Nos últimos dez anos, o Brasil entrou no mapa dos investimentos globais do mercado de luxo. No setor hoteleiro não é diferente. Em entrevista à DINHEIRO, o CEO mundial da rede Orient-Express conta como o País passou de coadjuvante a protagonista no segmento da hotelaria premium. 

 

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Qual é a sua percepção sobre o mercado de luxo no Brasil?

No Oriente Médio e na Ásia, a palavra luxo ainda se mantém fiel ao seu significado original. No turismo, identifica o que é único, exclusivo e que poderia trazer status. Mas o termo evoluiu para outro significado em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Atualmente, a palavra luxo é sinônimo de experiência, não mais de uma mercadoria cara. É algo que deve trazer a excelência de serviços, decoração, gastronomia e de locais voltados ao bem-estar. Esse conjunto de experiências é o que entendemos como luxo hoje em dia.

 

Há espaço para a hotelaria de luxo no País?

Sim. Estamos falando de um país continental. Este não é um clichê, mas uma realidade. Os brasileiros se tornaram um grupo seleto de consumidores. O cliente passou a ser mais exigente. E para exigir está disposto a gastar mais em suas viagens. Ele quer desfrutar de experiências únicas e ter serviços de qualidade.

 

Quais são as operações da Orient-Express no Brasil?

Estreamos no Brasil em 1989, ao adquirir o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Em 2007, passamos a operar o Hotel das Cataratas, em Foz do Iguaçu (PR), um dos locais mais impressionantes do continente. O hotel é cercado por um parque de 1.850 km². 

 

Pretende investir em novos projetos?

Nossos clientes em todo o mundo amam o Brasil. Estamos sempre estudando a possibilidade de investimentos. Além da remodelação total do Hotel das Cataratas, concluída em 2010, finalizamos, no ano passado, a remodelação de 26 quartos do Copacabana Palace. Agora estamos remodelando o hotel para a Copa e a Olimpíada.

 

Há planos de construir hotéis como o Copacabana Palace?

Não como o Copacabana Palace. A Orient-Express sempre respeita as características locais. O Copacabana Palace é, dentro de um contexto histórico, muito peculiar. Em Foz do Iguaçu, já investimos em renovação e decoração. Começamos a sentir o retorno agora.

 

O Brasil é prioridade para a Orient-Express?

O País é e sempre foi muito importante para nós. Temos registrado recordes seguidos de receita e crescimento. 

 

A empresa tem sido afetada pela crise?

Sentimos alguns efeitos, mas tempos de crise sempre exigem das empresas mais investimentos, criatividade e busca de novas oportunidades. Nossa equipe está ciente de tudo isso. 

 

Instabilidades de crescimento não afetam seus projetos no País?

Fatores como câmbio e crescimento econômico sempre influenciam nossas escolhas e podem ser decisivos. Mas temos visão de longo prazo. Quando compramos o Copacabana Palace o Brasil estava com a economia abalada e o presidente (Fernando Collor de Mello) recém-eleito era uma interrogação. Mesmo assim, adquirimos o hotel. Atualmente, o Copacabana Palace é uma das joias mais finas de nossa coleção e apresenta um excelente retorno financeiro.

 

E a hotelaria de luxo na China?

Eu estive em Xangai no início deste ano e vi um enorme potencial de crescimento. Os chineses têm se mostrado muito abertos à possibilidade de contratos de gestão, que são estratégicos para nós.

 

Como será o mercado de luxo no País no futuro?

Apostamos no crescimento da economia. Temos visto um crescimento tremendo no número de convidados brasileiros que visitam os nossos hotéis no Peru e na Itália, como o Hotel Cipriani, em Veneza, e no Villa San Michele, em Florença. Estamos ansiosos para receber muitos mais.