21/09/2018 - 7:57
Patos, marrecos, garças e mergulhões estão voltando a habitar o Rio Tietê em Salto, a 73 km de São Paulo. Ariranhas e tartarugas, em menor quantidade, também começam a aparecer. O mau cheiro do rio foi quase todo embora, o que tem aproximado mais os moradores das quedas d’água próximas da ponte estaiada – onde foi registrada a mortandade de 40 toneladas de peixe por poluição três anos atrás. Mas a melhora do ano passado para cá é tímida, a espuma branca ainda cobre a superfície, e a população não se arrisca a nadar.
O Tietê na região entre Itu e Laranjal paulista, passando por Salto, saiu da condição de rio morto, mas ainda está longe do ideal. Entre 94 trechos analisados em todo o Estado, nenhum ponto apresentou água considerada ótima e apenas seis (5,4%) têm água boa. Os melhores indicadores foram obtidos no trecho metropolitano de cabeceira e de mananciais. Apesar de uma redução de 8 quilômetros na mancha de poluição em relação ao ano passado, o trecho de 122 km mais contaminado representa 11% da extensão do rio. Na comparação com a marca histórica de 71 km – alcançada em 2014, durante a crise hídrica -, a poluição ainda está 51 km maior.
Os dados são do projeto Observando os Rios, da Fundação SOS Mata Atlântica e são divulgados por ocasião do Dia do Rio Tietê, comemorado amanhã. O levantamento considera as análises feitas no último ano por 1.730 voluntários de 103 grupos de monitoramento. O estudo apontou a condição de rio morto – altamente poluído com índices de qualidade de água péssima e ruim – em 31,3,% dos pontos de coleta monitorados mensalmente na bacia hidrográfica. Essa condição de água imprópria para uso se estende ao longo de 122 km, do município de Itaquaquecetuba até Cabreúva. Em Salto, o Rio Tietê saiu da condição de ruim para regular. “Nesse trecho acima da cachoeira voltou a ter explosão de vida. Dá para ver tartaruga, patinho mergulhando no rio…”, diz Malu Ribeiro, especialista em água da SOS Mata Atlântica.
Apesar da melhora, o rio não é aquele Tietê onde o aposentado Fernando Dario, de 80 anos, pulava, nadava, pescava e bebia água. “Eu pulava desta pedra”, mostra Dario, relembrando a juventude. Naquela época, ele mergulhava o chapéu na água e bebia. “Era gostosa, limpinha”, diz ele, que mora a 20 metros do rio. “Estava pior. A espuma era muito mais alta e o mau cheiro, terrível. Já demos um passo.”
A aposentada Ivanete Oliveira, de 47 anos, também mora perto do rio e diz que tem visto mais patos, garças e ariranhas. Segundo ela, em alguns trechos mais afastados do centro há quem pesque. “Mas duvido que tenha coragem de comer.”
O marido dela, o borracheiro Marcelino Martins, de 47, lamenta não poder comer peixe do Tietê desde 1974. “Ainda está um pouco mais limpo. Temos esperança de que um dia a gente volte a nadar e pescar, mas acho que isso vai ficar para os netos”, diz Martins, apontando para Ana Julia, de 1 ano.
Futuro
O presidente do Grupo de Escoteiros Taperoá, Silvio Ferreira, responsável pela qualidade da água em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, diz que a ideia é exatamente resgatar a médio prazo as possibilidades de pesca e nado do rio. “À tarde já temos uma revoada de cerca de 200 garças brancas no rio. Não está pior do que antes, mas sabemos que pode melhorar bastante.”
Segundo Malu Ribeiro, a redução de 8 quilômetros de rio morto que recuperou condições de qualidade da água é reflexo das 8 toneladas de esgotos que diariamente deixaram de ser lançadas, sem tratamento, nos afluentes do Tietê. Isso se deu com a ampliação da Estação de Tratamento de Esgotos de Barueri, que passou a tratar 12 m³/s de esgotos, de 5,8 milhões de pessoas (o equivalente a duas Campinas). “Esperávamos que a água entre Salesópolis e Itaquaquecetuba estivesse com condição boa, até próximo do Parque Ecológico do Tietê. Mas talvez por questões climáticas, por ter chovido menos, há um volume menor de água, o que dificulta a diluição de poluentes.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.