05/12/2018 - 12:50
A onda de acusações de assédio desencadeada pelo movimento #MeToo mudou a relação entre homens e mulheres em diversos segmentos da sociedade. Em Wall Street não foi diferente. Para se precaver de acusações de má conduta, executivos tomam medidas extremas, desde evitar jantares com colegas do sexo feminino até não sentar ao lado delas em voos.
A Bloomberg entrevistou mais de 30 executivos do principal centro financeiro do mundo para entender como as mudanças alteram as relações no ambiente de trabalho. De forma anônima, um homem afirmou que criou uma “regra” de não jantar com mulheres abaixo de 35 anos. Outro, mais extremo, evitar ficar ao lado de mulheres dentro de um elevador, enquanto um terceiro faz reuniões com colegas do sexo feminino apenas com as portas abertas.
“Clube dos Meninos”
As novas medidas acentuam a criação de um “clube dos meninos”, excluindo as mulheres de reuniões e eventos de confraternização, e aumentando ainda mais a desigualdade entre os sexos dentro das corporações, afirmam os especialistas.
“As mulheres estão buscando ideias sobre como lidar com isso, porque isso está afetando nossas carreiras”, afirma Karen Elinski, presidente da Financial Women’s Association e vice-presidente sênior da Wells Fargo & Co. “É uma perda real.”
Mulheres já são minorias em cargos de alto escalão de Wall Street. De acordo com um levantamento da Mercer, uma das principais empresas de consultoria em recursos humanos do mundo, as mulheres representam apenas 15% dos cargos de executivo. Na gerência sênior, o índice é de 26%, enquanto de gerente é 37%.
Falta de oportunidades
Aos pesquisadores fica a questão de como evitar que esse ambiente de paranoia prejudique a ascensão feminina nas grandes empresas. De acordo com a reportagem, muitas mulheres temem que homens deixem de dar-las oportunidade por receio de enfrentar uma acusação de assedio.
“O avanço normalmente exige que alguém em um nível sênior conheça seu trabalho, ofereça oportunidades e esteja disposto a defendê-lo dentro da empresa”, afirma Lisa Kaufman, diretora executiva da LaSalle Securities. “É difícil para um relacionamento como esse se desenvolver se a pessoa sênior não estiver disposta a passar um tempo a uma pessoa mais júnior.”