17/05/2022 - 16:58
Entre os mais de 9 milhões de habitantes adultos da cidade de São Paulo, 98,8% têm anticorpos contra o Sars-CoV-2, causador da covid-19, resultado de terem entrado em contato com o vírus, de terem sido vacinados, ou ambos, aponta a última fase da pesquisa SoroEpi MSP, divulgada nesta terça-feira, 17. Dois anos após o primeiro caso da doença na capital paulista, praticamente toda a população com mais de 18 anos já está pelo menos parcialmente imunizada.
O SoroEpi MSP é um projeto de monitoramento de soroprevalência que reúne cientistas de instituições como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O inquérito de saúde é financiado pelo Instituto Semeia, o Laboratório Fleury, o Ipec (antigo Ibope) e o Instituto Todos pela Saúde (ITpS).
De acordo com o levantamento, 79,1% da população adulta possui anticorpos contra a nucleoproteína Sars-CoV-2, o que indica que entraram em contato com o vírus -tenham desenvolvido a doença ou não. Em relação aos cerca de 2 milhões de casos oficialmente registrados na cidade, a pesquisa aponta que o total de infectados desde 2020 é quase quatro vezes maior. Em relação à etapa anterior do estudo, isso representa acréscimo de 26,3%.
A análise também mostrou que 96,3% da população adulta têm anticorpos neutralizantes – capazes de bloquear a entrada do vírus nas células e resultado da vacinação. Em relação a setembro de 2021, o aumento foi de 14,5%. No mesmo período, a população não vacinada diminuiu de 4,1% para 1,8%. “Estamos entrando numa fase em que o importante é continuar vacinando. O risco é parar de imunizar, que é o grande problema de outras doenças”, diz o biólogo e colunista do Estadão Fernando Reinach, que participa do projeto.
Dos participantes dessa fase da pesquisa, 98,2% declararam ter tomado pelo menos a primeira dose da vacina contra a covid-19, 91% afirmaram ter recebido duas ou três doses do imunizante. Anticorpos contra a nucleoproteína ou neutralizantes foram encontrados em praticamente todos esses indivíduos.
Pesquisas já apontaram o risco de novas variantes
Pesquisa recente da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital Sírio-Libanês, no entanto, aponta que novas variantes do coronavírus capazes de enganar o sistema imunológico e mais transmissíveis devem surgir nos próximos meses. Publicado na revista Viruses, o estudo alerta que essa é uma alta probabilidade e aumenta com a grande circulação do coronavírus – propiciada pela retomada do contato social – e não é possível afirmar que a letalidade menor apresentada pela Ômicron deve ser mantida.
Para o infectologista do Fleury Medicina e Saúde e da Unifesp, Celso Granato, os resultados da prevalência não podem servir para que a população deixe de se proteger. “A grande vantagem da vacina é que ela modula a expressão da doença”, afirma. Ele lembra que apesar de o uso de máscaras não ser mais obrigatório, a pandemia não acabou. “Ainda morrem 130, 140 pessoas por dia no País.”
Desde o começo da pandemia, mais de 664 mil pessoas morreram no Brasil desde o início da pandemia. O número de infectados passa dos 30 milhões. Os dados diários do Brasil são do consórcio de veículos de imprensa formado por Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha de S.Paulo e UOL em parceria com 27 secretarias estaduais de Saúde, em balanço divulgado às 20h. Segundo os números do governo, 29,7 milhões de pessoas se recuperaram da doença desde o início da pandemia no País.
A coleta de amostras do SoroEpi MSP foi feita entre os dias 31 de março e 9 de abril, quando haviam sido registrados em São Paulo 1.917.503 casos positivos de infecções e 42.120 mortes. Foram entrevistadas 936 pessoas.
Os pesquisadores dividiram a cidade em dois estratos: com maior e menor renda média, sendo que cada um deles corresponde a cerca de metade da população adulta do município. A frequência de pessoas com anticorpos contra nucleoproteína nos bairros mais pobres foi superior à observada nas áreas mais ricas, totalizando 84,7% e 72,9% respectivamente. Essa diferença não foi observada na soroprevalência de anticorpos neutralizantes.
Ou seja, os mais pobres se infectaram mais na cidade do que os mais ricos. Em relação à vacinação os índices são similares entre os dois estratos.