16/12/2018 - 8:19
Em termo de inquirição de testemunha prestado há 31 anos, o então capitão do Exército Juarez Aparecido de Paula Cunha, hoje general da reserva e presidente dos Correios, disse que o capitão Jair Messias Bolsonaro, hoje presidente eleito, “o procurou, em particular”, em outubro de 1987, para dizer que “não havia gostado de atitude dele em Brasília” e que, “embora tendo servido (com ele) por muito tempo, poderia esquecer que era seu amigo, em caso de acontecer ‘qualquer coisa'”.
O documento, arquivado no Superior Tribunal Militar, consta da sindicância a que o capitão Bolsonaro respondeu, na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, no final de 1987, por artigo assinado na revista Veja e citações em reportagens que o acusavam de ameaçar jogar bombas em instalações militares – da qual acabou absolvido pelo STM no ano seguinte. O capitão Juarez Cunha foi um dos cinco oficiais ouvidos na sindicância – e o único a dar um testemunho desfavorável ao hoje presidente.
“Eu disse apenas o que ele me disse”, afirmou o general ao Estado na tarde de sexta-feira. “Não é relevante, não levou a coisa nenhuma, e contar isso agora, trinta anos depois, só vai fazer tempestade em copo d’água”, afirmou. “O Bolsonaro é um grande amigo meu, e isso nunca trouxe problema para a nossa amizade.” O presidente dos Correios não soube dizer se o presidente eleito tem conhecimento dos termos da inquirição. “Isso tem de perguntar pra ele”, afirmou. Procurada, a assessoria de Bolsonaro não deu retorno.
No parecer final sobre a sindicância, que mandou o caso para um Conselho de Justificação, o tenente-coronel Ronaldo José Figueiredo Cardoso, sindicante, deu relevância à inquirição do capitão Juarez Cunha. Considerou as frases de Bolsonaro como uma “advertência”, que censurou e considerou “irregular”.
A atitude que desgostou Bolsonaro, e o fez chamar o colega “em particular”, foi Cunha ter contado ao instrutor-chefe do curso de artilharia, coronel Cyrino, que durante uma visita ao Colégio Militar de Brasília o capitão Bolsonaro embarcou diversos oficiais-alunos em uma Veraneio. O termo não explicita, mas foram todos encontrar-se com o general Newton Cruz, o ex-chefe do SNI, solidário ao artigo publicado, e admirado pelo hoje presidente.
O capitão também registrou, na inquirição, ter ouvido Bolsonaro comentar, no início do ano letivo de 1987, que sua “decisão preliminar” – o artigo para a revista – já tinha sido tomada “e que a próxima decisão que ele tomaria, se fosse o caso, seria a ‘decisão final’, dando a entender que não se limitaria a simples declaração a órgão de imprensa”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.