25/02/2011 - 6:00
Mesmo assim, seu documentário Trabalho interno (Inside job), em cartaz no Brasil desde a sexta-feira 18, é sua segunda obra a concorrer ao Oscar. O primeiro é Sem fim à vista (No end in sight), de 2008, sobre a ocupação americana do Iraque. Trabalho interno analisa a crise financeira americana. Em passagem pelo último Festival de Berlim, Ferguson falou à DINHEIRO:
Por que um documentário sobre a crise financeira mundial?
Meu objetivo foi desmistificar o mundo das finanças e explicar a crise de um jeito que qualquer um possa entender. Eu explico que as autoridades defenderam os próprios interesses e permitiram excessos na especulação.
Obama é uma grande decepção. Ele pode ter ficado com medo de mudar
Como surgiu a ideia?
Comecei a pensar nisso quando Lehman Brothers, Merrill Lynch e AIG, três das maiores instituições financeiras do mundo, quebraram ao mesmo tempo. Lembro de ver as pessoas se perguntando se conseguiriam sacar dinheiro no caixa eletrônico.
Eu já acompanhava o trabalho de economistas que previam a crise e sabia que sairia um filme dali.
Alguns dizem que a crise não foi gerada pelo capitalismo, mas pela ganância. O sr. concorda?
Essa é uma desculpa dos bancos. Parece que houve uma epidemia de ganância na população, levando as pessoas a comprar casas, carros e barcos que não podiam pagar. Isso não faz sentido. Começamos a ter crises financeiras após a desregulamentação do setor, que começou em 1980.
O sr. é contra o capitalismo?
Não tenho nada contra ganhar dinheiro, desde que seja honestamente, não à custa da desgraça de milhões de pessoas que perderam seus empregos e suas casas.
Trabalho interno é um filme contrário ao capitalismo?
Estão me acusando de anticapitalista. Na verdade, sou contra fraude em larga escala (risos).
Algumas das melhores cenas são as perguntas duras que o sr. faz aos ex-funcionários do governo e do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos. Como os convenceu a recebê-lo?
Eu não menti, simplesmente disse que estava fazendo um filme sobre a crise financeira mundial. Só que essas pessoas são sempre tratadas com reverência e não estão acostumadas a ser confrontadas. Meu papel era mostrar que eles haviam ignorado os avisos de crise e questionar seus conflitos de interesse, já que alguns dos entrevistados trabalhavam tanto na universidade quanto nos bancos
e no governo.
Algum dos entrevistados chegou a processá-lo?
Um ou outro disse que iria cancelar a autorização para o uso da entrevista no filme, mas eles não conseguiram. Uma vez concedida, a autorização não tem volta.
Ninguém tentou roubar as fitas?
Em duas entrevistas eu levei seguranças comigo, para ter certeza de que os entrevistados não tentariam roubar as fitas.
Quais entrevistados?
Prefiro não revelar.
O filme deixa claras suas críticas ao presidente Barack Obama. Por quê?
Obama é uma grande decepção. Em sua campanha ? para a qual doei dinheiro ?, ele deu a impressão de que iria mudar o sistema financeiro. Depois de eleito, contratou os mesmos caras que atuaram na crise, como Timothy Geithner (atual secretário do Tesouro dos Estados Unidos). Não sei o que Obama pensa. Alguns acham que ele se rendeu aos bancos, outros que ele não entendia de economia. Pode ser que ele tenha ficado com medo de mudar.