O setor de foodservice, que engloba bares, restaurantes, cafés, lanchonetes e toda a cadeia de oferta de alimentação fora de casa, segue em forte recuperação no período pós pandemia. No primeiro semestre deste ano, 88% das empresas do setor registraram faturamento igual ou superior ao computado no mesmo período de 2022.

Os dados são do estudo “Pesquisa Alimentação Hoje: a visão dos operadores de foodservice”, realizada pela Associação Nacional de Restaurantes (ANR), pela consultoria Galunion e pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia). Dentro desse escopo, 65% admitiram ter lucrado nos primeiros seis meses de 2023, enquanto outros 28% dizem ter dívidas a pagar, o que impacta os dividendos da operação.

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Ainda de acordo com a pesquisa, 65% dos respondentes creem em um 2023 com resultado financeiro melhor que o constatado em 2022. Já outros 20% dizem esperar resultado similar ao registrado no ano passado. O levantamento foi realizado entre os dias 14 de julho e 16 de agosto de 2023 teve 680 respondentes, que representam 24.553 pontos de vendas, sendo 49% do Sudeste e 61% das capitais.

Do total de entrevistados, 75% são operadores independentes com até três lojas, enquanto 25% são redes. O negócio/marca existe há 10 anos ou mais em 45% dos respondentes e 75% estão localizados na rua. Para entender melhor o perfil dos respondentes, a maioria possui modelo de serviço completo ou serviço rápido. Além disso, as principais formas de abastecimento são compra direta da indústria (57%), compra em atacados e cash&carry (41%), distribuidores especializados em foodservice (39%) e produtos artesanais (34%).

“Importante constatar que os negócios estão reagindo. Vemos o ano de 2023 melhor do que outros, porém o momento ainda é de cautela para empreendedores do foodservice brasileiro. Em 2022, enfrentamos um cenário de aumento expressivo da inflação nos alimentos, o que foi contido pelos restaurantes, que não repassaram integralmente a alta ao consumidor”, explica o diretor executivo da ANR, Fernando Blower.

Segundo ele, esse processo acabou achatando as margens de lucro de um segmento que ainda estava lidando com os custos da pandemia. Hoje, um terço dos estabelecimentos têm passivos expressivos e operam no prejuízo, conta Blower.

A pesquisa deste ano mostra também que, se comparada a última edição, de 2022, ficou constatado um aumento na preocupação dos empresários em relação à falta de mão de obra qualificada. Se antes a principal preocupação era a inflação dos alimentos, hoje a busca por profissionais capacitados e qualificados é um dos principais fatores que preocupam os negócios.

“A falta de mão-de-obra qualificada é uma questão que vem aumentando consideravelmente ano a ano, já que em 2022 essa era a preocupação de apenas 29%, e agora passou a ser um desafio para 49%”, revela a fundadora e CEO da consultoria Galunion, Simone Galante.

Como fidelizar a clientela e aumentar as vendas ainda são fatores que seguem em alta na hora de pensar no negócio de foodservice. Ao menos 50% dos respondentes da pesquisa apontaram esses desafios como alguns dos principais na gestão da empresa de alimentação fora do lar. Para mitigar essa questão, os operadores vêm promovendo ações relacionadas à atração de clientes e aumento das vendas.

“As duas principais englobam o lançamento de produtos com novos sabores e texturas para 58% e promoções como ofertas do dia ou ações de valor para 40% dos ouvidos. Ainda com base neste quesito, outras estratégias serão exploradas, pois 59% pretendem investir em marketing e 48% querem focar em inovação e criação de novos produtos para atrair mais clientes no 2º semestre deste ano”, ressalta Galante.

Em relação a gestão do negócio, as principais dificuldades comentadas pelos empreendedores estão em temas como: dificuldade na contratação e retenção de colaboradores, ações que permeiam o foco em ESG e sustentabilidade, privacidade de dados, transparência e ética.

Levantamentos da ABIA dão conta de que, em 2022, os operadores do setor de refeições fora de casa foram responsáveis pela compra de R$ 208 bilhões em produtos, um crescimento 10,2% em relação ao ano anterior.

O desempenho, de acordo com a associação, foi impulsionado pelo retorno presencial dos consumidores aos estabelecimentos e pela continuidade da retomada da economia brasileira. A projeção atual é de uma expansão entre 3% a 4% nas vendas reais da indústria para o foodservice, e a participação do canal nas vendas deverá superar 28%, resultado expressivo, porém ainda abaixo do patamar pré-pandemia, de 33%.

Delivery

O levantamento mostra também uma consolidação do sistema de delivery, apesar de ter sido observada uma queda na oferta de entregas. Segundo o estudo, o delivery está presente em 68% dos estabelecimentos de foodservice no Brasil, ante os 86% registrados na pesquisa anterior.

