16/07/2018 - 8:21
As seis maiores empreiteiras brasileiras, que já dominaram os megaprojetos de infraestrutura do País, perderam R$ 55 bilhões em faturamento desde 2015. Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Mendes Júnior e Constran (da UTC) tiveram suas receitas reduzidas a um quarto nesse período – de R$ 77 bilhões para R$ 22 bilhões. A rápida deterioração financeira dessas construtoras é reflexo da crise econômica do País e do envolvimento delas na Operação Lava Jato.
De 2015 para cá, as empresas tiveram de enxugar suas estruturas e reduzir o quadro de funcionários. O levantamento feito pelo Estado com as seis maiores construtoras mostra que o corte no número de trabalhadores beira os 200 mil em três anos. Toda a indústria da construção perdeu 500 mil postos de trabalho no período, segundo dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic).
Com essa nova estrutura e num cenário econômico de escassez de obras, cada empreiteira tem adotado uma estratégia para se recuperar. Algumas criaram novas empresas para se desvincular da Lava Jato e começar vida nova; outras apostam em descontos elevados para vencer licitações e renovar a carteira de obras; e há ainda quem aposte no mercado internacional para dar a volta por cima. Mas, por ora, os resultados ainda estão apenas no papel. As poucas obras conquistadas recentemente ainda são insuficientes para dar fôlego a essas empresas.
Nos últimos anos, a maioria delas teve de se concentrar para resolver pendências jurídicas e financeiras, deixando de lado a carteira de obras. Sem dinheiro em caixa, as empreiteiras tiveram de correr atrás de crédito novo para cobrir empréstimos – e para capital de giro – que estavam vencendo. Por causa dos crimes cometidos na Lava Jato, o crédito para essas empresas praticamente secou.
A Andrade deixou de pagar US$ 500 milhões a credores internacionais e ainda não chegou a um acordo; a Queiroz negocia com bancos uma reestruturação da dívida de R$ 10 bilhões; a Mendes Júnior está enrolada com seu plano de recuperação judicial, requerida no início de 2016; e a Odebrecht, que ainda é a maior empreiteira do Brasil, só conseguiu um financiamento para pagar dívidas e fortalecer os negócios depois de quatro meses de intensas negociações.
Para Fabio Januário, depois do acordo com o Ministério Público, a assinatura com CGU e AGU representa o marco mais importante para Odebrecht Foto: Ernesto Rofrigues/Estadão
Desde que seu presidente Marcelo Odebrecht foi preso em junho de 2015, a construtora entrou numa espiral de más notícias que só foram interrompidas em maio deste ano, com o acordo de financiamento com os bancos e, na semana passada, com a assinatura do acordo de leniência com a Controladoria-Geral da União (CGU) e Advocacia-Geral da União (AGU).
“Depois do acordo com o Ministério Público, a assinatura com CGU e AGU representa o marco mais importante para a empreiteira”, diz o presidente da construtora, Fabio Januário. A empresa, cujo faturamento caiu de R$ 57,9 bilhões, em 2015, para R$ 11 bilhões em 2017, começa a mapear obras potenciais no Brasil e no mundo. “Entre 2018 e 2020, temos planos de disputar projetos da ordem de US$ 490 bilhões (70% desse montante no exterior).”
Nos últimos três anos, a empreiteira demitiu 100 mil pessoas e fez um grande ajuste nas estruturas gerais e administrativa. “Assumimos nossos erros e fizemos o dever de casa com um amplo programa de conformidade. Agora precisamos virar a página.”