Em 1989, a mineira Dorothea Werneck tornou-se a primeira mulher a comandar o Ministério do Trabalho. Na ocasião, foi vítima de uma declaração machista do então presidente da Fiesp, Mario Amato, para quem ela era “muito inteligente, apesar de mulher”. No ano passado, Dorothea aceitou o convite do governo de Minas Gerais para comandar a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Sua missão é tornar o Estado menos dependente do minério, e atrair investimentos de indústrias de alta tecnologia. 

 

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A sra. foi “vender” Minas Gerais para os americanos?

Sempre estou buscando investimentos e há vários interessantes por aqui. Infelizmente ainda não posso falar o nome das empresas, pois muitas são listadas na bolsa de valores. 

 

O governo de Minas inaugurou uma fábrica de semicondutores na semana passada. O foco é um Vale do Silício mineiro?

Exatamente. Esse projeto é uma história muito bonita, que conta com a parceria entre o governo de Minas, o BNDES, a IBM e os empresários Eike Batista e Wolfgang Sauer. O investimento total é de R$ 1 bilhão. A prioridade é a nova economia.

 

A sra. pode destacar alguns segmentos?

O de TI, que tem a participação do Google e da Microsoft; o de Life & Science, com investimentos da GE e da Philips; o aeronáutico, com operações da Gol, da FAB e da Embraer; e o de biotecnologia.

 

Quais são os diferenciais do Estado?

Temos um grande mercado consumidor, com a segunda maior população do País. Temos a segunda maior rede ferroviária e a maior malha rodoviária. O fato de o Brasil estar crescendo na direção do Norte, Nordeste e Centro-Oeste tornou Minas um ponto obrigatório para empresas do Sul e de São Paulo. Temos, ainda, uma gestão eficiente da máquina pública. Em Minas, o prazo para abertura de uma empresa é de nove dias, enquanto a média nacional é de 120 dias.

 

Quais investimentos estão sendo feitos nos aeroportos?

Temos um planejamento feito por uma empresa de Cingapura para a expansão do aeroporto Tancredo Neves, em Confins, e esperamos que isso seja considerado na política de concessões do governo federal. Nós também queremos formar cinco grandes hubs dentre os 92 aeroportos regionais do Estado. 

 

Qual será o legado da Copa do Mundo para Minas Gerais? 

Além do turismo e da mobilidade urbana, há o Mineirão. Estamos com a ideia de transformar algumas áreas externas do estádio em espaço para start-ups de tecnologia. 

 

O que está sendo mais gratificante na sua nova função?

É estar com a mão na massa e ver as coisas acontecerem. É gratificante começar uma conversa com uma empresa, assinar o protocolo e ir à inauguração. Precisamos consolidar o federalismo no Brasil, com mais autonomia para os Estados.

 

Como a sra. avalia o esforço do governo federal para dar competitividade à indústria brasileira?

As indústrias brasileiras já são muito competitivas. O que nós temos que melhorar é a competitividade do País e, nesse sentido, o governo está indo no caminho certo. Estou falando de logística, carga tributária e investimento em educação.

 

O Brasil vive um momento de quase pleno emprego e falta de mão de obra qualificada. Como se resolve isso?

Isso é um problema bom. Seria ruim se tivesse grande desemprego. O esforço de formação e treinamento tem de ser compartilhado entre os governos, o sistema S e as empresas.

 

A sra. ficou chateada quando o então presidente da Fiesp, Mario Amato, disse que a sra. era “inteligente, apesar de ser mulher”? 

Foi uma frase machista, que gerou uma repercussão enorme. Mas acabou tudo bem, eu ri muito da história, que é a minha forma de tratar desse tipo de coisa.