26/09/2012 - 21:00
Crônica de uma tragédia anunciada
O acidente do voo 1907, da Gol, atingido por uma aeronave Legacy, da Embraer, que fazia a rota Brasília- Manaus, deixou muito mais do que 154 mortos em região de mata fechada, no norte de Mato Grosso. A tragédia marcou o início de uma crise sem precedentes na história da aviação comercial brasileira. Logo após o episódio, o País descobriu que o controle de tráfego aéreo padecia de graves problemas e as rotas estavam muito concentradas em Congonhas, um aeroporto localizado em uma região populosa da Zona sul de São Paulo.
Destruição: um pedaço do avião da Gol é encontrado no meio da mata fechada, em Mato Grosso
Menos de um ano depois, outro acidente voltou a chocar a opinião pública. Durante um pouso em Congonhas, um avião da TAM não conseguiu frear, saiu da pista e acabou incendiando-se ao bater num prédio da TAM Express, causando a morte de 199 pessoas. Para melhorar a eficiência na gestão do setor, a presidenta Dilma Rousseff criou, em 2011, a Secretaria da Aviação Civil. O setor privado também foi convocado para ajudar a garantir a infraestrutura adequada. Em fevereiro de 2012, três terminais foram leiloados – Guarulhos, Viracopos e Brasília. Novas concessões devem ser anunciadas nos próximos dias.
Tumulto no check-in
Sem investimentos em aeroportos, o País ficou à mercê da falta de planejamento dos órgãos públicos. Cancelamentos de viagens tornaram-se rotina em 2006, agravados por paralisações dos controladores de tráfego. Os índices de atrasos superavam 40% dos voos. No Natal de 2006, o então presidente Lula chegou a criar um gabinete de crise, para encontrar soluções práticas e salvar as viagens de fim de ano. O comando foi da então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Lágrimas pela Varig
O caos aéreo foi agravado pela agonia da Varig, uma das companhias mais tradicionais do País, que pedira concordata um ano antes. A empresa gaúcha lutava para renegociar suas dívidas e ganhar fôlego a fim de não fechar em definitivo. O retrato dessa batalha inglória foi visto no dia 11 de abril, quando aeromoças choravam na Esplanada dos Ministérios, ao lado de pilotos que tentavam subir a rampa e sensibilizar o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para ajudar a salvar a companhia. Endividada, a empresa fundada nos anos 1930, pelo empresário Rubem Berta, perdeu aeronaves e rotas de voo. O que sobrou, seria vendido, no ano seguinte, para a Gol.
O golpe do companheiro
Duas refinarias da Petrobras na Bolívia foram invadidas, sem aviso prévio, por tropas do Exército do presidente Evo Morales, que decidiu reestatizar o setor energético em seu país. O episódio gerou um conflito diplomático, resolvido com a indenização de US$ 112 milhões à estatal brasileira.
Faça o seu pedido
O McDonald’s fez um acordo milionário de recompra das unidades dos franqueados brasileiros, com os quais vinha se engalfinhando há algum tempo. O fim do litígio abriu caminho para que a matriz vendesse, em 2007, a operação brasileira – que contava então com 540 restaurantes – para a empresa argentina Arcos Dorados. A transação foi avaliada em US$ 700 milhões.
O ouro negro é nosso
O Brasil alcançou a autossuficiência na extração de petróleo, em abril de 2006. Com a entrada em operação das plataformas P-34 e P-50 da Petrobras, o País começou a extrair 1,9 milhão de barris diários, suficiente para atender à demanda interna. Hoje a companhia já supera a produção de dois milhões de barris, e projeta, para 2020, dobrar essa marca com a exploração de petróleo na camada do pré-sal.
O novo bilionário brasileiro
O banqueiro carioca André Esteves, então com 37 anos, deu mais um golpe de mestre ao vender o banco Pactual para o suíço UBS, por US$ 3,1 bilhões. Formado em matemática, Esteves foi forjado na cultura de meritocracia do Pactual, onde ingressou em 1991.
Em julho de 2008, ele surpreendeu o mercado ao sair do UBSPactual para fundar o BTGI. Um ano depois, recomprou o Pactual por US$ 2,5 bilhões. Com isso, criou o BTG Pactual, um dos principais bancos de investimento do País, que detém participação em 26 empresas. Em 2012, abriu seu capital.
Corrida dos investimentos
No nono ano da DINHEIRO, o CDI, a bolsa e o ouro se revelam bons investimentos.
Entrevista do ano
“O Brasil deixa perplexo até quem lucra com ele”
A ex-ministra da Economia Zélia Cardoso de Melo diz que o governo petista adotou uma política econômica tão ortodoxa que até os hedge funds internacionais ficam envergonhados com os ganhos bilionários no País.
A sra. foi absolvida pelo STF da suspeita de corrupção no governo Collor. Como recebeu a notícia?
Comecei a chorar. Depois de tantos anos, foi como se um peso tivesse saído das minhas costas.
Como a sra. avalia os escândalos de corrupção que hoje atingem o PT, seu antigo algoz?
Mais grave do que a profusão de escândalos é a passividade da população.
Como a sra. analisa o Brasil?
O Brasil não cresce porque o governo tem optado por uma política econômica ultraortodoxa. É uma política baseada em taxas de juros que deixam perplexo até quem ganha dinheiro com ela. Alguns hedge funds americanos não acreditam no que estão vendo por aqui.