30/08/2018 - 21:45
Patrimônio da Humanidade da Unesco; uma das sete maravilhas do mundo moderno; símbolo do Brasil em todo o mundo; principal ponto turístico brasileiro; expressão máxima do cristianismo no País. Com tantos títulos, o Cristo Redentor está no centro de uma polêmica envolvendo a Arquidiocese do Rio e a direção do Parque Nacional da Tijuca, onde fica a estátua. O motivo é o acesso ao santuário – e a receita decorrente da visitação.
O monumento e a área onde fica – um platô no alto do Morro do Corcovado de aproximadamente 500 metros quadrados – pertencem à Arquidiocese do Rio, que é responsável pela sua manutenção, orçada em R$ 5 milhões ao ano, e nada recebe pela visitação. No entanto, o Parque Nacional da Tijuca, criado em 1961, 30 anos depois da inauguração da estátua, é o responsável administrativo de toda a área que dá acesso ao monumento. Inclusive pela cobrança do ingresso, de R$ 75.
Apesar do confuso acerto, a relação vinha funcionando. Mas agora, a Arquidiocese diz que religiosos têm sofrido restrições de acesso inadmissíveis.
“Durante anos não houve nenhum problema, mas a situação atual é muito complicada; o nosso acesso está sendo muito restrito”, afirmou Claudine Milione, diretora jurídica da Arquidiocese. “Isso, para a Igreja, é muito grave, é uma tentativa de tolher a liberdade religiosa; espero que o Ministério (do Meio Ambiente, responsável pelo parque) chegue a uma solução para que a Igreja possa ter livre acesso a sua própria área.”
A gota d’água veio este mês quando o diretor do parque, Ernesto Viveiros de Castro, proibiu a realização de um evento religioso coordenado pelo arcebispo do Rio, o cardeal dom Orani Tempesta. Na véspera de uma audiência pública sobre a descriminalização do aborto no Supremo Tribunal Federal, o cardeal resolveu fazer uma oração no Cristo, reunindo 70 religiosos, “em defesa da vida”.
“O ato foi interpretado como uma manifestação política e proibido de acontecer”, contou Claudine. “Depois, com as reclamações, acabaram autorizando, mas só para 45 pessoas, só dentro da capela e não aos pés do Cristo.”
O diretor do parque não quis dar entrevista. Mas o ICMBio, o órgão que administra os parques nacionais, explicou que, por conta do número alto de turistas no monumento, a entrada dos religiosos sem prévio aviso, durante o horário normal de funcionamento, é restrita a 30 pessoas. As entradas fora dessas horas devem ser avisadas com antecedência, por causa de problemas de logística e infraestrutura.
“Houve um mal-entendido”, minimizou o ministro do Meio Ambiente, Edson Bueno, garantindo que a pasta já trabalhava na revisão do acordo de acesso ao monumento e, ainda, na criação de um mecanismo de apoio à manutenção do Cristo. É que embora o parque cobre pela entrada, todo o dinheiro vai para o ICMBio. Todo o custo de manutenção do monumento fica com a arquidiocese. “Não é justo”, disse Bueno.
O ministério estuda agora uma forma para que a arquidiocese também receba pela visitação do monumento. A ideia inicial seria pedir uma contribuição de R$ 4,00 – além do preço do ingresso e do transporte – aos visitantes que reverteria totalmente para a Arquidiocese, cobrindo os custos da manutenção do santuário. O Cristo recebe cerca de dois milhões de visitantes por ano.
Representantes do parque e da arquidiocese se reunirão sob a mediação da Riotur.
“Tenho certeza de que ouvindo os dois lados chegaremos a um acordo”, disse o presidente da Riotur, Marcelo Alves.