15/12/2018 - 9:58
O fundador da Azul, David Neeleman, presidente do conselho de administração da companhia, criticou ontem a medida provisória assinada pelo presidente Michel Temer que abre o setor aéreo ao capital estrangeiro. Para o empresário, esse é um tipo de decisão que não se toma na última semana de governo. “Não sou contra a medida; o problema é a forma como ela foi tomada, sem transparência.”
Neeleman afirma que a decisão poderia ter sido gradual e com negociação por país. Na opinião dele, o limite de abertura poderia ter sido revisado para 49% com contrapartidas de outros países para equilibrar o ambiente competitivo. “O que o Brasil vai ter em troca com essa abertura? A Azul vai poder entrar nos Estados Unidos?”, questiona. “O País não deveria abrir mão de sua soberania sem pensar bem sobre o assunto.” Segundo o empresário, poucos países permitem total controle estrangeiro em empresas aéreas sem algum tipo de exigência de reciprocidade.
Neeleman tem vasta experiência no setor, e ajudou a criar, ao longo de sua carreira, seis empresas aéreas. Além da Azul, ele esteve no quadro de fundadores da JetBlue e WestJet, e também se envolveu na privatização da portuguesa TAP. Atualmente se prepara para lançar mais uma companhia no mercado americano.
Por aqui, a crise da Avianca pode representar uma oportunidade de negócios. Se houver algum processo de venda da empresa, que entrou em recuperação judicial nesta semana, a Azul vai avaliar os números, destacou a companhia. Por ora, apesar da medida anunciada quinta-feira pelo governo, Neeleman diz que os planos da companhia aérea para o Brasil estão mantidos. A expectativa é de crescimento de 15% em 2019.
Ambiente de negócios
O empresário também criticou o ambiente de negócios no País, que tornam as empresas menos eficientes. “Os pilotos brasileiros só podem voar cerca de 800 horas por ano; nos Estados Unidos, esse limite é de aproximadamente mil horas”, reclama Neeleman. Esse é um dos motivos pelos quais a Azul também se posicionava contra o acordo de céus abertos com os Estados Unidos, ratificado neste ano pelo governo de Michel Temer.
Além disso, as empresas não podem cobrar por uma série de serviços aos consumidores, como fazem as empresas de custo “ultra baixo” americanas, exemplifica. Para completar a lista de dificuldades, ele destaca que o custo do combustível aqui é 50% mais caro que o dos Estados Unidos.
Apesar disso, o fundador da Azul acredita que o mercado brasileiro já é “ultracompetitivo”, tendo às vezes quatro empresas operando na mesma rota – ainda que a própria Azul tenha uma vantagem nesse sentido, já que voa sozinha em várias rotas. “Se não fosse competitivo, não veríamos a Avianca Brasil pedindo recuperação judicial. Ela seria capaz de cumprir com suas obrigações.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.