30/11/2021 - 11:19
Termina nesta terça-feira (30) o prazo ao pagamento da primeira parcela do 13º salário a trabalhadores formais e segurados pelo Instituto Nacional de Segurança Social (INSS). O cenário econômico instável suscita a dúvida: quais as melhores opções para usar a renda extra?
Especialistas ouvidos pela IstoÉ Dinheiro Online são unânimes em relação à prioridade: pagar dívidas. Com a taxa selic em 7,75% ao ano, é recomendado principalmente quitar despesas parceladas e evitar gastos com juros.
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“Quem tem dívida tem que pagar para evitar os juros decorrentes, que são maiores que qualquer aplicação financeira razoável sem risco. Então, a primeira coisa é pagar as dívidas”, explica Rodrigo de Losso da Silveira Bueno, professor titular da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).
Pesquisa do Boletim Focus divulgado pelo Banco Central na última segunda-feira (29), feita com 100 economistas, indica que o mercado espera uma piora da inflação aos próximos meses. A projeção de alta do Índice de Preços do Consumidor Amplo (IPCA) aumentou pela 34ª semana seguida e foi a 10,15% neste ano. Para 2022, a expectativa é de IPCA a 5%. Em relação à Selic, a expectativa é que chegue a 11,25% no final de 2022.
A estimativa econômica pessimista é influenciada por alguns fatores: desvalorização do real ante o dólar (questão cambial), baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), alto desemprego, queda de renda e poder de compra, eventual nova onda de Covid-19 causada pela variante ômicron e eleições, que demandam alto gasto da máquina pública e geram incertezas. Portanto, preparar-se para evitar novas dívidas é também essencial neste momento para quem recebe o 13º salário.
“Depois de pagar as dívidas, é recomendável poupar o máximo que conseguir e guardar parte do que sobrar para novas contingências que possam aparecer durante o ano e evitar dívidas. É importante guardar dinheiro para despesas de início de ano: IPVA, IPTU, que convém pagar à vista com desconto em vez de parcelar, matrícula e material escolar”, recomenda Bueno.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta terça (30) que a taxa de desemprego no Brasil ficou em 12,6% (13,5 milhões de pessoas) nos últimos três meses até setembro. O número é menor do que o auge de 14,7% no primeiro trimestre deste ano, embora ainda alto.
Apesar da redução, o IBGE aponta que a maioria das vagas criadas são informais ou de baixa qualificação. Este fator, somado ao aumento da inflação, provoca uma queda na renda média do trabalhador, que ficou em R$ 2.766, queda de 11,1% em relação a novembro de 2020.
A agência de classificação de risco Austin Rating divulgou neste mês que o Brasil possui o 4º pior índice de desemprego entre as principais economias do mundo, atrás de Costa Rica, Espanha e Grécia.
“A queda na renda está relacionada à questão do Brasil porque não acontece em outros lugares do mundo – países desenvolvidos, mesmo com inflação, têm aumento de renda e emprego alto. Não espero que piore mais, mas a melhora está muito devagar. Acho que 2022 será um ano que (a economia) vai parar de piorar com tendência a uma leve retomada, mas o que vai determinar é o aumento do emprego”, analisa Vinicius Machado, economista e gestor de investimentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Já quitei minhas dívidas e me preparei para 2022. E agora?
Quem já possui organização financeira em dia, sem dívidas e com um colchão de segurança para 2022, pode pensar em planejar suas compras de Natal antes que a inflação aumente ainda mais o preços dos produtos. No entanto, deixar as compras natalinas para o início de 2022 pode ser uma boa opção.
“Época de Natal não é o momento de consumir em função da inflação crescente. Se for para comprar, a recomendação é pesquisar o lugar mais barato, tentar descontos e pagar à vista, que é sempre mais interessante que pagar a prazo”, sugere Bueno, que propõe também renegociar contratos de planos de internet e telefone, por exemplo, para reduzir os preços.
Por fim, depois de pagar dívidas, preparar-se para contingências futuras e fazer as compras de natal, caso sobre dinheiro, uma boa opção pode ser investimento. Com os juros altos e a expectativa de subirem ainda mais, uma boa opção são investimentos pós-fixado atrelado ao IPCA.
“Poupança não é uma boa aplicação. Poderia ser fundos como CDB (Certificado de Depósito Bancário), pós-fixado atrelado ao IPCA de preferência. É importante buscar a melhor aplicação financeira para manter a correção monetária. Se não for possível, tentar não se endividar”, argumenta Bueno.
Já Machado discorda e acredita que a poupança pode sim ser uma boa opção. “Duas opções para o 13º salário: poupança, que é muito barata em relação a outros investimentos e não tem nenhum risco. Mas, melhor que a poupança, é botar dinheiro na conta remunerada de bancos digitais que remuneram 100% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) com resgate a qualquer momento, o que rende mais que a poupança”.
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o pagamento do 13º salário a 83 milhões de brasileiros pode injetar até R$ 233 bilhões na economia, que representa 2,7% do PIB. O rendimento adicional médio do benefício é de R$ 2.539.