09/01/2019 - 15:14
Esqueça a ideia romântica da banda de rock que cria e cresce por amor a música e tudo que gira em torno dela. Ela pode até ter nascido com este intuito, mas conforme um grupo cresce e ganha notoriedade, maior fica sua estrutura e cobranças, e no final das contas, o sonho juvenil de viver de música ganha contornos e organização de uma empresa.
Pegue o Metallica por exemplo, cujos negócios hoje extrapolam o mundo da música, com bebidas, jogo de video game e uma gama enorme de produtos licenciados. Ou mesmo o Kiss, primeira banda a enxergar seu potencial mercadológico e que já lançou uma linha de caixões.
A questão é que nada disto fica em pé sem a música. Uma banda pode ter as camisetas mais bonitas, mas elas não irão vender sem um bom disco ou bons singles. Tudo fica em segundo plano se os responsáveis por manejar os instrumentos não conseguirem sair do um estúdio com uma boa gravação.
As bandas se tornaram negócios, mas negócios operam cada vez mais como um banda, com empresas buscando cada vez mais a interação entre funcionários para um melhor resultado criativo. Empregados são encorajados a se encontrarem em ambientes diferentes dos escritórios, criar uma simbiose pessoal que resulta em uma colaboração profissional mais afinada e criativa.
Até mesmo o glamour das banda de rock está chegando ao ambiente de negócios, onde fundadores de projetos revolucionários se tornam pessoas públicas a mercê da admiração ou escrutínio do povo. E assim como uma banda, se os co-fundadores de uma startup não conseguirem trabalhar juntos, chances grandes do projeto não ir para frente. Um estudo da Harvard Business School mostrou que 65% das startups falham por “conflito entre co-fundadores”. Na linguagem do mundo da música, vaidade criativa.
A The Economist foi mais longe na comparação entre bandas de rock e negócios, e analisou alguns casos do mundo da música e trouxe quatro modelos de gestão de negócios de sucesso, para gerenciamento de uma empresa (ou banda de rock).
Gestão amiga
Juntar amigos, criar uma banda de sucesso e viajar o mundo com sua música não é um conceito necessariamente novo. Porém os desbravadores da ideia foram os Beatles nos anos 1960, que criaram o conceito de uma banda “sem líderes”. Apesar de John Lennon e Paul McCartney escreverem e cantarem grande parte das músicas, os quatros podiam e de fato contribuíam para o trabalho da banda, ao ponto que em 1969, McCartney declarou que os quatro eram “na verdade, a mesma pessoa”.
A mistura de amizade e trabalho já foi objeto de diversas pesquisas, quase todas apontando os benefícios deste tipo de parceria. Trabalhar com amigos torna o ambiente mais leve e prazeroso, além de deixar o funcionário mais aberto a críticas. Porém a carga emocional do emprego é maior. Dessa maneira, a relação de trabalho-amizade pode ser extremamente satisfatória quando os negócios estão indo bem, mas se tornar infernal na menor das adversidades. A trajetória dos Beatles é um ótimo exemplo disso, com crescimento meteórico e um fim após apenas 7 anos de trabalho de estúdio.
Gestão autocrática
Formanda em 1976, a banda Tom Petty and the Heartbreakers se mudou para Los Angeles em busca de sucesso. Dois anos depois a banda havia lançado dois discos, e diferente do que o nome do grupo sugeria, todos ali recebiam de maneira igual, mesmo que Petty fosse o líder criativo e face da banda. Porém a chegada de um novo gerente e uma conversa com Petty mudou a relação entre os membros. Veterano da indústria, Elliot Roberts começou a gerir o grupo e sua primeira decisão foi uma conversa com seu líder, onde explicou os porquês da atual divisão de dinheiro e funções não funcionar, e que no longo prazo Petty iria se sentir usado pelo resto da banda.
A partir daquele momento, Tom Petty se tornou verdadeiramente o “dono” da banda, medida que causou fúria dos outros membros. Porém mais de 40 anos depois da mudança, o Tom Petty and the Heartbreakers continua unido e realizando shows, enquanto tantas outras bandas padeceram em vaidades. Muitas vezes, é preciso de um líder que defina sem rodeios a direção a tomar. Em tempos onde estruturas horizontais estão na moda, os métodos antigos podem se mostrar mais longevos.
Gestão democrática
O R.E.M foi formado na cidade Athens no estado americano da Georgia. Por uma ironia do destino, o agente da banda Bertis Downs, definia o processo de escolha e decisão do grupo como uma “democracia ateniense”. Assim como o modelo clássico de democracia da antiga pólis, todos no grupo tinham a mesma voz, e todas as decisões precisavam ser consensuais. O mesmo valia para decisões de cunho econômico, com os membros recebendo a mesma porcentagem de royalties das músicas, independente de quem a escreveu.
O caso porém, é raro no mundo da música por uma simples razão: ego. Em ambientes compartilhados, é comum que membros do grupo acreditem que outros não trabalham tanto ou não são talentosos como os outros, provocando sentimento de injustiça. Para casos de democracia darem certo, é preciso que todos os membros da banda (ou empresa) tenham em mente sempre o bem estar do todo, e que tenham o mesmo objetivo em mente.
Gestão amigos/inimigos
Dizer que os Rolling Stones são hoje, a maior banda viva e ativa da história não é nenhum exagero. Iniciada na década de 1960, continuam firmes e fortes até hoje, realizando shows ao redor do planeta. Porém ao longo dos anos de carreira aconteceram diversos atritos, principalmente entre as personalidades antagônicas de Mick Jagger e Charlie Watts. Porém o sentimento de que sozinhos não conseguiriam realizar o que faziam juntos falou mais alto, e a banda continua firme e forte e mais importante, ganhando dinheiro. Todos no grupo tem função clara e definida para não sofrer interferência desnecessária e assim continuam juntos.