31/01/2023 - 9:29
A alta de juros nos Estados Unidos é assunto de interesse de investidores em todo o mundo e é considerado o principal risco para investimentos em 2023. Entre os motivos, um aumento ainda maior das taxas lá fora pode provocar uma recessão global.
Na avaliação de Diego Costa, Head de Câmbio para o Norte e Nordeste da B&T Câmbio, desde 2020, quando começou a pandemia, há constante preocupação do Federal Reserve (Banco Central dos EUA) em conter o avanço da inflação no país, e na medida que os dados como preços ao consumidor e geração de empregos são divulgados, ajustes e mudanças de rota na política monetária são realizados.
Segundo Costa, em momentos de incertezas, é comum a busca por economias mais estáveis, caso da divisa norte-americana e uma política mais hawkish por parte do Banco Central tende a atrair capitais de todo o mundo, tanto pela própria atratividade da taxa e segurança do EUA quanto pelo crescente risco de recessão global.
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Atualmente a taxa de juros está entre 4,25 e 4,5% ao ano, segundo CME Group mercados precificam um próximo aumento de 0,25 ponto percentual, a expectativa é que em 2023 fique acima de 5% ao ano.
“O aquecimento do mercado de trabalho na região reforça a ideia de que o Fed pode precisar realizar mais restrições, os apertos nos juros dificultam o crescimento econômico e podem robustecer uma recessão”, conclui Costa.
Para Douglas Souza, CFO do Grupo Anga, o risco é de recessão global. “Com o aumento da taxa de juros no mundo inteiro para frear a inflação, o custo de capital aumenta para investidores e empresas, fazendo com que os motores de crescimento sejam desaquecidos”, afirmou.
Souza argumenta que por causa da inflação, existe o receio no mundo inteiro dos Bancos Centrais manterem um patamar de juros alto por mais tempo do que o esperado, o que gera recessão para tentar de alguma forma esfriar a inflação vista no último ano.
Outro risco apontado por Souza é o aumento do conflito Ucrânia x Russia. “Nessa pauta altamente imprevisível, é muito importante entender os desdobramentos do campo bélico para o econômico-político. Dois elementos são importantes a serem mapeados no contexto: a extensão no tempo do conflito, que pode reorganizar as cadeias de valor da Europa; e como e em que nível as potências globais, em especial os países do Otan e China irão se conectar com a pauta”, disse Souza.
Entre os riscos locais, Souza cita a temos a pauta fiscal do novo governo. “Como equilibrar aumento dos investimentos sociais com a já combalida situação fiscal do Brasil? Como serrá o comportamento das instituições para manutenção da democracia e, por fim, a postura e propostas da nova casa Legislativa, ou seja, quais projetos e pautas serão prioritárias no ano”, afirmou o CFO do grupo Anga.
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, entre os riscos para 2023, está a adaptação do mercado ao governo Lula. “Por mais que ele tenha sido presidente duas vezes, ainda não está identificado quais são as diretrizes, quais serão as prioridades. Ao mesmo que tem iniciativas como a reforma tributária, se vê críticas ao Banco Central independente, ao marco do saneamento. Legislações recentes que foram colocadas como eficientes pelo mercado estão sendo questionadas”, afirmou Cruz.
Ainda segundo o estrategista-chefe, outro risco, é a nova regra fiscal, que pode ser interpretada com muito frágil, e que na prática, não será cumprida. “Isso intensificaria a desconfiança fiscal, o Brasil já está com uma curva de juros bem elevada, diante do nível de endividamento por conta da pandemia. O fluxo cambial já é um problema desde o governo Dilma”, disse Cruz.
Externamente, Cruz prevê a necessidade de subir mais os juros nos EUA. “Isso seria um risco para os investimentos, geraria uma valorização excessiva do dólar, uma busca menor por mercados emergentes. Mas parece que risco maior já foi um pouco dissipado vide as próprias palavras dos bancos centrais”, afirmou.
O estrategista-chefe observa que a guerra entre Rússia e Ucrânia segue no radar do mercado global. “Se viu movimentações recentes de exércitos na Rússia, o próprio Vladimir Putin já fez algumas falas citando armas nucleares. O impacto, talvez em menor intensidade que no ano passado, seria no mercado de commodities e principalmente em empresas de petróleo. Isso pode ter efeito inflacionário para todo o mundo”, alertou.
No Brasil, Cruz comentou que o BC tem sido criticado por ser independente e não ter entregue a inflação na meta desde que se tornou independente. “Os investidores estão mais cautelosos agora por causa da nova regra fiscal, das mudanças que teriam que ser feitas, a questão dos juros nos EUA e a Guerra na Ucrânia. Em termos microeconômicos, as empresas já estão preparadas para esse período de taxas de juros mais elevadas”, concluiu o estrategista-chefe da RB Investimentos.