22/10/2018 - 13:30
Embora não inclua uma queda brusca da Bolsa no radar, André Perfeito, economista-chefe da Spinelli, alerta que, sem encaminhar uma solução para o problema fiscal do País, o bom momento das ações pode ter perna curta. “O investidor brasileiro cai muito fácil nesse canto da sereia e me irrita a ingenuidade de parte do mercado.”
A seguir, trechos da entrevista.
Como o fator Bolsonaro influencia a valorização das ações?
Acreditamos que o mercado está precificando menos um governo Bolsonaro, mas antes a derrota do PT. Sabemos pouco ainda sobre as reais intenções do governo Bolsonaro em temas-chave como privatização e reforma da Previdência. Já sobre o candidato petista temos uma maior concretude das propostas, e a possibilidade de o PT não ganhar é um forte estimulante para a Bolsa. Apesar da alta recente, ainda estamos 15% abaixo do pico registrado este ano antes da greve dos caminhoneiros. Em tese, estamos apenas corrigindo.
Há espaço para mais alta?
Tudo depende de como ele e sua equipe encaminharem certas questões. Sabemos que o desafio é grande e o governo está fazendo água faz tempo. A pergunta na mesa é como ele vai enfrentar isso. Ele vai fechar o buraco no casco diminuindo o tamanho do navio ou vai acelerar o barco para não entrar mais água? Parte do mercado não está convencido da conversão de Bolsonaro ao receituário ortodoxo.
Quais os cenários otimista e pessimista para a Bolsa?
Não deve cair muito mais, afinal a Bolsa já foi bastante penalizada nos últimos anos. Apesar do rali recente, o índice ainda está 45% mais baixo que o pico de 2011, se visto em dólares. Há bons motivos para uma correção, mas o perigo reside em acreditar que essa alta é consistente mesmo que não se faça nada.
A Bolsa está cara?
Caro ou barato são termos relativos aos olhos do comprador e o maior comprador no aquário são os estrangeiros. O Brasil está barato nesse sentido e podemos nos beneficiar com a demanda externa, mas cabe aqui muito cuidado. Geralmente, quando “gringo” entra na Bolsa, o índice sobe e cria uma euforia. Mas se entrou, ele “já comprou barato”, logo, tem de tomar cuidado para não dar saída para esse mesmo investidor estrangeiro – ou seja, comprar dele depois mais caro acreditando ainda que pode subir mais. O investidor brasileiro cai muito fácil nesse canto de sereia e me irrita a ingenuidade de parte do mercado com isso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.