O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, avaliou nesta quarta-feira, 5, que a alta de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano mostrou que a economia brasileira segue trajetória de “crescimento gradual, mas consistente”.

“Esta foi a sétima variação positiva consecutiva, um comportamento não observado desde 2011”, destacou Ilan Goldfajn, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Ele lembrou que o PIB chegou a recuar 7,5% nos anos de recessão, mas tem crescido continuamente desde o fim de 2016.

Segundo Ilan, as diversas projeções de mercado apontam para um crescimento do PIB entre 1,3% e 1,5% em 2018, sendo que a projeção do BC é de 1,4%. Para 2019, a autoridade monetária espera um crescimento de 2,4%. “Se tivermos um avanço mais forte das reformas, o crescimento em 2019 poderá ser maior”, acrescentou.

O presidente do BC repetiu as apresentações realizadas por ele nos últimos dias. Ele voltou a defender a aprovação de reformas de natureza fiscal, como forma de garantir os bons resultados da política monetária – atualmente com juros no piso histórico e expectativas de inflação próximas das metas neste e nos próximos anos. “Juros baixos e inflação na meta têm ajudado a recuperação gradual da economia”, explicou.

Ilan Goldfajn voltou a avaliar que o cenário externo de 2018 se mostrou desafiador às economias emergentes, mas reforçou que os efeitos desse ambiente desfavorável dependem fundamentos de cada economia. “Fatores como necessidade de financiamento externo, nível de inflação e de autonomia de facto do banco central e o estágio alcançado no processo de reformas e ajustes ajudam a passar por cenário externo desafiador”, destacou.

Ele lembrou ainda que o apetite ao risco de ativos de economia emergentes tem apresentado relativa estabilidade, ainda que em níveis aquém daqueles verificados no começo de 2018. “Não obstante tais incertezas, o Brasil possui amortecedores robustos para enfrentar choques internos ou externos”, completou.

O presidente do Banco Central também repassou o balanço das ações da Agenda BC+ divulgado na semana passada, com 19 iniciativas concluídas entre 2016 e 2017, 22 medidas concluídas neste ano e mais propostas 27 em andamento.

Recuperação gradual

Ilan Goldfajn avaliou que a recuperação da economia brasileira tem sido gradual porque o período de recessão foi longo, e com grande endividamento de empresas e famílias. “As firmas, os consumidores e o próprio governo precisaram de um tempo maior de desalavancagem. Além disso, as incertezas futuras reduziram bastante a taxa de investimento do País”, analisou.

Previdência

Para o presidente do BC, a aprovação de reformas – sobretudo a da Previdência – fará com que o investimento retorne ao País. Segundo ele, com a aprovação das reformas, o investimento e o consumo levarão a economia a crescer em 2019 acima de 2,4% – atual projeção da autoridade monetária. “Com a reforma da Previdência aprovada, virão muitos investimentos do exterior. Acredito que dá para fazer outras reformas de produtividade em paralelo com a da previdência, que é a prioridade”, completou.

O presidente do BC considerou ainda que o novo governo tem mostrado sinais na direção correta sobre reformas. “O ano de 2018 foi um ano de bastante volatilidade interna, mas não tivemos que subir os juros, como em outros anos eleitorais. O País amadureceu em relação a anos anteriores”, considerou.

Ilan voltou a dizer que a ideia é que toda a diretoria do BC permaneça em um primeiro momento de transição para o próximo governo. O novo presidente do BC, Roberto Campos Neto, deve ser sabatinado pelo Senado até março.

Compartilhamento

O presidente do Banco Central disse também que o BC está trabalhando para ampliar o compartilhamento de dados pelos bancos – chamado “open banking” – e continuará estudando a questão em 2019. A medida é uma das sugestões do relatório de spreads aprovado na terça-feira pela CAE do Senado.

“Queremos regulamentar o registro de recebíveis ainda em 2018, será rápido. Já a limitação de tarifa interbancária no cartão de crédito precisa ainda de ser estudada”, respondeu Ilan Goldfajn. “Reconheço que temos muito a trabalhar na área de competição nesse mercado, mas sinto que uma mudança já está acontecendo”, completou.

Redução dos spreads

A comissão aprovou na terça o relatório sobre spreads bancários no Brasil, relatado pelo senador Armando Monteiro (PTB-PE), que serão levados em consideração pela Casa na tramitação de propostas legislativas que favoreçam a redução do spread.

O relatório defende a redução dos spreads nas operações de crédito por meio de ações a serem adotadas pelo Banco Central, pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pelo próprio Congresso.

Entre as sugestões do relatório estão a redução do peso do crédito direcionado – aquele com recursos do BNDES e da caderneta de poupança – e o combate às barreiras para que novas instituições financeiras entrem no mercado, concorrendo com os bancos maiores.

O relatório apresentado por Monteiro também traz um diagnóstico sobre o setor de meios de pagamento. A visão é de que existe uma “forte verticalização”, que cria entraves à competição no setor de cartões de débito e crédito. Para lidar com o problema, o Senado propõe que o Cade considere a possibilidade de proibição de que um mesmo grupo financeiro seja controlador de empresas que atuam em todos os elos do sistema.

Monteiro disse que o presidente do Cade, Alexandre Barreto, irá abrir um processo administrativo no órgão para examinar a questão.