10/10/2018 - 19:50
Os circuitos cerebrais que regulam as emoções surgem bem cedo, muito antes do que se imaginava. Estudo publicado na Biological Psychiatry: Cognitive Neuroscience and Neuroimaging revela que eles começam a ser formar antes de o bebê completar um ano. O desenvolvimento desses circuitos no segundo ano de vida predizem o quociente de inteligência (QI) e o controle emocional do indivíduo na idade adulta. O trabalho sugere que é possível identificar, desde muito cedo, crianças em risco de apresentarem desordens comportamentais e psiquiátricas.
“Pelas lentes da ressonância magnética, o estudo mostra que os circuitos cerebrais essenciais para uma regulação emocional bem-sucedida em adultos não existem nos recém-nascidos, mas se desenvolve no primeiro e segundo anos de vida, provendo as bases do desenvolvimento emocional”, explicou, no estudo, o autor Wei Gao, do Hospital Cedars-Sinai, de Los Angeles, lembrando que os recém-nascidos contam com um outro tipo de circuito que desaparece tão logo as conexões adultas se estabelecem.
A taxa de crescimento das conexões emocionais durante o segundo ano de vida indica os níveis de ansiedade que a criança pode vir a apresentar aos quatro anos. Essa taxa também pode indicar o QI da criança, determinando o desenvolvimento do controle emocional na idade adulta e também a cognição.
“Esse estudo revela o rápido avanço que estamos testemunhando no uso de imagens funcionais do cérebro para entender o desenvolvimentos das conexões cerebrais na primeira infância”, escreveu o editor da Biological Psychiatry, Cameron Carter. “Os resultados chamam a atenção para a importância de se compreender o desenvolvimento das trajetórias das funções cerebrais para prever as diferenças de funcionamento emocional dos indivíduos.”
O trabalho foi feito com base nas imagens cerebrais de 223 recém-nascidos. Os cientistas olharam especificamente para o centro de processamento de emoções no cérebro, a região conhecida como amígdala, e suas conexões com outras áreas do cérebro relacionadas às emoções. Processamentos atípicos na amígdala estão ligados a desordens como depressão, ansiedade e esquizofrenia em adultos.
As novas descobertas oferecem uma pista sobre em que momento esse desenvolvimento atípico pode determinar o surgimento de problemas emocionais e cognitivos na vida adulta.
“As descobertas sugerem que pode ser possível, no futuro, identificar as crianças em maior risco de apresentar dificuldades comportamentais associadas com desordens psiquiátricas na primeira infância, permitindo uma intervenção precoce para reduzir o risco do surgimento de problemas”, afirmou o coautor John Gilmore, ao divulgar a pesquisa.