DINHEIRO – Quais os planos da Gucci para o Brasil?
DANIELLA VITALE
– O Brasil é um mercado emergente para nós. Mas a loja que abrimos recentemente no Shopping Iguatemi tem ido tão bem quanto nossas lojas nos Estados Unidos. É certo que queremos abrir mais pontos em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília e outras capitais. Estamos um pouco atrasados com nossa entrada por aqui.

DINHEIRO – Por que a grife demorou?
DANIELLA
– Porque queríamos encontrar a locação ideal para nossa loja do Iguatemi. Teria que ser um ponto que valorizasse a Gucci. Este processo demorou dois anos. Enquanto estiver aqui, analisarei novas locações para futuras lojas.

DINHEIRO – Como manter o crescimento em um cenário de crise?
DANIELLA
– A questão se resume a foco e disciplina. Estamos indo melhor que a maioria, mas não é o momento de diversificar os negócios ou investir como normalmente faríamos. Pretendemos agir assim até o final da crise.

DINHEIRO – Esta é uma diretriz do Grupo PPR, conglomerado de marcas do qual a Gucci faz parte?
DANIELLA
– O PPR permite que a marca continue fiel às suas origens e ainda nos dá um tremendo apoio. É óbvio que há um dono do grupo (o francês François Pinault) e que traçamos diretrizes a partir do que ele espera de nós. Mas posso dizer que eles são ótimos parceiros.

DINHEIRO – Qual o legado deixado pelo ex-presidente Domenico De Sole e pelo estilista Tom Ford?
DANIELLA
– Domenico e Tom reorganizaram a Gucci e nos livraram da falência. Seria uma marca diferente sem os dois, mas agora estamos em outro momento que também é bem-sucedido.

DINHEIRO – Em 1982, Maurizio Gucci, da terceira geração da família Gucci, disse que a grife deveria lançar moda e não segui-la. A sra. concorda?
DANIELLA
– Nós lançamos moda, sim. Não acredito que somos seguidores e nem que um dia viremos a ser. É claro que olhamos o mundo ao nosso redor e o que a concorrência está fazendo.

DINHEIRO – A Gucci já considerou a possibilidade de produzir fora da Itália, como forma de baixar os custos?
DANIELLA
– Não. Queremos continuar a ser o que somos. Um dos pilares da Gucci é oferecer produtos fabricados na Itália. É o que traz as pessoas de volta a nossas lojas.

DINHEIRO – Este é o segredo para se manter uma marca de luxo?
DANIELLA
– Penso que o luxo é um conceito definido por cada indivíduo. Sempre oferecemos um produto de qualidade com uma forte relação de custo-benefício.

DINHEIRO – Sabe-se que um grupo de 20 brasileiras está na fila de espera para comprar uma bolsa inspirada em um modelo, que custa R$ 70 mil, usado por Jackie Kennedy. Como explicar este comportamento?
DANIELLA
– Este é um exemplo perfeito de como nossos clientes pretendem gastar seu dinheiro. A bolsa em questão é um item feito à mão, que tem história e também é um acessório fashion. Algo assim inspira as pessoas a gastar. Esta bolsa é nossa peça número 1 no momento.

DINHEIRO – Algumas pessoas estão começando a usar o termo luxury shame (termo em inglês que se refere ao constrangimento pela ostentação) para se referir às marcas de luxo. O que a Gucci faz para sair deste estigma?
DANIELLA
– Parte de nossa estratégia é ser socialmente responsável e estar conectado com a comunidade em que estamos presentes. A maior parte de nossa base de clientes considera a responsabilidade social um item essencial.