A Praça do Ciclista, em São Paulo, deixará de ser somente um espaço simbólico para reunião de cicloativistas. Uma reforma a partir de março vai trazer paraciclos, bomba de ar fixa e caixa de ferramentas básicas de manutenção ao espaço localizado em um cartão-postal de São Paulo, no cruzamento da Avenida Paulista com a Rua da Consolação, na área centrald a capital.

O projeto está em fase de análise técnica pela gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), que ainda precisa aprová-lo. No fim de janeiro, a Prefeitura Regional da Sé solicitou novas informações técnicas aos proponentes do projeto para anexar ao documento. Até esta terça-feira, 19, diz a Prefeitura, o material não havia sido entregue.

Caso seja aceito o projeto, a entrega da nova praça está prevista para junho de 2019. Após um mês de consulta pública no fim do ano passado, que rendeu mais de 300 sugestões, a proposta foi apresentada à Prefeitura de São Paulo na semana do aniversário da cidade, que ocorreu no dia 25 de janeiro.

A revitalização e manutenção da praça por três anos é uma parceria da Prefeitura Regional da Sé com empresas. A área, somada aos canteiros e ao entorno, tem 1,6 mil metros quadrados.

Em 17 de outubro de 2007, a Praça do Ciclista foi oficializada por lei com o nome atual. O local é ponto de encontro de manifestações políticas e atos de ciclistas. Na praça, funciona ainda a Horta do Ciclista (do Grupo de União de Hortas Comunitárias de São Paulo). Além de mantida e revitalizada, a horta terá cultivo de plantas alimentícias não convencionais (PANCs).

A promessa é de uma praça muito mais clara, com novas luminárias nas árvores. Nos três círculos da praça, três grandes estruturas de LED vão fazer as vezes de luminárias gigantes. Também receberão iluminação as floreiras – outra novidade para o espaço -, que ficarão nos guarda corpos onde se pratica slackline aos domingos, atividade que não deve ser interrompida durante a reforma.

Usuários do transporte público, moradores e trabalhadores da região, além dos passantes, terão também mais conforto na praça. O espaço vai ganhar um banco circular na mureta do canteiro central, onde algumas pessoas já sentam. A reportagem teve acesso ao projeto da nova Praça do Ciclista, que prevê ainda bebedouro, Wi-Fi e tomadas, além de uma nova iluminação.

A instalação de bebedouro e de nova iluminação dependem, porém, de obras, o que poderá causar bloqueios na região. Questionada, a Prefeitura não respondeu se obras para instalação dos pontos de luz e água serão feitas.

“Cabe destacar que todos os projetos que demandam a implantação dos serviços das concessionárias, no caso Enel e Sabesp, têm os custos arcados pelos cooperantes”, explicou em nota a Secretaria Municipal das Prefeituras Regionais.

A iniciativa é fruto de um termo de cooperação, firmado no ano passado entre Prefeitura Regional da Sé e empresas interessadas, para serviços de limpeza e manutenção da praça, sem custo para a gestão municipal.

“As pessoas pediram muita segurança, limpeza, lugar para sentar, iluminação e melhorias na hora e no verde que tem no lugar”, explica Guto Requena, arquiteto responsável pelo projeto. Segundo ele, praticamente só um pedido não pôde ser atendido: banheiro público.

O arquiteto diz ter ficado impressionado com a quantidade de pessoas que sugerem a instalação da estrutura. “É impossível ter banheiro público lá porque tem dois grandes buracos ali e a praça fica acima do túnel por onde passam carros. Não foi possível”, diz Requena.

Homenagem

O projeto prevê também um “jardim musical dos ciclistas”. A ideia, segundo o arquiteto, é criar uma experiência interativa, totalmente virtual, para prestar homenagem aos ciclistas que morreram no trânsito em São Paulo.

Uma obra de arte urbana interativa de Realidade Aumentada fará parte do projeto. Criada por Guto Requena e intitulada “jardim musical dos ciclistas”, a obra serve como um memorial que presta homenagem aos ciclistas que morreram no trânsito em São Paulo.

Por meio do recurso de Realidade Aumentada, o visitante poderá com seu próprio celular, ao direcionar sua câmera para as floreiras, visualizar borboletas virtuais que voam e carregam o nome das vítimas. Ao se clicar nelas será possível ouvir a música favorita daquele ciclista, uma homenagem a ele.

Como já acontece com as Ghost Bikes espalhadas por toda cidade, a obra “jardim musical dos ciclistas” pretende dar luz às mortes de ciclistas no trânsito, e também pressionar o poder público para que se tomem mais medidas de segurança, evitando novas tragédias.

Horta e paisagismo

Hoje no canteiro central, o verde da horta será expandido para as duas grandes aberturas que revelam o túnel, onde serão acopladas as floreiras. O projeto prevê que nelas sejam colocadas plantas que atraem agentes polinizadores como abelhas, pássaros e borboletas.

“O paisagismo é o ponto central. Teremos cinco vezes mais verde do que a praça tem hoje”, diz Requena. “A Praça do Ciclista é uma vitrine. Ser ciclista em São Paulo é um ato de resistência, ter horta em uma cidade do tamanho de São Paulo é um ato de resistência. Está tendo uma movimentação das grandes cidades que é nos voltarmos para dentro. O projeto é uma forma de dizer que podemos, sim, criar lugares de empatia com a cidade, lugares onde podemos só estar, só sentar.”

A ação de recuperação da área é uma parceria da Prefeitura com a Sense Bike, fabricante de bicicletas, e a Eureka Coworking, um estúdio situado em frente à praça. Elas serão responsáveis pela manutenção, limpeza, conservação de áreas verdes e zeladoria da praça durante o prazo de 36 meses, contados a partir da data de vigência, no valor de R$ 500 mensais.

Além das sugestões absorvidas por consulta pública, o projeto foi desenvolvido também após encontros com frequentadores e grupos que já participam ativamente do local, como Cheguei de Bike, Instituto Ciclo BR e Instituto Moreira Sales (IMS).