Paleontólogos acabam de identificar a primeira espécie de dinossauro carnívoro que viveu no período Cretáceo, na região sudeste do Brasil. Batizado com o nome de Thanos simonattoi, o dinossauro predador foi identificado a partir de fósseis da coluna vertebral encontrados na região de Ibirá, interior de São Paulo. De acordo com o paleontólogo Fabiano Vidoi Iori, o dinossauro era um abelissaurídeo que tinha cerca de 5 metros de comprimento e disputava com os megaraptores o topo da cadeia alimentar na região, há 80 milhões de anos.

O conjunto de vértebras que permitiu a identificação do espécime foi encontrado por Iori em buscas que duraram 18 anos, com apoio do sitiante Sérgio Luis Simonatto. Este ano, Iori apresentou o fóssil completo ao especialista em dinossauros carnívoros, Rafael Delcourt, pesquisador da Universidade de Campinas (Unicamp). Após analisar o fóssil, ele observou um conjunto de caracteres não presentes em nenhum outro dinossauro, o que tornava aquela vértebra única, permitindo atribuí-la a uma nova espécie e batizá-la.

A parceria de Iori e Delcourt resultou em um estudo publicado no mês passado na revista Historical Biology, onde o terópode Thanos simonattoi é apresentado à comunidade científica. Thanatos é um termo grego que significa morte e que também dá nome a um vilão da Marvel Comics, das histórias em quadrinhos. Já simonattoi homenageia o sitiante que ajudou na localização e retirada dos fósseis. “A ajuda desse colaborador foi imprescindível para a localização dos fósseis”, disse Iori.

Predadores

A existência de fósseis da época dos dinossauros na região de Ibirá (SP) é sabida desde a década de 1960, segundo o paleontólogo. “Até então, os principais achados eram de titanossauros, aqueles dinossauros hervíboros, de pescoço longo. O Thanos caminhava sobre as patas traseiras e tinha braços curtos, algo próximo da imagem de um Titanossauro rex.” Ele conta que entusiastas da cidade de Uchoa coletaram materiais por décadas, assim como professores de várias universidades.

Em 1994, a equipe do Museu de Paleontologia de Monte Alto começou a busca por fósseis na região e contou com o apoio do sitiante Sérgio Luis Simonatto. Morador do local, Simonatto conhecia muitas localidades com fósseis e quando criança brincava com dentes de dinossauros. Em 1995, com a ajuda dele, Iori e a equipe de Monte Alto encontraram um fóssil em uma parede rochosa, porém a vegetação impediu a retirada total e apenas uma parte da vértebra foi coletada.

Iori conta que, em 2006, o paleontólogo argentino Fernando Novas viu a peça exposta no Museu de Monte Alto e disse se tratar da segunda vértebra cervical de um dinossauro carnívoro. “Foi quando passamos a buscar pelo restante da peça, até porque era um osso que ficava muito próximo do crânio e havia a possibilidade de o crânio estar por ali”, disse.

Em 2014, um artigo publicado na Revista Brasileira de Paleontologia descreveu aquele pedaço de vértebra, entre outros fósseis, atribuindo a um predador. Iori conta que a descoberta do conjunto da vértebra aconteceu com a ajuda do acaso. Ainda em 2014, uma forte ventania derrubou algumas árvores no sítio paleontológico. Uma delas ficava próxima à parede de origem do fóssil, e sua queda permitiu que os raios do sol iluminassem o local. “Dezoito anos depois, encontramos o restante da vértebra”, disse.

Os achados contribuíram para a fundação, em 2016, do Museu de Paleontologia Pedro Candolo em Uchoa, com a missão de coletar, preparar, expor e estudar os fósseis da região de Ibirá, Uchoa e Cedral. “O intuito das pesquisas é recriar o cenário pretérito e os animais que ocuparam a região durante o Período Cretáceo, para isso são analisados os matérias da região que estão na coleção de Uchoa e também em outras instituições”, disse o paleontólogo.

A descoberta consiste na primeira espécie descrita para a região de Ibirá. Os fósseis do Thanos simonattoi serão apresentados ao público nesta quarta-feira, 5, no Museu de Uchoa, onde ficarão expostos durante uma semana. Em seguida, serão levados de volta para o Museu de Monte Alto. Conforme Iori, a descoberta de uma espécie até então desconhecida no interior de São Paulo abre as portas para novas pesquisas. “Fica cada vez mais evidente que o interior paulista foi um território densamente habitado por dinossauros em épocas remotas”, disse.