31/08/2011 - 21:00
Nos últimos dez anos, a Colômbia cresceu a uma média de 4,53% ao ano, acima do ritmo da América Latina (3,78% ao ano) e da economia global (3,83%). O novo ciclo de investimentos em mineração, petróleo e carvão explica parte dessa bonança. O interesse estrangeiro – inclusive brasileiro – foi retomado com a exploração de áreas que antes tinham o acesso dificultado por causa do narcotráfico. Nesta entrevista à DINHEIRO, o ministro da Fazenda, Juan Carlos Echeverry, fala sobre a economia do país e sua admiração pelo Brasil.
DINHEIRO – O que explica o recente crescimento da Colômbia?
JUAN CARLOS ECHEVERRY – Mudamos o estereótipo da Colômbia. Hoje, os investidores sabem que é um país com 45 milhões de pessoas, com uma economia sólida, que nunca teve hiperinflação e nunca renegociou sua dívida. Tivemos também um boom de petróleo e mineração. Administramos mal o primeiro ciclo, entre 1985 e 1995. Agora não. Mudamos a legislação para atrair o investimento estrangeiro. O crescimento também se dá pelo consumo das famílias. Há quatro anos, uma em cada quatro famílias se dizia pobre. Atualmente é uma em cada sete. O investimento está muito forte. E, por consequência, as exportações sobem: passamos de US$ 35 bilhões há quatro anos para US$ 48 bilhões. O câmbio também permitiu que as empresas investissem na modernização de máquinas. É uma combinação virtuosa entre oferta e demanda.
DINHEIRO – De quanto são os royalties?
ECHEVERRY – Variam de 5% a 25%, dependendo do tamanho dos poços. Os royalties são divididos por todas as províncias, nada fica com o governo federal. A Colômbia é o único país que tem um modelo de descentralização dos recursos arrecadados com a mineração e o petróleo. Os royalties chegam às regiões mais pobres e mais populosas. Isso foi possível porque o volume total arrecadado aumentou de US$ 1 bilhão por ano, em 2006, para uma previsão de US$ 5 bilhões, em 2012. Também aprovamos uma regra fiscal de sustentabilidade. Em todo o mundo, só a Alemanha tem algo similar.
DINHEIRO – Como é essa regra?
ECHEVERRY – A arrecadação e os gastos estruturais devem convergir, até empatarem. Ou seja, os gastos não podem subir mais do que a receita. A não ser que haja uma recessão ou um desastre natural. Se um ano é muito bom, é preciso guardar o superávit. Em dez anos, vão nos agradecer por ter feito isso. Além disso, o dinheiro dos royalties que não for gasto em projetos de infraestutura será depositado num fundo soberano, no exterior.
DINHEIRO – Qual é a carga tributária na Colômbia?
ECHEVERRY – É de cerca de 20% no total: 16% para os impostos nacionais e 4% para os impostos estaduais.
DINHEIRO – No Brasil está em torno de 35% do PIB.
ECHEVERRY – É meu sonho…
DINHEIRO – Mas torna o País menos competitivo.
ECHEVERRY – Sim, mas é impressionante. Outra coisa que me impressiona muito no Brasil é a bancarização. É algo que também quero aprender. Na Colômbia ainda temos cerca de 40% dos adultos sem conta em banco. Uma nova lei vai incentivar a bancarização. Hoje é muito caro ter conta bancária na Colômbia.
DINHEIRO – O desemprego caiu, mas ainda supera os 11%.
ECHEVERRY – Queremos que caia a um dígito até o fim do ano. Nos últimos 12 meses, criamos 600 mil vagas, muito para a Colômbia. Agora estamos fazendo programas para melhorar a qualificação.
“Queremos uma agricultura como a brasileira”
DINHEIRO – Qual é o papel do Brasil como investidor?
ECHEVERRY – O Brasil, pelo seu tamanho, tem uma importância enorme para a Colômbia, tanto no papel de investidor quanto como mercado consumidor. Mas o comércio com o país ainda é muito baixo. Queremos mais comércio, mais investimento mútuo.
DINHEIRO – Onde há mais oportunidades?
ECHEVERRY – Há mais investimento em minério e energia. Mas há mais oportunidades na agricultura. Estamos buscando cooperação da Embrapa. Queremos que aconteça com a Colômbia o que aconteceu com a agricultura brasileira. Nossas exportações agrícolas são de US$ 5 bilhões, mas poderiam tranquilamente passar a US$ 20 bilhões. A Colômbia tem terra, clima e mão de obra. Falta-nos capital e empreendedorismo.
DINHEIRO – A Colômbia também sofreu com a valorização do peso.
ECHEVERRY – Depois que ganhamos o grau de investimento das agências de rating, os investimentos estrangeiros saltaram de US$ 8 bilhões para US$ 12 bilhões e ficou difícil manter a taxa de câmbio. Eu gostaria que estivesse em 1.900 pesos por dólar, mas agora está em 1.770 pesos.
DINHEIRO – Com a crise global, qual a importância da relação Sul-Sul?
ECHEVERRY – Nós, na América Latina, não podemos reclamar, porque o preço do que vendemos no mercado externo está bom. Mas é importante que as economias dos Estados Unidos e Europa estejam bem, pelo peso que têm no mundo. Estou preocupado com o modo como eles estão administrando a crise, sem se dispor a fazer os ajustes necessários. Quando as crises eram aqui, nos forçavam a assumir a dor. Agora que é com eles, não querem ter dor.
DINHEIRO – A Colômbia quer aprovar um tratado de livre comércio com os Estados Unidos. Qual a importância desse mercado?
ECHEVERRY – Muito grande. O custo da mão de obra na Ásia está subindo. A ponto de os custos trabalhistas na Colômbia ficarem competitivos. Por isso, é possível que nós sejamos foco de atração de investimento que antes iam para aquela região. Voltamos a ser atraentes. Por isso o tratado é tão importante.
De Bogotá