22/03/2006 - 7:00
Quem fizer um eletrocardiograma do setor de convênio médico no Brasil terá em mãos um quadro patológico, marcado por um estado de tensão permanente. Desde 2000, o setor encolheu drasticamente. O número de usuários caiu de 40 milhões para 35 milhões e 400 empresas saíram do sistema. Cento e quarenta delas foram excluídas de uma só tacada, por decisão da Agência Nacional de Saúde (ANS) no final de 2005. Motivo: falta de condições financeiras para continuar atuando. Na contra-mão desse processo, aparece a paulistana Medial Saúde. Enquanto as receitas do setor estagnaram na casa dos R$ 11,2 bilhões, ela cresce 25% ao ano, em média. Em apenas cinco anos, multiplicou o faturamento por três e chegou a R$ 1 bilhão. A carteira de clientes já totaliza 800 mil usuários ? entre planos individuais e empresariais. ?Vamos chegar a um milhão de clientes no final de 2006?, diz Jin Whan Oh, presidente da Medial Saúde. E qual foi o remédio para escapar do furacão e ainda subir para a terceira posição do ranking, atrás da Intermédica e da Amil? De acordo com o executivo, isso foi resultado direto da decisão dos controladores, as famílias Rocha e Schapira, de profissionalizar a gestão e mandar seguir à risca o receituário dos manuais de boas práticas administrativas.
De um lado, a Medial ganhou eficiência cortando despesas. Também foi atrás das grandes corporações (Goodyear, Marba, Polícia Rodoviária Federal, Bicicletas Caloi, C&C, Citroën e Atento). Por fim, ocupou o vácuo deixado por concorrentes de menor porte, além de atrair os usuários individuais deixados na mão pelas companhias de seguro saúde, como SulAmérica e Bradesco. No quesito investimento, a Medial não economizou. Aplicou praticamente todas as sobras de caixa na construção de uma rede própria de 14 hospitais e centros médicos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Hoje, essa estrutura responde por 35% dos atendimentos. A meta é aplicar, neste ano, outros R$ 46 milhões em tecnologia e na administração de novos hospitais e centros médicos no Distrito Federal, São Bernardo do Campo (SP) e Rio de Janeiro. ?Com isso, podemos controlar com mais precisão os custos envolvidos na operação?, explica Oh.
Segundo o presidente da Medial, as internações e os exames representam, respectivamente, 50% e 35% dos gastos do setor. O pior dessa história é que cerca de 20% dos exames sequer são retirados. Para fechar esse ralo, a Medial trouxe para o Brasil a tecnologia Picture Archiving and Communications System (PACS). O sistema permite compartilhar os resultados de Raio-X e tomografia, entre outros, em um gigantesco banco de dados digital à disposição dos 20 mil médicos e 15 mil hospitais conveniados. Com isso, quando um paciente trocar de médico, por exemplo, o profissional terá à disposição o histórico dele. O PACS consumiu cerca de R$ 4,2 milhões mas vai gerar uma economia de R$ 1,2 milhão por ano, apenas na compra de filmes.
Para continuar crescendo nas bases atuais, a operadora atuará em duas vertentes. Além de expandir a rede própria, a direção da Medial está intensificando os esforços para atrair os clientes endinheirados ? capazes de desembolsar até R$ 4,3 mil por mês em um plano de saúde. Hoje, eles são atendidos pela bandeira Medial Class. Trata-se de uma opção claramente econômica. É que apesar de responderem por apenas 6,5% do total de usuários, eles colaboram com 20% da receita.
Para dar conta dessa tarefa, o presidente Jin Oh ampliou em 30% a verba de marketing para R$ 14 milhões. Isso não significa, contudo, que os usuários da classe média serão abandonados. Afinal, foram eles que ajudaram a tirar a veterana Medial do segundo pelotão para a divisão de elite.