31/12/2024 - 14:35
O ano de 2024 chega ao fim com indicadores positivos na atividade econômica e no mercado de trabalho, mas ao mesmo tempo com números que trazem certo grau de preocupação para a economia brasileira.
Em meio a piora das expectativas de inflação e alta dos juros, o real foi a moeda com a maior desvalorização do G20, e o dólar encerrou 2024 cotado a R$ 6,179, acumulando uma alta de 27% no ano, a maior oscilação desde 2020.
Veja abaixo o balanço dos principais indicadores e o que esperar para 2025:
Menor taxa de desemprego já registrada
A taxa de desocupação, mais conhecida como desemprego, fechou o trimestre encerrado em novembro em 6,1%. Esse é o menor índice da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, iniciada em 2012 pelo IBGE.
Isso representa 6,8 milhões de pessoas em busca de emprego no país. Já o número de pessoas ocupadas atingiu o recorde de 103,9 milhões. No mesmo trimestre de 2023, a taxa de desocupação era de 7,5%. Em dezembro de 2023 o índice fechou em 7,8%.
A pesquisa traz ainda dados sobre a renda do trabalhador. Em novembro, o rendimento médio ficou em R$ 3.285, crescimento de 3,4% ante o mesmo período de 2023. A massa de rendimento – somatório do que é recebido pelo conjunto de trabalhadores – foi recorde, R$ 332,7 bilhões, com alta de 7,2% em um ano.
Outro dado muito acompanhado por economistas para avaliar o mercado de trabalho é o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), compilado pelo Ministério do Trabalho e Emprego e que leva em consideração apenas o emprego formal, ou seja, com carteira assinada. De janeiro a novembro, o Brasil apresentou um saldo positivo de 2,2 milhões de empregos formais. No mesmo período de 2023, o saldo era de 1,9 milhão.
PIB de 2024 deve registrar expansão acima de 3%
A expectativa atual do mercado é que a economia brasileira, que é medida pelo PIB (Produto Interno Bruto), tenha registrado alta de 3,49% em 2024, ante 3,2% em 2023. O resultado do PIB fechado de 2024 será divulgado pelo IBGE em março de 2025.
O dado oficial mais recente é o do terceiro trimestre: a economia cresceu 0,9% na passagem do segundo para o terceiro trimestre, empurrada pela indústria e pelo setor de serviços, na 13ª expansão consecutiva. A agropecuária foi o único setor que registrou queda. Em relação ao terceiro trimestre de 2023, o PIB apresentou alta de 4%. No acumulado de quatro trimestres, o crescimento da economia do país soma 3,1%.
O desempenho brasileiro foi destaque entre o G20 (grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo mais as uniões Europeia e Africana), mas trouxe preocupações em relação aos níveis de investimento.
Para 2025, a projeção atual do mercado é de uma alta de 2% do PIB do Brasil, acima da média global.
Inflação acima do teto da meta
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chamado também de inflação oficial, acumula em 12 meses até novembro 4,87%, ficando acima da meta do governo, que é de 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. É também o maior acumulado desde setembro de 2023.
A expectativa atual do mercado é que o IPCA feche em 4,9% em 2024, se mantendo acima do teto da meta, que é de 4,5%, também em 2025.
Outro índice de inflação bastante acompanhado por economistas e inquilinos é o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M). O indicador é comumente chamado de “inflação do aluguel”, pois costuma corrigir anualmente os contratos de moradia, encerrou 2024 em 6,54%, cenário bem diferente de 2023, quando houve deflação, ou seja, ficou negativo em 3,18%.
Juros em trajetória de alta
A alta do IPCA em 2024 e a piora das expectativas para a inflação e cenário fiscal fizeram com que o Copom subisse a taxa básica de juros, a Selic, que termina o ano em 12,25% ao ano. Altas do dólar e do preço dos alimentos também influenciaram a decisão do comitê.
A Selic é um instrumento do Banco Central para controlar a inflação. Taxa alta faz com que empréstimos fiquem mais caros – seja para pessoa física ou empresas – e é sinônimo de freio na atividade econômica, o que tem potencial de conter aumento de preços, mas, por outro lado, desestimula investimentos e a criação de emprego e renda.
Em janeiro, a Selic estava em 11,25%. Houve trajetória de queda até encostar nos 10,50% em maio. Mas os juros voltaram a subir em setembro, e o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou que deve realizar duas novas altas de 1 ponto percentual nas primeiras duas reuniões de 2025.
A previsão atual dos economistas é que a Selic encerre 2025 em 14,75%.
Preocupação com contas públicas
Entre os fatores que tem pressionado tanto o dólar como as expectativas de inflação está a preocupação com o nível de gastos do governo.
No acumulado do ano até novembro, o Governo Central registrou déficit de R$ 114,631 bilhões, o pior resultado desde 2020, em termos nominais, quando fechou com déficit de R$ 699,122 bilhões. Em igual período do ano passado, esse mesmo resultado era positivo em R$ 49,658 bilhões.
A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) como proporção do PIB fechou novembro em 77,7%. E a previsão do Tesouro Nacional é que ela continuará a subir até 2027, iniciando o processo de estabilização a partir de 2028, quando o índice estará em 81,8% do PIB.
Nos últimos meses, investidores têm se mostrado cada vez mais receosos com o compromisso do governo em equilibrar as contas públicas, particularmente depois do anúncio duplo pelo Executivo no fim de novembro de um pacote de contenção de gastos (aquém do esperado) e de um projeto de reforma do Imposto de Renda, e em meio a derrotas do governo no Congresso, como a desidratação de medidas fiscais.
Apesar de os três projetos que compõem o pacote sobre gastos terem sido aprovados pelo Congresso neste mês e de o debate sobre mudanças no IR ter sido adiado para 2025, agentes financeiros ainda questionam a efetividade das medidas na contenção das despesas e duvidam da determinação do governo em reduzir a dívida pública.
“Para reverter esse quadro, vai ser fundamental ter um sinal claro do governo de que efetivamente haverá (novas) medidas para reequilibrar as contas públicas, algo que até agora não foi transmitido ao mercado de uma maneira clara e não foi concretizado em medidas que realmente revertam as expectativas”, disse Gesner Oliveira, professor da FGV e sócio da GO Associados.
*Com informações da Agência Brasil e Reuters