oferecem riscos. 

 

Quais?

O primeiro é que o mercado imobiliário continua fraco e não servirá como motor de crescimento. O segundo problema é que o desemprego vem permanecendo em torno de 9%, o que é um número alto para os Estados Unidos. Em terceiro lugar, os consumidores não estão confiantes e, finalmente, os preços do petróleo estão elevados. 

 

Por que isso afetaria o crescimento americano?

Esses dados mostram um consumidor que não tem confiança de se endividar e comprar e, num cenário assim, a economia não tem um desempenho vigoroso. 

 

Há riscos de inflação?

A partir de 2012 sim, especialmente devido à alta do petróleo. Não deverá haver uma pressão por aumento de salários neste ano, pois o desemprego está elevado. No ano que vem, porém, o petróleo pode pressionar os preços no varejo, o que provocaria um aumento de juros pelo Banco Central americano. Ou seja, é bastante provável que a economia volte a perder o passo em 2012.

 

E a consequência disso?

Mais alguns meses de ações em baixa em Wall Street.