18/02/2019 - 10:45
Sete deputados do Partido Trabalhista britânico anunciaram nesta segunda-feira a saída da principal força de oposição no Reino Unido, por suas divergências com a gestão na questão do Brexit e pelas reiteradas acusações de comportamentos antissemitas.
“Esta foi uma decisão muito difícil, dolorosa, mas necessária”, afirmou uma das deputadas, Luciana Berger, em uma entrevista coletiva em Londres.
No grupo também está o deputado rebelde Chuka Umunna, que lidera a campanha a favor de um segundo referendo para impedir o Brexit e que já chegou a ser considerado um possível líder do partido.
“A conclusão final é esta: a política está quebrada, mas não deve ser assim, vamos mudá-la”, disse Umunna, que anunciou a formação de um novo bloco parlamentar.
Muitos eleitores trabalhistas, em particular no norte da Inglaterra, votaram a favor da saída da União Europeia no referendo de 2016.
Mas a maioria de seus deputados e dos membros do partido, especialmente os mais jovens, são favoráveis à permanência no bloco, o que provoca uma grande tensão interna, como também acontece no governista Partido Conservador.
Outro deputado, Mike Gapes, afirmou estar “furioso” com o que considera cumplicidade da direção trabalhista “facilitando o Brexit”, enquanto Chris Leslie disse que abandona o partido devido à “traição do trabalhismo a Europa”.
“O partido ao qual nos unimos já não é o mesmo, foi sequestrado pela extrema-esquerda”, denunciou Leslie.
A principal força política de oposição no Reino Unido também enfrenta há vários meses acusações de “delitos de ódio antissemita” que resultaram na abertura de uma investigação policial em novembro.
Berger usou palavras muito duras para denunciar que o Partido Trabalhista se tornou “institucionalmente antissemita”.
“Agora me dá vergonha representar o Partido Trabalhista”, declarou.
“Estou deixando para trás uma cultura de assédio, intolerância e intimidação”, completou Berger.
– “Deterioração de nossos valores” –
Após sua eleição como líder do partido em setembro de 2015, seu líder Jeremy Corbyn, defensor da causa palestina, foi tachado de antissemita. Para encerrar um escândalo que não parava de crescer, a direção suspendeu vários integrantes e forçou a renúncia deles por declarações antissemitas.
Corbyn, representante da ala mais à esquerda do partido, continua sendo acusado, no entanto, de não atuar com o rigor necessário ante os comentários antissemitas.
As acusações de antissemitismo já haviam provocado a renúncia do deputado Frank Fiel, que rasgou no fim do verão a carteira do partido e acusou a direção de “não fazer nada diante da deterioração de nossos valores fundamentais”.
Os deputados demissionários, que pediram aos que concordam com eles para que sigam o exemplo e unam-se ao novo grupo, também expressaram o desacordo com a decisão de Corbyn de não respaldar o pedido de convocação de um segundo referendo.
Embora as renúncias não mudem fundamentalmente a relação de forças na Câmara dos Comuns, onde Theresa May tem maioria frágil, enfraquecem o Partido Trabalhista no momento em que a direção tenta aproveitar eleitoralmente as dificuldades da primeira-ministra conservadora para aprovar seu acordo de saída da UE.
“Estou decepcionado que estes deputados sintam-se incapazes de seguir trabalhando nas políticas trabalhistas que inspiraram milhões de pessoas nas últimas eleições e que viram o aumento da nossa votação na maior proporção desde 1945”, reagiu Corbyn em um comunicado.
“O governo conservador está estragando o Brexit, enquanto o Partido Trabalhista estabeleceu um plano alternativo unificador e confiável”, completou o líder do partido, que recentemente propôs a May dar seu apoio se ela optasse por um Brexit que permita a permanência do país na união alfandegária europeia. A primeira-ministra é contra esta possibilidade.