29/08/2018 - 12:53
A economia brasileira está diante da oportunidade de vivenciar um ciclo de pelo menos cinco anos de juros baixos, de forma sustentável, o que vai permitir dinamizar os investimentos e crescer a atividade econômica, na avaliação do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dyogo Oliveira. Segundo o executivo, o quadro foi criado por causa da recessão, que quebrou a inércia inflacionária e elevou a capacidade ociosa.
“O hiato do produto hoje é de tal enormidade que podemos crescer pelos próximos cinco anos tranquilamente sem fechá-lo, então não haverá pressão inflacionária”, afirmou Oliveira, citando estudo interno do BNDES, em palestra reservada a pesquisadores do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), na manhã desta quarta-feira, 29, Rio.
A consequência desse quadro, segundo Oliveira, é que os juros ficarão baixos. Na apresentação, o executivo mostrou gráficos apontando que o juro real “ex-ante” está atualmente em torno de 4,0% ao ano, “níveis historicamente baixos”.
“Temos mais cinco anos com o hiato do produto aberto. Não vamos ter necessidade de um aperto, pelo menos não nos níveis que já tivemos, na política monetária. Mudamos de patamar efetivamente. O Brasil vai ser nos próximos anos uma economia de juro baixo”, disse o presidente do BNDES.
Questionado após a palestra, Oliveira destacou que a economia brasileira chegou nesse quadro a “um custo elevadíssimo, que foi uma recessão de quatro anos praticamente”. O quadro, segundo ele, é diferente do verificado em 2012 e 2013, quando o juro real ficou abaixo de 4,0%, mas num quadro então considerado insustentável por agentes de mercado.
“Em 2012, você estava com a taxa de juro real baixa, mas com a inflação em 6%. E no limite da capacidade”, afirmou Oliveira ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. “O risco de uma inflação voltando ao nível de 10% ao ano hoje está diminuído. Parte disso tem a ver com o fato de que temos uma grande capacidade ociosa hoje instalada no País. Somando a redução da inércia inflacionária com uma capacidade ociosa muito grande, temos um espaço nos próximos anos para trabalhar com taxas de juros mais baixas”, completou o presidente do BNDES.
Conforme Oliveira, o banco de fomento está se preparando para esse quadro, procurando se colocar como “complementar” ao mercado de capitais. Assim, o banco está buscando eficiência, reduzindo custos internos e spreads.
Ao deixar o evento, Oliveira evitou comentar sobre o leilão das distribuidoras da Eletrobras, marcado para quinta-feira na B3. A data final para entrega das propostas para o leilão foi na segunda-feira. Questionado sobre o número de propostas entregues, Oliveira respondeu: “Não sei, não posso saber disso”. Ainda assim, o presidente do BNDES demonstrou otimismo de que haverá demanda pelos ativos. “Estamos otimistas”, disse.