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Serjão, o vendedor de vento

 

No início dos anos 1990, um telefone fixo chegava a custar até US$ 10 mil no mercado paralelo. O celular era também um símbolo de status social. Tudo isso começou a mudar com a privatização do setor de telecomunicações, um proposta do então ministro das Comunicações Sérgio Motta, conhecido por seu estilo trator. Foi ele quem concebeu o modelo do leilão, dividindo a estatal em 12 empresas, as chamadas baby teles. Criou também o conceito de empresas-espelho para estabelecer concorrência entre as companhias privatizadas. Era a venda de vento, como dizia Serjão. Ele morreu em abril de 1998, três meses antes da venda da Telebrás, a holding que reunia as empresas estatais de telefonia. Com sua morte, coube a Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES, a tarefa de conduzir o leilão. 

 

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Alô, alô, FHC: o ministro Sérgio Motta, de férias com a família na França, em ligação para Brasília  

 

O sisudo Mendonça de Barros soltou uma sonora gargalhada ao fim do pregão, em 29 de julho. Não era para menos. A venda da Telebrás, que arrecadou R$ 22 bilhões na época, foi a maior privatização da década. Acusado de favorecer algumas empresas no leilão, Mendonça de Barros foi afastado do governo. Mais de 14 anos depois, a abertura do mercado trouxe a universalização dos serviços. Em 1998, havia 4 milhões de assinantes de celulares. Hoje, são 256 milhões , 1,3 aparelho para cada brasileiro. O setor ficou concentrado nas mãos de quatro grandes corporações. A principal é a espanhola Telefônica, dona da Vivo. Em seguida vem a mexicana América Móvil, controladora de Embratel, Claro e Net, do bilionário Carlos Slim. Disputam ainda o mercado a luso-brasileira Oi e a italiana TIM.

 

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FHC diz ao povo que fica

 

Com 53% dos votos válidos a seu favor, Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi o primeiro presidente reeleito do Brasil. Isso foi possível graças a uma polêmica emenda constitucional, aprovada em 1997. Gravações telefônicas apontavam que quatro deputados teriam recebido R$ 200 mil para votar a favor da reeleição. Nos primeiros 15 dias do seu segundo mandato, FHC enfrentou uma das maiores crises do seu governo: a desvalorização do real. Seu segundo mandato também ficou marcado pelo apagão energético de 2001. Ao deixar a presidência, apenas 26% dos eleitores consideraram o seu governo ótimo ou bom. 

 

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Horário político: FHC grava comercial para a campanha que o reelegeu 

 

 

Uma estagiária do barulho

 

A estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky causou uma verdadeira balbúrdia na política americana. Suas aventuras sexuais com o presidente Bill Clinton, que incluíam acessórios como um charuto da marca Churchill, por pouco não derrubaram o homem mais poderoso dos EUA. Clinton foi acusado de falso testemunho por mentir sobre a relação em um processo de abuso sexual movido contra ele em 1997. 

 

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A quebra da Encol

 

Em julho, a DINHEIRO obteve com exclusividade disquetes que mostravam como funcionava o caixa 2 da construtora Encol. A empresa de Goiânia, que chegou a ser a maior do País, quebrou em 1997, deixando 710 obras paradas. Os mutuários, muitas vezes sem saber, contribuíram para a falência da companhia. Os compradores que concordavam em pagar por fora parte do valor do imóvel ganhavam polpudos descontos. 

 

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Inferno vermelho

 

A Rússia declarou moratória em 17 de agosto. Era o ápice de uma crise que resultou na desvalorização do rublo e em uma recessão global. Quatro dias depois, a crise chegou ao Brasil. O sistema de interrupção automático do pregão da Bovespa foi acionado após uma queda de 10% na bolsa. Dessa tempestade, surgiu um novo líder: Vladimir Putin. Ele foi eleito presidente no ano seguinte e manda até hoje. 

 

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Moeda podre: cidadãos russos fazem fila para trocar o desvalorizado

rublo por dólares em Moscou  

 

 

 

Tela azul

 

Bill Gates, da Microsoft, lança o Windows 98 e enfrenta processo antitruste por incluir seu navegador ao sistema. escapou de ser fatiada em duas e domina o mercado. Hoje, é ameaçada pela computação em nuvem.

 

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Cinema bilionário

 

O filme Titanic, do cineasta James Cameron, foi o primeiro a faturar US$ 1 bilhão. Sua megaprodução Avatar, de 2009, rompeu a barreira dos US$ 2 bilhões e Cameron virou ativista ecológico

 

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Corrida dos investimentos

 

No primeiro ano de vida da DINHEIRO, a bolsa e o ouro derreteram com as crises globais.

 

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Entrevista do ano


“O capitalismo vai desabar. A menos que o consertemos”

 

Um dos maiores mitos de Wall Street, George Soros falou à DINHEIRO em outubro, ainda sob os efeitos da crise russa. E cantou a desvalorizacão do real do ano seguinte:

 

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O que o sr. acha das propostas de se retornar a um sistema de taxas fixas de câmbio?

Todo sistema de câmbio é imperfeito. Comparo isto ao matrimônio. O que quer que prevaleça, o outro caminho é mais atrativo. 

 

Que desafios enfrenta a sociedade aberta nos dias de hoje?

O que eu chamo de sociedade aberta é uma sociedade que reconhece que a perfeição é inalcançável. Assim, tem de se contentar com a coisa melhor que estiver mais próxima. Este é um dos motivos pelos quais eu acho que o sistema capitalista vai desabar — a menos que o consertemos.

 

O real está sobrevalorizado?

Há um consenso de que o real está sobrevalorizado. É só uma questão de quanto, de a correção ser feita de uma vez só ou aos poucos.