26/09/2012 - 21:00
OK, Meirelles, você venceu
Crescimento como nos tempos do milagre, desemprego em queda por seis meses consecutivos e investimentos na produção voltando ao pico. As boas-novas do final de 2004 brotavam por todos os lados. O PIB cresceu 5,7%, o melhor resultado dos últimos oito anos. O maestro da política monetária era o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Com sua fórmula de juros altos e câmbio baixo, ele pavimentou o caminho para a retomada. “Antes diziam que não podia dar certo. Depois disseram que o Brasil cresceria apesar da má vontade do BC. A nova tese, também errada, é de que o crescimento ou poderia ser maior ou vai durar muito pouco”, afirmou Meirelles à DINHEIRO na ocasião. “Acredito que os críticos vão ter de começar a rever os seus conceitos”.
Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, em entrevista à DINHEIRO: “Diziam que
não ia dar certo. Depois que o Brasil cresceria apesar da má vontade do BC”
Por que Lula sorri?
Por que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está feliz ao lado de seus ministros Celso Amorim, Antônio Palocci e Luiz Fernando Furlan? É fácil de entender a razão. O Brasil começou a decolar em 2004. Depois de anos de crescimento pífio, as exportações cresceram mais de 30% e se abriu o leque de produtos para vender no Exterior. Na balança comercial, o cenário também se mostrou favorável.
Após ter registrado déficit em transações correntes de US$ 7,6 bilhões em 2002, o País teve um superávit de US$ 4 bilhões em 2003. Foi o primeiro em dez anos. Em 2004, a situação ficou ainda melhor: o saldo positivo superou US$ 10 bilhões. O bom momento econômico interno foi acompanhado de afirmação do País no plano internacional. Um breve balanço da atuação do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), por exemplo, mostra que, dos 11 contenciosos que o Itamaraty enfrentou em 2004, o Brasil se deu bem em nove.
Os meninos de ouro da internet
Desde o estouro da bolha da internet, em 2000, nada foi mais aguardado do que a abertura do capital da empresa de buscas americana Google. Fundada por Larry Page (de vermelho) e Sergey Brin, dois estudantes da Universidade Stanford, em 1998, a companhia era a joia mais valiosa da época das pontocoms.
Com o IPO, o Google captou US$ 1,6 bilhão. Suas ações, cotadas a US$ 85 em seu primeiro dia de negociação, hoje valem mais de US$ 700.
As artes e manhas de Edemar
Pode-se dizer que existem duas faces de Edemar Cid Ferreira. Na primeira, a mais conhecida, ele era dono do Banco Santos. A outra era a de mecenas, um dos principais patronos das artes no País. As duas caras caíram em novembro de 2004, quando o Banco Central decretou a intervenção em sua instituição financeira. Os fiscais do BC revelaram ao País que, no balanço em que se via um patrimônio líquido de R$ 600 milhões, existia na verdade um rombo de R$ 100 milhões. Foi um baque. Anos mais tarde, em 2011, o ex-banqueiro foi despejado da casa extravagante em que morava no Morumbi, na zona sul de São Paulo.
A revolução flex
A tecnologia Flex Fuel, o sistema pelo qual o motor funciona com álcool ou gasolina, virou a coqueluche do mercado automotivo, representando 27% das vendas de modelos novos em 2004.
Chocolate amargo
O Cade não aprovou a compra da Garoto pela Nestlé. A empresa suíça, no entanto, não aceitou a decisão e entrou na Justiça, obtendo diversas vitórias. A pendenga persiste até hoje.
Corrida dos investimentos
A bolsa patina e perde até da poupança no sétimo ano da DINHEIRO.
Entrevista do ano
“Ninguém sabe o que eu sofri”
Rei da soja e o brasileiro mais jovem a amealhar um patrimônio pessoal de R$ 1 bilhão, Olacyr de Moraes atravessava, em 2004, um momento diferente em sua vida: estava endividado.
O erro do sr. foi deixar de ser banqueiro para investir em infraestrutura?
Fiz a Ferronorte, que hoje transporta oito milhões de toneladas de soja e é vital para o agronegócio brasileiro. Investi US$ 200 milhões e a ferrovia só seria viável se o governo de São Paulo tivesse honrado o compromisso de fazer a sua parte. Era uma ponte sobre o rio Paraná. O problema é que, em vez de fazer em dois anos, conforme o prometido, fizeram em sete. Aí eu fiquei com o custo financeiro nas costas.
O que o sr. pretende fazer depois de acertar as dívidas?
Nunca mais quero fazer nada de risco. Meus últimos dez anos têm sido uma odisseia terrível para acertar tudo. Quero uma aposentadoria.
Como o sr. processou a passagem do Olimpo ao inferno empresarial?
Foi um choque brutal. Você sente uma tristeza porque realizou muito e recebe uma carga pesada e injusta. Ninguém sabe o que eu sofri.