Viviane Senna preside uma das maiores organizações não-governamentais do País. O Instituto Ayrton Senna já investiu R$ 100 milhões em projetos sociais desde 1994, atendeu 4 milhões de crianças e funciona como uma empresa. Hoje, Viviane comanda 60 funcionários e uma receita milionária vinda dos direitos de licenciamento de mais de 350 produtos com as marcas Senna e Senninha. Às vésperas do instituto completar 10 anos, ela concedeu a seguinte entrevista à DINHEIRO:

DINHEIRO ? Ao longo de 10 anos o instituto se tornou uma grande empresa?
VIVIANE SENNA ? Não somos uma empresa que possui uma
fundação, somos uma fundação que possui uma empresa.
Quando o Ayrton sofreu o acidente, resolvemos transformar seu legado num patrimônio intangível ? mas também tangível tendo
em mente o que ele gera em recursos no Brasil e no mundo.
Todo dinheiro que entra vem dos 350 produtos licenciados
com as marcas Senna, Senninha e a imagem do Ayrton.

Quanto as marcas movimentam?
Já foram aplicados mais de R$ 100 milhões em projetos que vieram dos licenciamentos e, posteriormente, envolveram a participação de empresas em parceria com o instituto, em torno de 50% para cada parte. Em 2004 vamos investir R$ 20 milhões juntos.

As empresas estão aumentando a participação no terceiro setor?
Elas estão procurando gente que sabe trabalhar na área. A Audi, a Nokia, a Microsoft e outras empresas resolveram fazer algo pelo País e quiseram fazer isso conosco. Juntaram forças com quem sabia ajudar os outros. Resultado: nossa verba dobrou.

Qual é a diferença de dirigir uma empresa e um instituto?
A lógica empresarial é a mesma. A diferença é que em vez de produzirmos aparelhos, fabricamos gente.

Há inspiração em algum modelo internacional?
Isso foi feito com as fundações Kellog, Bradesco e várias ONGs.

Em 1994 o Instituto atendeu 21 mil crianças e este
ano atenderá 1,25 milhão de crianças. Este número
não mostra a falta de eficiência do governo?
A responsabilidade é de todos, inclusive do governo. Por
termos transferido todo o ônus para o Estado, ele hoje é extremamente centralizador.

Qual é o principal problema do País?
A educação. Se você comparar o PIB brasileiro com o IDH isso fica mais claro. Nós somos a 15ª economia do mundo e, ao mesmo tempo, aparecemos na 65ª posição no IDH. É como se tivéssemos uma ilha econômica de Suíça em um mar de Afeganistão. Apenas 3% dos 36 milhões de crianças que estão na escola fazem oito séries em oito anos e só 50% concluem a 8ª série.

Quanto se perde com isso?
O governo gasta R$ 5,8 bilhões ao ano por causa da repetência.

O que o instituto faz para diminuir esses altos índices de repetência e evasão escolar?
Criamos laboratórios para desenvolver fórmulas educacionais. É uma espécie de vacina. Deixamos de ser um centro de atendimento para ser um centro de desenvolvimento. Criamos, por exemplo, o Acelera, que virou política pública nos Estados de Goiás e Pernambuco e este ano vai para Tocantins e Paraíba. Empresas como Vivo e Microsoft são parceiras neste programa.

Como é este programa?
Você pega as crianças defasadas e faz com que elas recuperem quatro anos em apenas um. Devolvemos a auto-estima das crianças, fornecemos material didático e treinamos os professores.