DINHEIRO – Os investimentos em infra-estrutura no País continuarão em alta?
PAULO GODOY
– Até agora, não vimos cancelamentos de projeto. O governo tem se esforçado em garantir o crédito e as empresas que haviam feito planos de investimento pretendem cumprir os planos. Temos R$ 100 bilhões em contratos já assinados, e essa cifra deve ser a média de investimento anual no biênio 2009/2010. Entre 2005 e 2006, foram R$ 75 bilhões.

DINHEIRO – São investimentos públicos ou privados?
GODOY
– Os dois setores continuam investindo. O crescimento da economia brasileira neste ano motivou empresas e garantiu mais recursos nos orçamentos públicos.

DINHEIRO- Qual o destaque?
GODOY
– Os setores de óleo e gás têm liderado os investimentos em infra-estrutura. O segmento de energia elétrica também tem demandado muito recurso. Essas duas são disparadas as locomotivas da expansão. No outro extremo, o setores logístico e de saneamento estão abaixo do ideal.

DINHEIRO – Mas até grandes empresas já encontram dificuldades em captar recursos para financiar seus projetos.
GODOY
– Isso é fato, mas passa. A Petrobras conseguiu captar US$ 750 milhões no Exterior.

DINHEIRO – Qual é o maior desafio agora?
GODOY
– Precisamos superar a questão do crédito. Cerca de 20% dos financiamentos da área de infraestrutura no País vinham do mercado externo. Como essa fatia sumiu, ou passou a vir a conta-gotas, houve uma pressão muito grande sobre o crédito interno. Esse é o maior obstáculo.

DINHEIRO – E se faltarem recursos?
GODOY
– Nesse caso, será preciso estabelecer as prioridades. Os projetos inadiáveis, como energia e concessão de rodovias, não podem ser adiados. Mas, para projetos bem estruturados, sempre há gente disposta a investir. Mesmo do auge da crise, houve concessões bem-sucedidas de rodovias federais e aqui em São Paulo.

DINHEIRO – Onde o problema é maior?
GODOY
– Existe uma defasagem em saneamento, estradas, portos e aeroportos. Por isso é fundamental a participação da iniciativa privada.

DINHEIRO – Aumentar a participação do setor privado nos projetos de infra-estrutura é a única saída?
GODOY
– Com certeza. Os governos federal e estadual devem fortalecer o sistema de concessões para reforçar a base de investimentos. O orçamento público tem muitos outros objetivos e existe um setor privado disposto a participar de grandes obras de infra-estrutura. Basta unir a vontade de um com a necessidade de outro para garantirmos a atual taxa de crescimento dos recursos voltados à infra-estrutura. Afinal, a Copa do Mundo de 2014 está se aproximando.

DINHEIRO – Haverá dinheiro para as obras da Copa?
GODOY
– Em fevereiro vamos entregar ao governo e à CBF um estudo sobre as atuais condições da infra-estrutura do País e o que é preciso ser feito em termos de aeroportos, vias de acesso, rodovias, telecomunicações, saneamento, entre muitos outros itens. Em março próximo, as cidades serão escolhidas. A partir daí, começaremos um trabalho de coordenação dos projetos para dar mais agilidade às execuções. Dinheiro para isso, espero que não falte. Afinal, a crise não pode durar tanto tempo.

DINHEIRO – Na sua opinião, quando a crise terminará?
GODOY
– Mesmo que a crise demore mais de um ano, acredito que no segundo trimestre de 2009 as coisas estejam bem mais claras. A primeira fase do problema, que foi no sistema financeiro dos Estados Unidos, já foi diagnosticada. Resta saber qual será a contaminação da falta de crédito na economia e suas implicações no Brasil.