DINHEIRO – Qual a relação da sra. com o Brasil?
KRISTEN McCORMACK –
Desde 2005 venho despachando 20 alunos de MBA por ano para analisar como as empresas do País lidam com os postulados da RSC. A cada visita, eu me surpreendo com a qualidade e a quantidade dos programas. Antes de optar pelo Brasil fiz um levantamento do que era feito na Índia, na China, no Leste Europeu e na América do Sul. O Brasil está em um estágio bastante adiantado.

DINHEIRO – Até mesmo em relação aos EUA?
KRISTEN
– Sem dúvida. Costumo dizer que as empresas brasileiras fazem mais do que falam, ao contrário das americanas cuja propaganda é desproporcional aos projetos que elas patrocinam.

DINHEIRO – Como assim?
KRISTEN
– Quando conheci os programas educacionais da Fundação Bradesco, fiquei surpresa com a qualidade e mais ainda com o fato de os gestores do banco não usarem isso em suas campanhas de marketing.

DINHEIRO – Há outros projetos de destaque no Brasil?
K
RISTEN – Tem um da Petrobras que considero emblemático, pois reúne os três importantes pilares: redução de custos, criação de empregos localmente e uso de recursos renováveis. Ela contratou moradoras do sertão baiano para confeccionar malhas de sisal usadas como isolantes térmicos dos dutos do gasoduto que passa pela região. A aderência do produto é feita com uma cola à base de óleo vegetal. Antes, a cobertura era feita de alumínio, um material não renovável. A International Paper também possui importantes projetos na área ambiental.

DINHEIRO – Essa postura é um exemplo da evolução do conceito da RSC?
KRISTEN
– Claro. As empresas precisam ter em mente o impacto que seus produtos causam na vida das pessoas e na saúde do planeta. Em vez da filantropia se pratica cada vez mais a sustentabilidade.

DINHEIRO – Quais os impactos da crise global no engajamento das empresas em programas de RSC?
KRISTEN
– O único efeito prático até agora foi a redução das doações. Algumas ONGs viram a captação de recursos para seus programas cair à metade em relação a 2008. Isso, felizmente, não indica que as empresas estejam reduzindo sua consciência social e ambiental.

DINHEIRO – Não se trata de um contrassenso entre o discurso e a prática?
KRISTEN
– Em uma época de escassez de recursos é natural que as empresas reduzam investimentos em algumas áreas para preservar sua própria sustentabilidade.

DINHEIRO – O pedido de concordata da GM indica que ela não soube atuar como uma companhia sustentável?
KRISTEN
– É um caso emblemático. Boa parte dos americanos quer carros que causem impacto menor no meio ambiente. A GM seguiu a direção contrária.

DINHEIRO – No geral, as companhias americanas estão alinhadas com os anseios da população?
KRISTEN –
Hoje, pode-se dizer que a sustentabilidade já se incorporou ao DNA de diversas companhias. Redes varejistas como a Home Depot e o Wal-Mart enxergaram isso e estão se adaptando à nova era. E o consumidor costuma recompensar quem age corretamente.

DINHEIRO – O pagamento de elevados bônus a executivos de empresas em dificuldades fere os princípios de sustentabilidade?
KRISTEN
– Os americanos ficaram irados ao descobrir a política de remuneração adotada por algumas empresas. Isso colaborou para prejudicar a imagem de diversos setores, especialmente o financeiro.