23/01/2013 - 21:00
Taxista desde 2003, o paulistano Sérgio Siqueira, nunca fez parte de uma rede de radiotáxi. Ele prefere rodar por São Paulo de acordo com sua própria vontade, sem ter de seguir os procedimentos estipulados por uma central, como regras para atendimento de corridas e definição de uma área de atuação. Trabalhando de forma autônoma, ele consegue seus clientes aleatoriamente, enquanto circula pelas ruas de São Paulo. Se a possibilidade de atuar como um profissional independente lhe confere liberdade, o aspecto negativo é o número de passageiros, bem menor do que teria caso participasse de uma rede. No final do ano passado, no entanto, Siqueira encontrou uma maneira de engordar sua clientela sem perder a autonomia.
Mapa da mina: criado em 2003, o apontador, de Rafael Siqueira, está pronto para lucrar
com a geolocalização
Adepto da tecnologia, o taxista, de 68 anos, que se orgulha de ter um smartphone sempre à mão, passou a usar um aplicativo de celular que o auxilia a encontrar clientes. Chamado de Safertaxi, o serviço funciona da seguinte maneira: o usuário acessa o programa pelo celular, informa sua localização pelo GPS do aparelho e solicita um veículo. De forma automática, o sistema indica quais são os taxistas mais próximos e pede ao passageiro que opte por um deles. Quando o cliente envia uma mensagem de resposta, o taxista escolhido recebe as coordenadas e vai ao seu encontro. Todo o processo se dá por meio de alguns cliques no smartphone, sem a interferência de atendentes.
“O número de passageiros aumentou 20% desde que passei a utilizar esse serviço”, afirma Siqueira. “Ainda não recebo tantas corridas, mas acredito que, no futuro, boa parte de minha receita será obtida via celular.” O aplicativo usado por Siqueira é baseado naquilo que os profissionais de internet chamam de geolocalização. Essa tecnologia pode ser definida como um mecanismo que auxilia, por meios do GPS instalado em smartphones e tablets, a encontrar o local onde ficam estabelecimentos comerciais, produtos e serviços. A geolocalização se tornou um dos nichos de negócios mais promissores do mercado digital, dentro e fora do País. Nos EUA, por exemplo, esse setor já é uma realidade e está em franca expansão.
Samuel Artmann, CEO do Guiato: ”Aproximamos o varejo
tradicional do consumidor conectado”
Uma pesquisa da consultoria americana Mobile Squared aponta que os negócios envolvendo soluções de localização movimentaram US$ 594 milhões, em 2012, e a projeção é de que cheguem a US$ 1,2 bilhão, em 2014. No Brasil, ainda não há dados sobre o faturamento desse segmento, mas o caminho para a criação de serviços está sendo pavimentado graças à rápida popularização dos equipamentos móveis. Nos primeiro semestre de 2012, foram vendidos 6,8 milhões de smartphones no País, segundo a consultoria IDC. Trata-se de um avanço de 77% ante o registrado no mesmo período de 2011. A projeção da IDC é de que, em 2015, metade dos aparelhos celulares vendidos no mercado brasileiro sejam inteligentes, o que indica um futuro promissor para os projetos de geolocalização.
O Safertaxi, aplicativo usado por Siqueira, é fruto direto desse novo cenário. “Com a proliferação dos celulares e tablets equipados com GPS, os programas de geolocalização estão ficando conhecidos”, afirma André Pflug, presidente da Safertaxi no Brasil. Fundada na Argentina, a companhia começou a funcionar no País há seis meses. “Já temos mais de 22 mil usuários aqui”, diz. A Safertaxi chegou para competir em um mercado que, mesmo embrionário, já conta com outros concorrentes. A start-up brasileira Easy Taxi é uma delas. Criada em 2011, a empresa desenvolveu um aplicativo cujo funcionamento é semelhante ao do rival argentino. O software foi idealizado pelo mineiro Tallis Gomes, de 25 anos.
Depois de um período de experimentações, a Easy Taxi conseguiu se firmar e, em outubro, recebeu um investimento de US$ 10 milhões por parte da companhia alemã Rocket Internet, a maior investidora em empresas digitais no Brasil. Com o caixa revigorado, a empresa iniciou sua expansão para dez capitais, como Belo Horizonte, Fortaleza e Curitiba. Agora está sendo levado para sete países, entre eles Peru, Colômbia, Chile e México e Coreia do Sul. “Estamos direcionando o investimento recebido para a expansão da companhia.” O potencial da geolocalização também é explorado por serviços destinados a outros setores, como o de restaurantes. O aplicativo Grubster, por exemplo, faz reservas em estabelecimentos de áreas próximas às que estão os usuários.
Para atrair clientes, o serviço oferece promoções de até 30% e a possibilidade de efetuar reservas depois de poucos cliques. “A tecnologia está cada vez mais focada no desenvolvimento de projetos para equipamentos móveis”, diz Pedro de Conti, fundador do Grubster. Ao mesmo tempo em que a expansão dos smartphones e tablets estimula o surgimento de empresas específicas de mobilidade, ela permite às companhias digitais mais antigas abrir novas frentes de atuação. Foi o que aconteceu com o Apontador, site lançado em 2003 como um serviço de mapas na internet. “Naquela época, ainda não era possível criar recursos de geolocalização como os que existem hoje”, diz Rafael Siqueira, fundador e diretor de tecnologia do Apontador.
Tá na mão: a SaferTaxi, de André Pflug, auxilia passageiros e taxistas a se encontrarem
Assim, durante alguns anos o site apenas indicava endereços e rotas, como se fosse uma espécie de versão digital dos tradicionais guias de ruas. Com o avanço dos smartphones, especialmente de três anos para cá, a ferramenta evoluiu e hoje funciona como uma plataforma para a localização de estabelecimentos comerciais em geral. Sua principal fonte de receitas, aliás, é justamente a publicidade paga pelas companhias que desejam aparecer nos resultados indicados. “Quando a internet móvel se fortaleceu, já estávamos estruturados para atuar com os recursos de geolocalização”, diz Siqueira. Como se vê, essa nova tecnologia conecta rapidamente o usuário e os setores de comércio e serviços.
Mas essa aproximação pode ser reforçada se houver a divulgação de ofertas por meio de um equipamento móvel. É essa a proposta do Guiato. O aplicativo leva para o smartphone os tradicionais panfletos de promoções, que são distribuídos porta a porta ou encartados em jornais. Dessa maneira, o consumidor pode ver pelo celular ou tablet as ofertas próximas de onde ele está. Para citar um exemplo, imagine um consumidor que está no centro do Rio de Janeiro ou de Belo Horizonte e procura por “cortinas”. Ao fazer essa busca no aplicativo, o usuário vai receber indicações das lojas próximas a ele, que têm promoções de cortinas. “Pelo procedimento convencional, o varejista não tem como mensurar o impacto dos panfletos distribuídos, além de haver desperdício de material”, afirma Samuel Artmann, CEO do Guiato.
Com o programa, o comerciante sabe quantas pessoas acessaram ou clicaram nos anúncios. “Nossa proposta é reduzir a dispersão, pois entregamos o panfleto digitalmente para o usuário que está em busca daquela informação”, diz Artmann. Desenvolvido na Alemanha, o programa chegou ao Brasil há cerca de seis meses através de uma sociedade entre o grupo alemão Bonial International Group, a A5 Investments, empresa brasileira de investimentos em startups, e o investidor-anjo Flavio Jansen, ex-presidente do site de compras Submarino. “Um dos aspectos importantes da geolocalização é a possibilidade de conectar o varejo tradicional, que está fora da internet, aos consumidores conectados.”