Seu ministro das Finanças, o advogado Luc Frieden, esteve no Brasil buscando mais recursos. Em um intervalo dos encontros, ele falou à DINHEIRO:

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“Temos 150 bancos, mas só dois sofreram com a crise financeira”

DINHEIRO – Há uma disputa global por capital, especialmente o que está disponível na China, no Brasil e nos países do Oriente Médio. Como o sr. pretende trazer mais negócios para Luxemburgo?


LUC FRIEDEN – Nossa intenção é demonstrar que Luxemburgo é a melhor praça financeira disponível para os investidores que queiram colocar seus recursos em fundos, na Europa ou em qualquer outra praça.

 

 

DINHEIRO – Todos os administradores de fundos dizem isso. Quais as diferenças que vocês oferecem?


FRIEDEN – Somos o segundo maior administrador de fundos do mundo, com um patrimônio de 2 trilhões de euros, perdendo apenas para os Estados Unidos. Oferecemos um ambiente regulatório seguro, vantagens fiscais e infraestrutura que possibilita transações financeiras a baixo custo.

 

 

DINHEIRO – A legislação e o controle sobre os paraísos fiscais estão cada vez mais duros. Isso atrapalha os negócios?


FRIEDEN – Não somos um paraíso fiscal no sentido clássico, pois aderimos ao euro e nos submetemos às regras da Comunidade Europeia. Um dos pontos em que estamos avançando é em oferecer mais transparência e governança para os investidores, de modo a aumentar a confiança em nosso sistema.

 

 

DINHEIRO – As mudanças impostas pelo novo Tratado de Basileia, que é chamado de Basileia 3, deverão reduzir a alavancagem dos bancos. Qual o impacto dessas mudanças?


FRIEDEN – Esse é um assunto que está sendo discutido no âmbito das regulamentações da comunidade, mas a alavancagem dos bancos em Luxemburgo já está em linha com as exigências de Basileira há tempos. Nosso sistema financeiro é sólido, e foi exatamente por isso que a crise de 2008 praticamente não nos afetou.

 

 

DINHEIRO – Quais os efeitos da crise financeira sobre os bancos?


FRIEDEN – Muito pequenos. Luxemburgo tem mais de 150 bancos e apenas dois deles tiveram problemas e tiveram de receber ajuda ou intervenção.

 

 

DINHEIRO – Por que o impacto da crise foi tão reduzido?


FRIEDEN – Os bancos em Luxemburgo são muito diferentes dos bancos nos Estados Unidos, onde a crise foi bastante forte. Lá, havia apostas pesadas em derivativos lastreados em operações de crédito imobiliário. Em Luxemburgo esse mercado era muito menor, e praticamente não havia esse tipo de ativo financeiro nos balanços. Assim, o impacto sobre os bancos foi pequeno.

 

 

DINHEIRO – Não houve perdas?


FRIEDEN – As perdas restringiram-se basicamente aos fundos que investiam nesses ativos de crédito, mas esse dinheiro é dos investidores e não afeta diretamente os bancos. O sistema financeiro é sólido e estamos buscando aprimorar ainda mais os controles.

 

 

DINHEIRO – Quais mudanças vocês pretendem fazer?


FRIEDEN – A maior alteração já está em curso e é a adequação dos padrões de contabilidade bancária de Luxemburgo às regras globais.

 

 

DINHEIRO – E os investimentos diretos de Luxemburgo no Brasil?


FRIEDEN – Luxemburgo é um país pequeno, com 500 mil habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de 40 bilhões de euros. Os maiores investimentos no Brasil são os da siderúrgica ArcelorMittal e de algumas empresas de logística. 

 

 

DINHEIRO – Isso deve crescer?


FRIEDEN – Não no setor produtivo. Acreditamos que a maior possibilidade de integração entre nós e o Brasil é por meio do sistema financeiro.