O economista Mark Gertler, que foi por décadas parceiro acadêmico de Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, acredita que os bancos centrais estão sobrecarregados nesta crise. O especialista em política monetária, que vem ao Brasil nesta semana para um encontro promovido pela Fundação Getulio Vargas, conversou com a DINHEIRO. 

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Há um peso excessivo sobre os bancos centrais para trazer as soluções para a crise? 

Sem dúvida. Os bancos centrais foram historicamente importantes para manter a estabilidade financeira, mas quem deveria resolver a instabilidade fiscal são os governos. A ineficácia dos governos está colocando esse peso sobre os bancos centrais.

 

 

Até que ponto a política monetária é eficaz contra a crise?

Acho que as primeiras medidas adotadas pelo Federal Reserve (Fed) contra a crise americana preveniram uma catástrofe. Mas as iniciativas mais recentes tiveram um efeito bem mais modesto. A bola agora está com as autoridades fiscais.

 

 

As taxas de juros próximas de zero nos Estados Unidos não estimulam a formação de futuras bolhas? 

Não, esse nível de juros é necessário agora. A situação estaria muito pior no mundo se os juros fossem mais altos. 

 

 

O FMI alertou para o risco de que os juros reais negativos estimulem a tomada de risco…

Isso não faz sentido, porque pressupõe que o juro baixo foi a causa da crise financeira. Não foi. O problema principal foi a falta de regulação. Se você olhar os números com cuidado, verá que não há uma relação explícita entre juro baixo e preço dos imóveis. 

 

 

Qual foi a causa então? 

O crescimento dos empréstimos subprime (para tomadores com risco de crédito ruim) e falta de fiscalização sobre os critérios desses empréstimos. Isso foi muito mais determinante para gerar a crise do que os juros.

 

 

Qual sua opinião sobre a maneira com que a Europa está tratando sua crise? 

Os governos têm sido lentos demais, e ainda é cedo para confiar numa solução. 

 

 

O que deve ser feito para resolver o problema dos bancos europeus? 

É urgente registrar como prejuízo toda dívida problemática que está na carteira dos bancos. Logo depois, seria necessário usar recursos públicos para assegurar a viabilidade do sistema financeiro.  

 

 

Como resolver uma crise de endividamento público sem aprofundar a paralisia das economias da zona do euro? 

Os países problemáticos precisam reduzir despesas, mas os que têm economias saudáveis deveriam adotar estímulos fiscais. O Banco Central Europeu (BCE) deveria reduzir juros para ajudar a zona do euro a voltar a crescer. 

 

 

Qual o papel do Banco Central Europeu (BCE) na crise? 

Ele precisa fazer parte de uma política maior, não agir sozinho. Se esse conjunto de medidas for adotado, o BCE poderia comprar títulos de dívida que têm baixo risco, mas passam por problemas de liquidez, como fez o Fed em alguns mercados de dívida privada no auge da crise financeira americana. Mas, para que o BCE tenha credibilidade, precisará de apoio fiscal explícito dos governos europeus.

 

 

Como prevenir novas crises? 

É fundamental regular os bancos comerciais, aumentar as exigências de capital e criar índices mínimos de liquidez que evitem a tomada excessiva de risco. Estamos tentando criar um modelo que ajude a estimar esses níveis de capital necessários de acordo com as chances de perdas no crédito imobiliário ou empréstimos a empresas, por exemplo.