“Apesar de notarmos uma queda real do percentual, ao analisarmos a fundo podemos observar que a queda foi mais acentuada nas operações de padaria, passando de 82% para 46% que indicam operar com delivery, em relação aos demais restaurantes de serviço completo, rápido e autosserviço, que tiveram uma queda média de 15% nas operações que indicam ter delivery”, comenta a responsável por Inteligência de Mercado e Marketing na Galunion, Nathalia Royo.

Em contrapartida à queda no delivery, houve maior presença de respondentes de autosserviço, com um aumento de 63% em comparação à última edição. Para Royo, esta é uma constatação importante para entender a queda de operações que indicam ter delivery, já que a média de restaurantes de autosserviço que utilizam delivery (59%) é bem menor que a média de restaurantes de serviço completo e rápido que usam tal serviço (76%). De qualquer forma, 80% dos que possuem a entrega de pedidos consideram essa operação lucrativa.

Canais de vendas

O estudo analisou também a modalidade de vendas e e-commerce dos empreendimentos da área de foodservice. Em relação aos players que oferecem delivery, 46% usam canais próprios ou de terceiros para a captação dos pedidos. Dentro os canais mais utilizados, estão o iFood (69%), WhatsApp (63%) e o telefone comum (50%).

Em relação à logística de entrega, 36% usam funcionários próprios e 39% usam serviços de plataformas terceiras. Neste caso, enquanto 78% dos que usam plataformas terceiras para delivery estão satisfeitos com os serviços prestados, 85% acreditam que o preço dos serviços ainda é elevado.

Franchising também se destaca

Com modelos de negócios testados, as franquias de alimentação e foodservice também surfam no bom momento do setor. Dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF) dão conta de que o segmento foi o segundo que mais cresceu em receita no segundo trimestre deste ano, com um incremento de 16,9% sobre o registrado no mesmo período de 2022.

Se considerado todo o primeiro semestre de 2023, as franquias de alimentação registraram um crescimento de 18,9% frente aos primeiros seis meses de 2022. O número corresponde a um incremento de mais de R$ 18 bilhões. A ABF projeta um crescimento de até 12% das redes de alimentação neste ano, na comparação com 2022. Também devem aumentar, segundo a entidade, o número de operações (10%), empregos (10%) e volume de redes (4%).

“O principal motivo é o forte reaquecimento das atividades sociais, com uma maior quantidade de pessoas frequentando restaurantes, bares e praças de alimentação. Também podemos citar o retorno ao trabalho presencial mesmo que, em alguns casos, não seja a semana inteira”, destaca a vice-presidente da ABF, Adriana Auriemo.

Abaixo, IstoÉ Dinheiro traz algumas das franquias de alimentação e foodservice consultadas pela reportagem e que possuem projeção de crescimento neste ano:

  • Cheirin Bão
    Faturamento em 2022: R$ 300 milhões
    Faturamento em 2023 (previsão): R$ 350 milhões
    Previsão de crescimento em 2023: 16%
  • Patroni
    Faturamento em 2022: R$ 136 milhões
    Faturamento em 2023 (previsão): R$ 156 milhões
    Previsão de crescimento em 2023: 14%
  • Janela Bar
    Faturamento em 2022: R$ 12 milhões
    Faturamento em 2023 (previsão): R$ 40 milhões
    Previsão de crescimento em 2023: 233%
  • American Burger
    Faturamento em 2022: R$ 20 milhões
    Faturamento em 2023 (previsão): R$ 30 milhões
    Previsão de crescimento em 2023: 50%
  • The Coffee:
    Faturamento em 2022: R$ 27 milhões
    Faturamento em 2023 (previsão): R$ 90 milhões
    Previsão de crescimento em 2023: 233%
  • Água Doce
    Faturamento em 2022: não divulgado.
    Faturamento em 2023 (previsão): não divulgado.
    Previsão de crescimento em 2023: 25%.
  • Divino Fogão
    Faturamento em 2022: não divulgado.
    Faturamento em 2023 (previsão): não divulgado.
    Previsão de crescimento em 2023: 25%
  • Sucos S/A
    Faturamento em 2022: R$ 10 milhões
    Faturamento em 2023 (previsão): até R$ 16 milhões
    Previsão de crescimento em 2023: 60%
  • PopCorn Gourmet
    Faturamento em 2022: R$ 16 milhões
    Faturamento em 2023 (previsão): R$ 18 milhões
    Previsão de crescimento em 2023: 12,5%
  • Balcão Urbano
    Faturamento em 2022: R$ 3 milhões
    Faturamento em 2023 (previsão): R$ 4,5 milhões
    Previsão de crescimento em 2023: 50%
  • Splash Bebidas Urbanas
    Faturamento em 2022: R$ 20 milhões
    Faturamento em 2023 (previsão): não divulgado.
    Previsão de crescimento em 2023: 26%.
  • Bob’s
    Faturamento em 2022: R$ 1,3 bilhão
    Faturamento em 2023 (previsão): R$ 1,5 bilhão.
    Previsão de crescimento em 2023: 15%