26/09/2012 - 21:00
O legado de um ex-metalúrgico
Em outubro de 2002, o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente da República. Uma vitória conquistada em meio a muitas incertezas e a uma boa dose de terrorismo do mercado financeiro internacional. Às vésperas da eleição, o chamado risco-país, medido pelo J.P. Morgan, atingiu 2.436 pontos, equivalente ao de países como Paquistão e Burundi. O dólar foi a R$ 3,94. Para acalmar o mercado, Lula divulgou a Carta aos Brasileiros.
Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro discurso como presidente eleito, na avenida paulista,
em outubro de 2002: ”Precisamos garantir que cada brasileiro tenha o direito
de tomar café da manhã, almoçar e jantar todo santo dia”
No documento, o PT assegurava que, em caso de vitória, todos os contratos nacionais e internacionais seriam respeitados. Oito anos depois, Lula deixou um legado que vai muito além da redução da fome no Brasil. Durante sua gestão, quase 40 milhões de brasileiros deixaram a linha da pobreza. O crédito aumentou em 20 pontos percentuais e ficou próximo a 50% do PIB. Em um efeito cascata, o crescimento do PIB foi de 7,5% em 2010, duas vezes superior à média de 2,6% dos quatro anos anteriores. Popular, ainda emplacou Dilma Rousseff em 2010.
O caneco de R$ 30 bilhões
O meio-campista Klebérson cruza. Rivaldo deixa passar entre suas pernas a bola, que sobra para Ronaldo tocar suavemente para o fundo das redes. Essa é a descrição do lance do segundo gol do Brasil contra a Alemanha, na final da Copa do Mundo do Japão e da Coreia do Sul. A quinta vitória brasileira em uma Copa do Mundo trouxe uma recompensa indireta: R$ 30 bilhões. Esse foi, na época, o montante estimado do impacto econômico gerado pela vitória no torneio disputado na Coreia do Sul e no Japão. Ele se traduziu em espaço publicitário, em investimentos que aproveitaram o momento de empolgação e no aumento de vendas de vários produtos. E o capitão Cafu? Virou empresário, claro.
Assim nasce uma moeda
A moeda única europeia, o euro, entrou em circulação nos países que compõem a União Europeia em 1o de janeiro de 2002. Logo no primeiro dia útil do ano, valorizou-se 1,6% em relação ao dólar. No Brasil, o euro foi saudado como mais uma forma de estimular as exportações. Além de ser recebido pelos europeus com esperança, depois de uma década de preparativos para sua implantação, a moeda surgiu em meio a boas perspectivas de crescimento, mas a lua de mel durou pouco. Hoje, ela é sinônimo de incertezas em função da crise internacional iniciada em 2008.
A maior fraude da história
A derrocada da auditoria Arthur Andersen começou com a quebra do gigante de energia Enron, que entrou para a história do capitalismo como a maior e mais rápida falência já ocorrida nos EUA. Os principais executivos da Enron fraudaram balanços e deixaram para trás uma empresa falida, com US$ 1,1 bilhão no bolso. Um dos efeitos do episódio foi a criação da lei Sarbanes-Oxley, em julho de 2002, nos EUA, segundo a qual os relatórios financeiros das empresas com ações em bolsas americanas devem conter uma declaração do presidente e do diretor-financeiro se responsabilizando pelas informações.
Petróleo privado
Em agosto de 2002, a companhia anglo-holandesa Shell foi a primeira empresa privada a produzir petróleo no Brasil.
Parla, TIM!
A TIM lançou seu serviço de telefonia celular no País.comandada por Marco Provera, ela investiu US$ 4 bilhões. Em 2012, a operadora foi proibida de vender celular em 20 estados do Brasil.
Corrida dos investimentos
No quinto ano da DINHEIRO, a bolsa voltou à lanterna dos investimentos.
Entrevista do ano
“A moeda estável é uma mentira”
Na ocasião desta entrevista, José Alencar, dono do grupo têxtil Coteminas, era cotado para ser o vice na chapa do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Alencar, que morreu em março de 2011, aos 79 anos, subiu a rampa com Lula e foi vice durante oito anos, sempre criticando os juros altos:
O que os empresários esperam do próximo presidente?
Que ele não esteja divorciado do Brasil real, especialmente de quem produz. Economia não é apenas a administração da moeda. É um meio para os objetivos sociais.
Isso quer dizer que o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso está nessa condição submissa?
Ele é um diplomata, um poliglota, um intelectual. Mas não fez nenhum investimento em infraestrutura.
A reforma tributária resolveria o problema dos empresários?
Não. O problema são os impostos em cascata, como PIS e Cofins. Mas é preciso também dar um tratamento diferente às taxas de juros. O Brasil não pode continuar nessa política de juros elevados. Se dependermos dessa política para mantermos a moeda estável, então essa moeda estável é uma mentira.