27/07/2018 - 10:52
O ex-presidente peruano Alberto Fujimori completa 80 anos no sábado (28) e, pela primeira vez em 12 anos, vai celebrar a data fora da prisão, com uma família rachada pela disputa de seus filhos em torno de seu legado político, o qual também divide o país.
“Que a história julgue meus acertos e meus erros”, escreveu Fujimori por ocasião de seu aniversário, em uma mensagem enviada à AFP, na qual manifesta a convicção de ter estabelecido as bases de um país que ainda será “líder na América Latina”.
A celebração – que será austera, segundo ele – encontra-o aposentado da vida pública, vivendo sozinho em uma casa alugada de um confortável bairro de Lima, onde escreve as memórias sobre seu governo (1990-2000), marcado pela corrupção e por uma luta implacável contra as guerrilhas e o terrorismo.
“Cheguei aos 80 com todas as marcas que os anos deixam, com todos os sobressaltos da vida política, enormes satisfações e profundos pesares”, escreveu Fujimori.
Desde que recuperou sua liberdade há sete meses, por um indulto do então presidente Pedro Pablo Kuczynski, o engenheiro e matemático Fujimori se retirou da vida pública para escrever, cultivar plantas no jardim – uma de suas paixões – e conviver com seus quatro filhos e duas netas.
“Nos poucos anos que me restam, me dedicarei a três objetivos: unir minha família, melhorar minha saúde no que puder e fazer um balanço equilibrado e sereno da minha vida. Essas são minhas três principais metas a cumprir em minha oitava década de existência”, disse Fujimori em sua mensagem.
As poucas fotos divulgadas por ele, ou por seus filhos, nas redes sociais, mostram-no frágil e abatido, longe da imagem de autocrata que semeou quando governava o Peru. Não tem vida social.
“Eu me aposentei da política”, declarou Fujimori em abril para uma emissora de TV.
As memórias que começou a escrever na prisão da base policial de Lima, onde esteve preso por mais de dez anos por uma condenação a 25 anos por crimes contra a humanidade, serão publicadas este ano pela editora Planeta, informam pessoas próximas.
Descendente de japoneses, Fujimori nasceu em 28 de julho de 1938, dia em que se celebra a independência do Peru, ocorrida em 1821.
– Herói e vilão –
“Olhando as coisas em longo prazo, parece que é um dos presidentes mais influentes do século XX, não dos melhores, mas dos que deixaram mais marca”, diz à AFP o escritor Luis Jochamowitz, autor de “Ciudadano Fujimori”, uma biografia não autorizada.
“Diferentemente de outros políticos bem-sucedidos, Fujimori tem algo a mostrar: a resolução dos problemas que tinham a ver com o terrorismo e a economia”, aponta o sociólogo e analista político Carlos Meléndez.
Seus seguidores o veneram como o presidente que traçou as bases do Peru moderno, por recuperar a economia do buraco no qual havia caído nos anos 1980 com uma hiperinflação anual de 7.600%, até transformá-la em uma das mais abertas e sólidas da América Latina.
“É um populista e pragmático”, define Meléndez.
Fujimori também é reconhecido por derrotar a guerrilha maoísta Sendero Luminoso e o guevarista Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA). Organismos de direitos humanos denunciaram massacres de civis inocentes na luta antissubversiva.
Em 1992, dissolveu o Congresso e interveio no Poder Judiciário em um “autogolpe” que gerou apoio popular em massa.
Segundo Meléndez, “um dos erros de Fujimori foi acreditar que os fins justificam os meios e os princípios éticos, dando passagem para as violações dos direitos humanos e o abuso de poder”.
A estrela de Fujimori se pulverizou em 2000, com o político arrastado por um escândalo de corrupção após a divulgação de vídeos de seu braço direito e então chefe de Inteligência, Vladimiro Montesinos. Foi quando Fujimori renunciou por fax, de Tóquio, para onde seguiu após participar de uma cúpula da APEC no Brunei.
Em 2005, chegou ao Chile, país que, após um julgamento de extradição, entregou-o ao Peru. Voltou para sua terra natal, onde ficou preso até sete meses atrás.