13/04/2012 - 21:00
Aos 54 anos, o carioca Rodolfo Landim ostenta um currículo invejável no setor de petróleo. Comandou a BR Distribuidora e lançou a OGX, do empresário Eike Batista. Hoje, Landim é sócio da Maré Investimentos, que, em parceria com o Banco Santander, está captando R$ 2 bilhões para investir em empresas de óleo e gás. Além da atividade de financista, Landim comanda a petrolífera YXC. Nesta entrevista, ele também fala da disputa judicial que trava com Batista, de quem garante ter direito de receber cerca de US$ 270 milhões. “Tenho a esperança de que a justiça seja aplicável igualmente a todos os cidadãos”, afirma.
Os recursos gerados pelo pré-sal são vistos como importantes para o desenvolvimento do Brasil. O sr. avalia que o governo está ciente do tesouro que tem em mãos?
Sem dúvida, o pré-sal é uma bênção para o País, pois eleva o Brasil a outro patamar, saindo de reservas de 16 bilhões de barris de petróleo para até 100 bilhões. Uma boa amostra de que o governo está gerindo essa riqueza de forma correta é que, a partir da quinta rodada dos leilões, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) obrigou as empresas participantes a adotarem um percentual de conteúdo local em seus equipamentos e na contratação de serviços.
Essa política não estaria encarecendo ou atrasando a produção de equipamentos?
Esse é um preço a ser pago. Faz parte da regra do jogo e o governo brasileiro está adotando uma política defensiva que garante a formação de mão de obra qualificada e bem remunerada no País, além de privilegiar o desenvolvimento de um setor estratégico. Na Noruega, foi usado um modelo semelhante e, hoje, o país possui uma indústria competitiva, em escala global, nessa área.
Mas, no curto prazo, isso não está gerando mais problemas que benefícios ao setor?
Desenvolver uma indústria de bens e serviços voltada à cadeia de petróleo e gás não é uma tarefa elementar. Não dá para fazer omelete sem quebrar os ovos. Os sacrifícios são inevitáveis e quem vai pagar o preço dessa opção estratégica do governo brasileiro são empresas que têm condições de absorver esses custos. Isso é mais eficiente do que se fosse criado um novo imposto.
A suspensão dos leilões de exploração de petróleo não emite uma mensagem dúbia para quem pretende apostar no Brasil?
Certamente, não se trata de um sinal positivo. O governo e a ANP têm seus motivos para proceder dessa forma. Mas acredito que a situação deverá ser revertida em breve. Pelo menos, foi isso que sinalizou o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Em recente viagem ao Catar, ele afirmou que seriam retomados os leilões até o final deste semestre. A paralisação não foi boa nem mesmo para a Petrobras, que, na prática, fica sem poder expandir sua área de prospecção.
O episódio do novo vazamento causado pela Chevron, na Bacia de Campos, não indicaria que algumas empresas estão despreparadas para operar em uma área sensível?
Toda vez que acontece um acidente, a tendência é que se busquem culpados. Prefiro ver os problemas pontuais como oportunidades para o setor melhorar. Baseado nos dados que são de conhecimento geral, nada indica que os vazamentos se devam à má execução do projeto. As falhas ocorreram devido a fatores difíceis de serem previstos por se tratar de uma região geológica de difícil operação. Não custa lembrar que a Chevron é uma empresa de reputação sólida e o poço é operado em parceria com a Petrobras. É claro que esses acidentes são indesejáveis, mas não é por isso que vamos deixar de explorar nossos campos marítimos. O que devemos fazer é incluir um número maior de análises obrigatórias.
Mas a British Petroleum também tem grande reputação e foi responsável por uma megacatástrofe no Golfo do México…
São casos diferentes. Os dois acidentes no Brasil estão ligados a aspectos geológicos que não eram conhecidos. No caso da BP, houve uma sucessão de barbeiragens que geraram uma megacatástrofe ambiental.
O mercado mundial vive um ciclo de elevada liquidez. O sr. acredita que os projetos ligados ao pré-sal podem ser interessantes para os investidores globais?
Sem dúvida. Hoje, o Brasil é a melhor opção para quem pretende investir em petróleo. E isso fica evidente nos recentes movimentos vistos no mercado: a compra dos ativos da britânica BG e da portuguesa Galp pela chinesa Sinopec, além da associação da anglo-russa TNK-BP aos projetos da brasileira HRT. Acredito que outros grupos deverão seguir o mesmo caminho. O Brasil é hoje um país respeitado, pois temos marcos regulatórios bem definidos e uma estrutura jurídica confiável.
Como é ser um dos maiores desafetos do homem mais rico do Brasil?
Isso é você quem está falando.
A disputa judicial que o sr. trava com a EBX prejudica seus negócios?
O Brasil é um país grande e tem oportunidade para todo mundo. Deixei grandes amigos no grupo EBX e torço para que as empresas sejam bem-sucedidas. O que houve foi um problema localizado entre o Batista e eu, ligado a um fato específico. (Landim argumenta que teria direito a receber cerca de U$S 270 milhões da EBX, montante prometido por Batista, em um bilhete de próprio punho, assinado pelo empresário).
O sr. acredita que poderá sair vencedor dessa batalha?
A questão está entregue à Justiça. Tenho certeza de que estou com a razão e acredito que a sociedade brasileira seja suficientemente evoluída para que compromissos assumidos por escrito, de próprio punho, e assinados, sejam reconhecidos pela Justiça.