12/09/2018 - 10:18
Fernando Haddad tem grandes possibilidades de chegar ao segundo turno nas eleições de outubro, mas para chegar à presidência e governar o Brasil, deverá se distanciar de seu mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, segundo analistas.
Da prisão onde cumpre pena de 12 anos e um mês por corrupção e lavagem de dinheiro, Lula esticou até onde pode sua luta para concorrer à presidência, deixando pouco tempo para a exposição de Haddad até a votação de 7 de outubro. O segundo turno ocorrerá no dia 28.
As últimas pesquisas – Datafolha e Ibope – colocam Haddad apenas na quinta posição, com 8% e 9% das intenções de voto, contra os quase 40% que Lula ostentava antes de ser excluído da campanha.
Mas Haddad, ex-prefeito de São Paulo, terá agora a máquina petista a seu favor para tentar herdar o maior número possível de eleitores de Lula.
Além do agora apoio explícito de Lula, o candidato do PT terá ainda o segundo maior tempo na propaganda gratuita em rádio e TV, uma arma ainda poderosa no Brasil, além da grande presença da esquerda nas redes sociais.
“Com tudo isto, é muito difícil que ele não chegue ao segundo turno. É apenas uma questão de tempo até o eleitorado reconhecer Haddad como o candidato do Lula”, avaliou à AFP Lincoln Secco, historiador da Universidade de São Paulo e autor da “História do Partido dos Trabalhadores no Brasil”.
Um dos desafios de Haddad, 55 anos, será arrebatar votos de Ciro Gomes, muito forte no Nordeste, que concentra quase 30% dos votos do país.
Ciro, um ex-ministro de Lula, ocupa a segunda posição nas pesquisas, com entre 11% e 13%, atrás apenas de Jair Bolsonaro (24% a 26%).
– Fantoche de Lula? –
O poder de Lula sobre o PT e seu eleitorado, as frequentes visitas de Haddad a sua cela em Curitiba e o empenho da militância em recordar que “Lula é candidato com o nome de Haddad” tem levado muitos a questionar se o ex-prefeito de São Paulo não será um fantoche do ex-presidente.
“No primeiro turno Haddad será a voz de Lula para manter um eleitorado cativo, mas no segundo a tendência é que ganhe autonomia e mostre seu perfil mais moderado dentro do PT”, disse à AFP Thomaz Favaro, analista político para o Brasil do Control Risk, consultoria de gestão de riscos.
Especialmente se disputar com Bolsonaro, pois terá de convencer os eleitores de centro e de centro direita, muitos radicalmente contrários ao PT.
“Qualquer candidato que for eleito terá uma dificuldade enorme para governar. Haddad teria que encontrar um equilíbrio entre seu espírito mais conciliador e seu partido, que tem um programa mais radicalizado em relação às eleições passadas”.
Mas a história recente da América Latina sugere que a cria pode se voltar contra o seu criador, como ocorreu no Equador entre o presidente Lenín Moreno e seu padrinho político, Rafael Correa, ou na Colômbia entre os ex-presidentes Álvaro Uribe e Juan Manuel Santos.
No Brasil, o melhor exemplo é Michel Temer, vice de Dilma Rousseff e que assumiu a presidência após o impeachment da petista, em 2016.
Mas para Secco “é muito difícil” que algo assim ocorra entre Lula e Haddad.
“Lula constituiu algo como o peronismo na Argentina e tem um carisma muito maior em um partido muito mais forte” em relação aos casos de Colômbia e Equador”, concluiu.