26/09/2012 - 21:00
A especulação que fez o tigre correr
O ano de estreia da revista DINHEIRO terminou sob o signo da primeira grande crise da globalização. Investidores entraram em pânico no mundo todo quando se percebeu que os badalados tigres asiáticos eram, na verdade, frágeis bichanos diante de desequilíbrios cambiais e financeiros provocados pelo forte fluxo de capitais. O estopim da crise do Sudeste Asiático foi a desvalorização do baht, da Tailândia, em julho. Coreia do Sul, Indonésia, Malásia e Hong Kong (recém devolvida pelos britânicos aos chineses) tombaram na sequência.
Nem confúcio explica: investidores em Hong Kong apavoram-se com a queda
de 15,5% do índice local de ações
O contágio financeiro (expressão criada na época) não poupou ações e commodities e dizimou trilhões de dólares em dezenas de países. O barril de petróleo caiu para US$ 11. O receituário econômico ortodoxo do chamado “Consenso de Washington”, executado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), revelou-se um desastre, conforme testemunhou a DINHEIRO in loco em Hong Kong, no auge dos acontecimentos. Os pacotes de resgate do FMI exageravam nos juros altos e nos cortes de gastos públicos, aumentando a recessão em vários países – qualquer semelhança com crises posteriores, inclusive no Brasil, não é mera coincidência.
O ministro que não queria ser notícia
Homem forte do governo Fernando Henrique Cardoso, O ministro da Fazenda Pedro Malan, foi o personagem da primeira capa da DINHEIRO. discreto, Ele ficou oito anos no cargo, um recorde. O ex-negociador da dívida externa nos anos 1980 assistiu à transformação da economia brasileira e, depois da crise asiática, enfrentou a da Rússia (1998) e a do Brasil (1999), quando o real flutuou. Deixou o poder junto com FHC e hoje trabalha para o Itaú Unibanco.
Alarme no pregão
Quem foi o grande vilão da crise da Ásia? O temido megaespeculador George Soros foi demonizado pelo primeiro-ministro da Malásia, Mahatir Mohamad, mas não desceu ao inferno. Condenados foram os regimes cambiais que atrelavam as moedas ao dólar americano, caso do real e do peso argentino. Os mercados pressionaram por desvalorizações e testaram a resistência dos países, que só adotaram a livre flutuação alguns anos depois.
Em meio à gigantesca fuga de capital estrangeiro do País, a bolsa criou em 27 de outubro o circuit breaker, mecanismo que interrompe as negociações se a queda do índice supera os 10%. O mecanismo foi acionado quando o Ibovespa fechou em queda de 8,15%, em 12 de novembro. Era para ser temporário, mas resiste até hoje. Já o pregão a viva-voz da Bovespa.
Gustavo Franco, diretor do Banco Central, à DINHEIRO. Ele defendeu
o câmbio fixo de R$ 1,1 por dólar com unhas e dentes até perder a briga,
em janeiro de 1999: “Desvalorizar o real não é opção. Traz inflação.Mefistófeles
oferece a emissão de moeda como forma de vender a alma ao diabo”
O toque de Midas de Jobs
A aura de genialidade de Steve Jobs começou a ser criada depois de sua volta à Apple, em 1997. Ele havia sido demitido 12 anos antes da companhia que fundou na década de 1970. Jobs comprou a Pixar e retornou num momento em que a Apple estava à beira da falência.
A empresa que criou fora da Apple desenvolveu o que seria o sistema operacional dos produtos que revolucionariam o mercado – o primeiro deles foi o IMac. O iPod, o iPhone e o iPad transformaram a Apple na maior empresa do mundo, em valor de mercado: US$ 656 bilhões em agosto de 2012. “O simples é mais difícil que o complexo”, dizia Jobs. Ele morreu em 2011. Veja quantos aparelhos a Apple já vendeu:
Corrida dos investimentos
O que dá mais no Brasil: renda fixa, bolsa ou dólar? Acompanhe, de 1997 a 2012, os melhores investimentos. O gráfico ao lado, que segue nas próximas páginas, mostra a evolução anual de R$ 100 aplicados em 3/10/97, data de estreia da DINHEIRO
O novo dono da Vale
O empresário Benjamin Steinbruch, que havia comprado a CSN quatro anos antes, arremata a Vale do Rio Doce por US$ 3,3 bilhões junto com fundos de pensão e bancos. Ficou até 2000.
O maior fiasco da história
O casamento de US$ 44 bilhões da WorldCom com a MCI foi celebrado como a maior fusão da história, até então. Mas a empresa do CEO Bernie Ebbers fraudou balanços e faliu em 2004.
Mansur, o rei destronado do varejo
Ricardo Mansur queria ser um magnata do varejo. Arrematou o Mappin e a Mesbla e virou potencial comprador de grandes redes como G. Aronson e Casas Bahia. O empresário, entrevistado em primeira mão pela DINHEIRO, também controlava o banco Crefisul. Em apenas dois anos, seu castelo desmoronou e ele foi destronado com a falência das redes. O Crefisul também quebrou, e Mansur foi preso em 2001 por crime contra o setor financeiro. Solto, fugiu para Londres.
Entrevista do ano
“Você já viu algum banqueiro sair perdendo?”
Sem papas na língua, o empresário Antônio Ermírio de Moraes sempre criticou o setor financeiro, como na entrevista à DINHEIRO:
A crise financeira no mundo dificulta a obtenção de recursos?
Esta crise é uma crise de irresponsabilidade. A começar pelos bancos, que deram crédito demais a quem não merecia tanto. Agora está todo mundo nu e o que se nota é um certo receio dos banqueiros em liberar novos créditos. A Coreia era cantada em verso e prosa, e agora se vê que era uma porcaria. O que me preocupa é que, com a desvalorização das moedas nos países do Sudeste Asiático, fica mais difícil para o Brasil exportar.
Os investidores aprenderam alguma lição?
Os sem-vergonha das bolsas continuam sendo sempre sem-vergonha o resto da vida. É claro que alguém perdeu. Mas esse pessoal não aprende. O que os move é a vontade de ganhar dinheiro sem trabalhar. Só que, no fundo, os únicos que ganham dinheiro são os que bancam o jogo. Você já viu algum banqueiro sair perdendo?
O seu grupo também tem um banco…
O Banco Votorantim foi criado para deixarmos de pagar comissões a outros bancos.