Em Crewe, nos arredores de Manchester, Inglaterra, os mesmos rituais, únicos no mundo, são perpetuados há quase um século por 1.800 trabalhadores. Eles são os guardiões dos segredos de uma das mais prestigiadas marcas de carros de luxo, a Rolls, fabricante do clássico Rolls-Royce. No ano passado, apenas 1.861 unidades dos mais puros exemplos de sofisticação e conforto saíram da velha fábrica de Crewe. Produzidos pelos últimos artesãos de automóveis do planeta, os nobres bólidos são verdadeiros objetos de arte. E custam como tal: a partir de R$ 700 mil. É um preço justo para dirigir o tradicional carro com a grade frontal imitando o Partenon sob as bênçãos da famosa estatueta da deusa alada, moldada a marteladas pelos artistas da linha de montagem. Cada automóvel é feito praticamente a mão e ? somados os tempos de produção de cada componente ? leva 630 horas para ficar pronto. Só para se ter uma idéia, durante 13 dias, cerca de 60 marceneiros envernizam e dão polimento em todas as partes de madeira do veículo.

Nem mesmo a aquisição da fábrica britânica pela alemã Volkswagen, em 1998, alterou o ritmo da produção. A Rolls ? também dona da marca Bentley, que teve um aumento de 35% nas vendas em 2000 ? manteve o alto padrão de qualidade. Cada limusine continua utilizando o couro de 12 vacas cuidadosamente selecionadas para decorar toda a parte interna. As peles são importadas da Dinamarca, onde a ausência de arames farpados não danifica os animais no pasto. O capricho não pára por aí. Um time de experientes costureiras trabalha durante 15 horas na confecção da capa de couro que reveste o volante.

A precisão da máquina também é fundamental. Durante 17 horas, os 400 cavalos do motor do Rolls-Royce passam por testes exaustivos. Para verificar se a rotação não causa vibração no motor, um copo de água é colocado em cima do carro. Se uma única gota do líquido saltar de dentro do copo, a peça mecânica volta para ser novamente acertada. A montagem do corpo do carro também é única. Cerca de 6.500 pontos de solda são feitos a mão pelos operários na fábrica inglesa. O computador entra em seguida, na hora de consolidar a estrutura geral do automóvel. Após a montagem final, precisa resistir a torções que afetam um carro de 2,5 toneladas, com capacidade de alcançar 259 quilômetros por hora.