08/03/2019 - 14:52
Você já provou o cabernet franc da Marina? E foi assim, à procura do vinho sensação da feira Naturebas, algumas edições atrás, que conheci a enóloga brasileira Marina Santos, da Vinha Unna. Enfrentei a fila de consumidores que queriam degustar este vinho, até conseguir uma dose do cabernet franc. No primeiro gole, já me surpreendi. É um cabernet franc diferente, digamos assim, mais leve, na cor e no corpo, de aromas muito limpos, uma nota de especiaria, persistente, único. Merecia toda a fama que conquistou naquele evento e nos seguintes. Foi batizado de As Baccantes, com um rótulo lindo (e feminino), de mulheres e vinho, desenhado pela própria Marina.
Foi na edição de 2014 da Naturebas, alias, que os vinhos da Marina chegaram ao mercado. Ela decidiu participar da feira para mostrar seus vinhos, de pequeníssima produção, quando este evento, que reúne produtores orgânicos, biodinâmicos e naturais ainda acontecia na também pequenina Enoteca Saint Vin Saint, em São Paulo (a próxima edição do Naturebas será no último final de semana de junho, na Casa das Caldeiras). O seu projeto de cultivo biodinâmico tinha começado em 2009, na zona rural de Pinto Bandeira, um dos municípios da Serra Gaúcha, e Marina queria opiniões sobre seus vinhos. Nem tinha calculado o preço para as garrafas que levou na mala, o que precisou definir na hora, tamanha a demanda dos presentes para comprar seus vinhos. Vendeu tudo.
De lá para cá, a produção de Marina continuou pequena (são 1,5 hectare de vinhas próprias e mais 1 hectare arrendado), mas a voz da enóloga cresceu. Ela é uma das principais defensoras do cultivo biodinâmico no Brasil e acredita que não é preciso usar produtos químicos mesmo em vinhedos com muita umidade, como os gaúchos. Ela estuda e segue a filosofia de Rudolf Stein, dos preparados biodinâmicos para o cultivo agrícola. E encontrou, nesta prática, um caminho para as questões que a incomodavam desde o tempo da faculdade quando, para passar de ano, tinha de saber como elaborar brancos e tintos de maneira convencional, com leveduras selecionadas, sem espaço para as experiências não tão ortodoxas.
A prática biodinâmica não vale apenas para os seus vinhos. Além dos vinhedos, ela tem com o marido Israel Dedéa um pequeno bistrô, o Champenoise, que só trabalha com produtos cultivados sem agrotóxicos, em Pinto Bandeira, e prima pela qualidade do cardápio.
As mulheres e o vinho
Durante todo o mês de março posto aqui as mais diversas histórias de mulheres no mundo do vinho. Em 2018 foram 23 textos de personalidades e épocas diferentes e em 2019 continuo a tradição. Adorei pesquisar e conhecer mais sobre estas pessoas e seus desafios. Confira, a seguir, quais foram estas mulheres.
2019
2018
– Barbe-Nicole Clicquot, mais conhecida como a Veuve Clicquot
– Jancis Robinson, a inglesa mais influente do mundo do vinho com o seu www.jancisrobinson.com
– Lalou Bize-Leroy, a polêmica e competentíssima produtora da Borgonha
– Serena Sutcliffe e os leilões de vinho
– Maria Luz Marín, a chilena pioneira no vale de San Antonio, no Chile.
– Natasha Bozs, uma das primeiras enólogas negras da África do Sul, da Nederburg
– Elena Walch, a arquiteta que virou enóloga e hoje tem sua própria vinícola no Alto Adige
– Véronique Drouhin-Boss, a francesa da quarta geração da domaine Drouhi
– As associações de mulheres e vinhos já existem em 10 regiões francesas
– Lorenza Sebasti, proprietária da vinícola italiana Castello di Ama
– A portuguesa Filipa Pato, dos vinhos da Bairrada
– Lis Cereja, a brasileira que mais e melhor levanta a bandeira do vinho natural no Brasil
– Féminalise, um concurso de vinhos francês que só tem juradas
– Albiera Antinori, a primeira mulher a dirigir a tradicional vinícola italiana
– Susana Balbo, a pioneira nos vinhos argentinos
– Cecília Torres, a primeira mulher nos vinhos chilenos com o Casa Real
– Ludivine Griveau, que dirige os vinhos do Hospice de Beaune, na Borgonha
– A dupla de amigas e enólogas portuguesas Sandra Tavares e Susana Esteban
– Patricia Atkinson, e a sua aventura de elaborar vinhos franceses