18/03/2009 - 7:00
DINHEIRO – Com a crise financeira, o que muda no mercado de luxo?
GREG FURMAN – Em uma economia recessiva, em que as pessoas estão começando a usar o termo luxury shame (termo em inglês que se refere ao constrangimento pela ostentação), é importante que as marcas se tornem socialmente responsáveis. Muitas delas já fazem isso, mas elas devem divulgar.
DINHEIRO – O que as marcas devem fazer?
FURMAN – Devem assumir suas responsabilidades nos âmbitos social, econômico e político. Ninguém quer que vestidos de alta-costura sejam produzidos por crianças em um porão qualquer.
DINHEIRO – O que acontecerá com as marcas que não ficarem mais conscientes?
FURMAN – As grifes que não se adequarem terão dificuldades.
DINHEIRO – E quanto àquelas cuja mudança for só aparente?
FURMAN – Não se engana o consumidor com publicidade. O público logo descobrirá se uma campanha de marketing corporativo não for baseada em fatos reais e perceberá se o produto ou serviço oferecido não refletir o que a empresa prega.
DINHEIRO – O sr. acredita que os clientes não se importarão em pagar mais por um produto só porque ele é social e ecologicamente correto?
FURMAN – Acredito, as pessoas pagam. Pesquisadores do Harvard Club iniciaram um estudo com carvão. Eles puseram dois tipos à venda, um com selo ecológico e outro sem, pelo mesmo preço. O que tinha o selo vendeu 15% a mais. Em um segundo momento, o preço do carvão certificado subiu e as vendas foram 37% maiores do que o carvão comum. Essa tendência veio para ficar.
DINHEIRO – As corporações estão dispostas a mobilizar recursos para adaptar seus produtos?
FURMAN – A mudança custa caro, mas no longo prazo será melhor para os negócios, para os consumidores e para o mundo. A Montblanc, por exemplo, é uma das empresas que têm uma das culturas corporativas mais sensíveis a essa questão.
DINHEIRO – Como o LMC trabalha isso com as empresas associadas?
FURMAN – Nós ajudamos as empresas associadas a serem mais eficientes. Fazemos 40 eventos por ano nos quais reunimos economistas, autores, consultores e futurólogos que discutem todas as possibilidades do mercado. Isso ajuda as empresas a tomar suas decisões.
DINHEIRO – Como será o luxo daqui para a frente?
FURMAN – Sempre haverá pessoas dispostas a pagar pelo melhor do melhor. Isso não vai mudar. Em alguns mercados emergentes ainda é importante o tamanho da marca. Já nos Estados Unidos, Europa e Japão, o futuro aponta para produtos e serviços que proporcionem bem-estar. Por isso alguns hotéis design estão parecidos com monastérios.
DINHEIRO – Uma grife de luxo deve se mostrar sempre presente na mídia ou ser mais discreta?
FURMAN – As marcas mais eficientes entram com uma estratégia diferente conforme o mercado. Nos Estados Unidos o marketing de grifes de luxo está saindo dos veículos de massa e caminhando para os nichos, como meios de comunicação especializados.
DINHEIRO – Uma produção em massa combina com uma grife de alto padrão?
FURMAN – Não combina. A definição de Stanley Marcus (herdeiro da rede de lojas de departamento de luxo Neiman Marcus) é a que se encaixa melhor para essa questão. Ele sempre defendeu que luxo é o que a mente dos homens pode imaginar e a mão do homem pode fazer. Ou seja, é um trabalho manual, isso é a essência do luxo.
” Ninguém quer que vestidos de alta-costura sejam produzidos por crianças em um porão”