Ouça um resumo da reportagem sobre os 50 anos do Salão do Automóvel

Quando o Parque do Ibirapuera recebeu em seu gramado os Fuscas, Kombis, Aero Willys e os Simcas Chambord, entre 26 de novembro e 11 de dezembro de 1960, a indústria de carros no Brasil, diferentemente dos modelos que fabricava, engatinhava. 

Um dos símbolos máximos do plano de governo ?50 anos em 5? ? o grande bordão de Juscelino Kubitschek ?, a fabricação de veículos automotivos com o selo ?made in Brazil? era um sonho que começava a se tornar real e tinha como principal vitrine o Salão do Automóvel. 

 

Não à toa a Anfavea, Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, era a principal patrocinadora do evento (e é até hoje). No primeiro salão, 12 expositores atraíram um número espantoso de 400 mil pessoas. 

 

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Ontem e hoje: o 2º Salão do Automóvel, em 1961, realizado no Parque do Ibirapuera (SP). 

Tudo era novidade e todos queriam conferir o que o presidente bossa nova prometera. Cinquenta anos depois, o público médio que costuma conferir as novidades da cada vez mais sólida indústria brasileira de veículos aumentou, mas nem tanto. Cerca de 600 mil pessoas são esperadas na edição de 2010, que acontece entre os dias 27 de outubro e 7 de novembro.

 

Porém, o número de expositores subiu para 180. Reflexo de um negócio que hoje é capaz de colocar no mercado, por ano, mais de 3,5 milhões de veículos, que fatura mais de US$ 42 bilhões de dólares, emprega mais de 1,3 milhão de pessoas e injeta mais de R$ 21 bilhões nos cofres públicos através do pagamento de impostos. 

 

É fato que o impacto da chegada da indústria automotiva no País impulsionou a economia como um todo. O Brasil deixou de ser só um país que vivia dos dividendos da agricultura e do extrativismo para entrar com os dois pés pesados no seleto mundo dos manufatureiros.

 

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Ontem e hoje: No ano anterior, 400 mil pessoas foram conferir as novidades de 12 montadoras.
Vista do 25º Salão, em 2008, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, com 170 expositores. 

Hoje a sinergia entre a indústria automotiva e outros setores da economia é tanta que até bandas de rock têm suas marcas ligadas aos lançamentos ? um exemplo é o Gol Rolling Stone, lançado em 1995. 

 

A indústria também mudou diretamente a vida de capitais. Betim, a 35 km de Belo Horizonte, recebeu em 1976 a fábrica da Fiat. Na época, não havia um restaurante na capital mineira que ficasse aberto após as 20h. 

 

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O catálogo da primeira edição do evento, realizado em 1960, em São Paulo, com 12 expositores

 

Hoje, a cidade, impulsionada também pela demanda da nova indústria que se instalava nos seus arredores, é um dos principais polos gastronômicos do País e recebe até pelo menos à 0h os executivos da indústria para jantares íntimos, festivos ou corporativos. Na passagem da década de 60 para a década de 70, o salão fez história com os lançamentos dos hoje clássicos Corcel, da Ford, e Opala, da Chevrolet, na sua 6ª edição. 

 

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Desde 1960, data do primeiro salão, mais de cinco milhões de pessoas passaram pelo evento, que movimentou mais de US$ 500 milhões

 

Foi também em 70, a década do milagre econômico brasileiro, que o Brasil viu o Proálcool se instalar e incrementar a indústria com os primeiros carros movidos pelo combustível da cana ? um reflexo da crise mundial do petróleo de 1973. 

 

O primeiro carro a álcool, o saudoso Dodge Polara 1800, desfilou no 10º Salão. Em 1980 a edição foi interrompida, só voltando em 1981. O motivo foi a crise que assolou a indústria automobilística. Cinco anos depois, outra crise abalou as estruturas do salão e ceifou do Anhembi as montadoras nacionais. 

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Fontes oficiais culparam a crise econômica vigente, mas informações de bastidores creditam a um desentendimento entre a Anfavea e a Alcântara Machado, organizadora do evento. Nesse ano, somente carros importados foram apresentados. Na década de 90, com a abertura do mercado brasileiro às importações, o salão refletiu esse movimento e apresentou seus melhores resultados: crescimento de cerca de 35% do mercado, US$ 45 milhões em negócios fechados e recorde de 760 mil visitantes (em 1992). 

 

Desde então, o salão e a indústria têm ido muito bem, obrigada, e aguardam os próximos desafios. ?O maior deles será o lançamento do primeiro carro elétrico genuinamente brasileiro. 

 

Infelizmente, nesses 54 anos da indústria, o Brasil, que é o quinto produtor mundial de automóveis, não conseguiu manter uma montadora brasileira. A demanda por carros elétricos pode ser a primeira grande oportunidade para essa empresa surgir?, analisa Paulo Feldmann, professor de economia da FEA- USP.

 

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